Neofobia alimentar

Criança se assusta com abacaxi e viraliza: O que tem por trás desse medo? Especialista explica

A fonte do pavor relacionado a certos objetos está fortemente ligada ao mundo imaginário criado pelas crianças

Uma criança com aparente medo de abacaxi - Ed Machado/Folha de Pernambuco

Uma criança com aparente medo de abacaxi colocado em sua frente viralizou entre milhares de internautas do X (antigo Twitter). A postagem, feita pelo irmão mais velho de Jorge Lucas Silva, que tem 1 ano de idade, descreve a situação inusitada na qual a mãe utiliza a fruta espinhosa como barreira entre ela e a cozinha para acalma-lo.

O baiano Pedro Silva, de 17 anos, compartilhou a imagem registrada no momento do susta na sua rede social porque o irmão mais novo costuma ser muito interativo e agitado. Ao GLOBO, ele conta como se deu:

— Minha mãe abriu o saco de compras e ele ficou intrigado no início, mas depois se afastou. Ele não quis ter contato nenhum com a fruta. Hoje testamos de novo e ele continua com esse medo de abacaxi — conta.

Mas o que tem por trás desse estranhamento?
A resposta neofobia alimentar infantil se apresenta como uma das alternativas. Essa fobia se traduz em um medo de estar perto, tocar ou até mesmo ingerir determinado alimento. Pode ser iniciado por diversos fatores, geralmente desencadeado por um trauma relacionado à comida específica.

Criança com medo de abacaxi | Foto: Reprodução

 

Mas também pode ser entendido como consequência da imaginação fértil presente principalmente na primeira infância. Os medos, que não devem ser chamados de irracionais, são fruto do chamado campo imaginário criado pelo cérebro ainda em desenvolvimento.

A psicóloga clínica Laura Cristina de Toledo Quadros, professora na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) explica que nessa fase a criança tende a expandir o que conhece e estranhar objetos, considerados pela sua percepção como incomuns ou estranhos.

— Essa experiência não é uma experiência tão comum, quanto medo de fantasma ou de ladrão. De coisas do cotidiano. Mas a criança trabalha muito no campo da imaginação, esses medos irreais são produzidos pelo que ela projeta naquele objeto. No caso do abacaxi, é uma fruta espinhosa, ela tem um aspecto que pode ser mais esquisito ou até assustador — elucida a especialista.

Como evitar que isso se desenvolva no futuro?
Laura recomenda que seja feita uma abordagem de maior aproximação dos pequenos com o mundo. Se ela se assusta de primeira, provavelmente está relacionado a ela nunca ter visto o objeto ou alimento anteriormente. Mas adquirindo experiências aos poucos, esses medos tendem a diminuir.

— É importante ir colocando a criança em situações da realidade pelo menos até em torno dos cinco anos de idade, que é quando as relações começam a se expandir, então ela tem maior acesso ao mundo — orienta.