hollywood

Atores em greve estão fazendo renda extra no Cameo, um aplicativo de vídeos sob encomenda

De acordo com dados do app, houve um aumento de 137% no número de contas reativadas ou criadas em julho em relação a junho

Alyssa Milano e Christa B. Allen interagem com os fãs na plataforma Cameo - Reprodução

Em 24 de julho, Cheyenne Jackson, um ator, postou uma foto no Instagram que o mostrava sem camisa, com um abdômen brilhante, braços cheios de veias e lábios entreabertos. "Sou eu sutilmente informando que estou de volta ao @cameo", dizia a legenda.

Cameo é um serviço através do qual celebridades e outros podem ser pagos para fazer vídeos personalizados comemorando aniversários, despedidas de solteiro, divórcios e afins. Jackson, que apareceu nos programas de TV "American Horror Story" e em "30 Rock", disse em uma entrevista por telefone que reativou sua conta por causa da greve contínua do SAG-AFTRA, o sindicato dos atores.

Jackson, 48 anos, cobra US$ 95 por uma mensagem de vídeo e cita as contas — "tenho dois filhos" —como uma das razões pelas quais ele está no Cameo.

"Existem tantas fontes de renda..." disse Jackson. "Meu marido se constrangeu um pouco. Mas você tem que fazer o que tem que fazer. São fontes de renda ."

Desde que o Cameo surgiu, em 2016, alguns atores o usaram quando os trabalhos tradicionais minguaram. Em 2021, com o agravamento da pandemia, o ator Andrew Rannells virou adepto do aplicativo para arrecadar dinheiro para o Entertainment Community Fund, uma organização sem fins lucrativos antes conhecida como Actors Fund. Em um episódio recente de "And just like that…", espécie de continuação de "Sex and the city", a personagem Che Diaz, interpretada por Sara Ramirez, começa a fazer vídeos no Cameo depois que um episódio piloto de TV é cancelado.

De acordo com dados fornecidos pela Cameo, houve um aumento de 137% no número de contas reativadas ou criadas na Cameo em julho em relação a junho (a greve começou em 14 de julho). O número de pedidos de vídeos permaneceu praticamente o mesmo para cada mês, mas a Cameo afirma que os pedidos geralmente caem em julho porque não há eventos como formaturas e feriados como o Dia dos Pais.

Algumas das contas novas e reativadas eram para pessoas não afetadas pela greve, mas outras eram para sindicalistas como Jackson e Alyssa Milano. Fran Drescher, presidente do SAG-AFTRA, também reativou sua conta, de acordo com Cameo, embora não esteja aceitando reservas no momento.

Milano, de 50 anos, cobra US$ 250 por uma mensagem de vídeo. Por e-mail, ela diz que o Cameo "é uma ótima maneira de complementar alguma renda durante esse tempo ocioso". Os representantes de Drescher disseram que ela não estava disponível para dar entrevista.

Enquanto o sindicato dos atores está em greve, seus afiliados estão proibidos de filmar a maioria dos projetos e de promover a maioria das estreias de filmes, festivais de cinema e eventos como a Comic-Con. Mas fazer vídeos no Cameo, na maioria das vezes, é permitido, disse Sue-Anne Morrow, diretora nacional de iniciativas estratégicas de contrato e podcasts da SAG-AFTRA.

"Desde que não haja promoção de greves dentro do Cameo, não há problema" disse Morrow por e-mail.

Em maio, na época em que os sindicatos de roteiristas de cinema e televisão entraram em greve, o sindicato dos atores finalizou um acordo com a Cameo que permite que seus membros tenham ganhos de certas reservas aplicados ao requisito de salário mínimo do seguro de saúde, disse Morrow. Essas reservas devem ser feitas por meio do Cameo 4 Business, onde clientes corporativos, como seguradoras e redes de supermercados, contratam talentos para vídeos promocionais.

Morrow disse que o sindicato buscou o acordo porque Cameo é uma das muitas maneiras pelas quais os atores podem se sustentar quando não estão atuando.

O preço médio de uma reserva da Cameo 4 Business é de US$ 1.700, disse Steven Galanis, fundador da Cameo e seu principal executivo. Reservas não comerciais – os tipos de vídeos pelos quais o Cameo é mais conhecido – custam em média US$ 70. A Cameo recebe 25% da taxa por qualquer reserva e o restante vai para o artista.

Galanis comparou a oportunidade criada pela greve para Cameo com o período do início da pandemia, quando, como ele disse, "todas as outras receitas meio que secaram" para atores e outros artistas.

"Espero que a greve termine amanhã. Mas se não acabar, estaremos aqui" disse.

Em 18 de julho, dias após a greve do sindicato dos atores, a Cameo anunciou uma rodada de demissões, que aconteceu pouco mais de um ano depois que a empresa demitiu 87 trabalhadores em maio de 2022. Galanis se recusou a comentar o número de pessoas afetadas pelas recentes demissões ou sobre o número de pessoas que agora trabalham na Cameo.

Alguns atores que começaram a reutilizar o serviço desde a greve disseram que ganhar dinheiro não foi o único motivo pelo qual voltaram a ele. Christa B. Allen, que participou do programa de TV "Revenge" e do filme "13 Going on 30", disse que o Cameo oferece uma oportunidade de se envolver com o público em um momento em que ela faz menos aparições públicas.

"Não somos nada sem nossos fãs. O Cameo permite que os atores se conectem com as pessoas que os amam e apoiaram suas carreiras em uma época em que não estavam na mídia tradicional" ela afirma.

Allen, de 31 anos, que usa o nome artístico de Christa Belle, reativou sua conta Cameo durante a greve depois de usá-la esporadicamente desde 2017. Ela cobra US$ 75 por reserva e disse que ganhou cerca de US$ 1.000 até o momento.

"O Cameo não é algo que eu considero uma forma de ganhar dinheiro" ela conclui.