Rio de Janeiro

"Foi abordado já a tiros", diz tio de adolescente morto em ação da PM na Cidade de Deus

Hamilton Bezerra Flausino afirma que agentes não deram ordem de parada para o sobrinho, que estava de moto

Thiago Menezes Flausino, de 13 anos - Reprodução

A família do adolescente Thiago Menezes Flausino, de 13 anos, morto na madrugada desta segunda-feira durante uma ação da Polícia Militar, na Cidade de Deus, Zona Oeste do Rio, esteve no Instituto Médico-Legal (IML) na manhã desta segunda-feira, para refazer o reconhecimento do corpo.

Testemunhas e parentes relataram que a movimentação policial na comunidade começou por volta de meia-noite e, de acordo com Hamilton Bezerra Flausino, tio do garoto, não havia troca de tiros.

Hamilton afirmou que o adolescente andava de moto com um amigo quando foi baleado pelos policiais.

— Já era um pouco tarde, meia-noite e um pouquinho. Thiaguinho estava passeando de moto com um amigo, saindo da Cidade de Deus, quando foi abordado já a tiros. Não teve blitz, era uma daquelas abordagens que o policial faz a tiro. Com isso, um tiro pegou na perna, e o Thiaguinho caiu.

A mãe do adolescente, Priscila Menezes, lembrou a maneira carinhosa com que o filho a tratava:

— Uma criança, 13 anos, tinha um futuro pela frente e sonhava em ser jogador de futebol. Falava que ia me ajudar em casa. Agora nada mais vai trazê-lo de volta.

Ela contou que soube da morte de Thiago por meio de um grupo de moradores da Cidade de Deus num aplicativo de mensagens. E negou o envolvimento do adolescente com crimes.

— Eu vi no vídeo que era meu filho caído no chão. Uma criança indefesa, magra, que não oferecia perigo para ninguém. Ele não estava armado. Não era traficante. Era uma criança que gostava só de curtir e jogar bola — afirmou Priscila.

Segundo a família, o adolescente era um menino esperto, cheio de sonhos e com um futuro brilhante.

— Ele levantava sozinho para ir à escola. Durante a semana, eram treino e torneio. Gostava de ir para a igreja. A gente está aqui com a mãe e a avó. A ficha ainda não caiu — lamentou o tio de Thiago.

Armas de PMs foram apreendidas
A Delegacia de Homicídios da Capital (DHC), responsável pela investigação da morte de Thiago, já apreendeu as armas dos PMs envolvidos na ação. Elas serão periciadas. Uma perícia foi realizada no local onde o adolescente foi baleado. De acordo com a DHC, diligências estão em andamento para esclarecer o caso.

Os agentes que estavam na Cidade de Deus não usavam câmeras em suas fardas, o que dificulta a esclarecer as circunstâncias da morte de Thiago. Em nota, a PM afirmou que "está em fase de elaboração uma resolução conjunta com a Secretaria de Estado de Polícia Civil que vai regulamentar o uso das câmeras corporais pelas forças especiais. Cabe informar que o cronograma de implantação foi enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF) e será respeitado conforme determinado pela Corte".

O que diz a PM
De acordo com a Polícia Militar, as equipes do BPChq faziam um policiamento nas imediações da Cidade de Deus. Os agentes envolvidos na ocorrência informaram que dois homens numa motocicleta atiraram contra os PMs na esquina da Estrada Marechal Miguel Salazar com Rua Geremias. Os policiais reagiram e houve confronto.

Após a troca de tiros, o adolescente foi encontrado atingido. Ainda segundo a versão dos PMs, uma pistola calibre 9mm foi apreendida no local. A área onde estava o corpo do menino foi isolada para a realização da perícia. A corporação instaurou um procedimento para apurar as circunstâncias em que Thiago morreu e afirmou que "colabora integralmente com as investigações da Polícia Civil".