Projeto Worldcoin

Empresa paga US$ 49 para rastrear íris no Quênia, provoca filas de três dias e será investigada

Projeto Worldcoin, idealizado pelo CEO da companhia que criou o ChatGPT, quer criar identidade digital global, a partir da 'foto do olho'. Governo suspendeu serviço

Projeto Worldcoin - Divulgação

O polêmico projeto Worldcoin, que faz uma "fotografia" da íris de cidadãos ao redor do mundo para criar uma identidade digital global, levou parte da população do Quênia a esperar por até três dias na fila para se cadastrar no serviço. Isso porque essas pessoas receberiam US$ 49 pelo escaneamento de sua íris. A confusão foi tamanha que o governo decidiu suspender o projeto no país e investigar eventuais riscos à privacidade dos quenianos.

O idealizador do Worldcoin é Sam Altman, CEO da OpenAI, empresa que criou o ChatGPT, ferramenta de inteligência artificial que vem se tornando cada vez mais popular. Ele alega que a identidade digital global, batizada por WorldID, será necessária para que as pessoas provem que elas são seres humanos reais e não robôs de inteligência artificial, num mundo em que os chatbots se multiplicam.

Em paralelo, o projeto contempla um novo token, chamado Worldcoin, que é usado para remunerar as pessoas que liberam acesso a sua íris. A ideia é que essa criptomoeda também se torne uma divisa global, que se possa fazer operações com ela em vários países. Nesta sexta-feira, ela vale cerca de US$ 2.

A empresa por trás do projeto é a Tools for Humanity, com sede em São Francisco e Berlim e que tem Altman entre seus fundadores. Ela desenvolve a tecnologia usada no projeto, como o dispositivo usado para escanear a íris das pessoas e que se assemelha a uma esfera prateada, chamado de Orbe.

O projeto está cadastrando inclusive brasileiros, que recebem o token ao aderirem ao sistema. No Quênia, porém, alguns cidadãos receberam 7.000 xelins (o equivalente a US$ 49), segundo a agência local Citizen Media. A forte adesão levou o governo a suspender o projeto.

“O governo suspendeu imediatamente as atividades da Worldcoin e de qualquer outra entidade que possa envolver o povo do Quênia de maneira semelhante até que as agências públicas relevantes certifiquem a ausência de riscos para o público em geral”, disse o ministro do Interior, Kithure Kindiki, em comunicado na quarta-feira.

Ele disse ainda que "as agências relevantes de segurança, serviços financeiros e proteção de dados iniciaram inquéritos e investigações para estabelecer a autenticidade e a legalidade das atividades mencionadas".

No mesmo dia a Worldcoin divulgou comunicado, dizendo que o serviço seria temporariamente interrompido “com muita cautela e em um esforço para diminuir o volume de pessoas". “Durante a interrupção do serviço, a equipe desenvolverá um programa de integração que abrange medidas mais robustas de controle de multidões e trabalhará com as autoridades locais para aumentar a compreensão das medidas e compromissos de privacidade", completou a nota.

Até agora, em todo o mundo, mais de 2 milhões de pessoas se inscreveram para obter uma World ID em mais de 30 países.

A Autoridade de Mercados de Capitais do Quênia informou que os produtos da Worldcoin não são regulamentados no país e aconselhou as pessoas a serem “cuidadosas com possíveis esquemas fraudulentos que podem surgir no mercado de balcão de tokens.”

O projeto também está sob escrutínio na Grã-Bretanha, Alemanha e França.