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Banco Central confirma cortes de meio ponto da Selic nas próximas reuniões

Ata do Copom explica divergência entre os diretores, que se dividiram em 5 a 4 pela redução dos juros

Reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central do Brasil - Raphael Ribeiro/BCB

O Banco Central divulgou nesta terça-feira (7) a Ata a última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que na semana passada decidiu pela redução da taxa básica de juros de 13,75% para 13,25%.

Em um dos trechos do comunicado, o Copom confirmou que seguirá cortando os juros em meio ponto nas próximas reuniões, mas salientou que é "pouco provável" uma aceleração dos cortes. Com isso, ele contém as expectativas que havia por alguns economistas de que o ritmo fosse acelerado para 0,75 ponto percentual.

"O Comitê julga como pouco provável uma intensificação adicional do ritmo de ajustes, já que isso exigiria surpresas positivas substanciais que elevassem ainda mais a confiança na dinâmica desinflacionária prospectiva."

Entenda a divergência entre os diretores
A decisão na última quarta-feira foi dividida, por 5 a 4. Segundo a Ata, o grupo que apostou no corte de meio ponto argumentou que a inflação caiu fortemente nos últimos meses. Já o grupo de quatro diretores, que votou pelo corte de 0,25%, deu mais ênfase às expectativa de inflação, que caíram menos, e à inflação de serviços, que permanece mais alta.

"Alguns membros deram mais ênfase à dinâmica recente, enquanto outros enfatizaram que os fundamentos subjacentes para a dinâmica da inflação de serviços ainda não permitem extrapolar com convicção o comportamento benigno recente."

O grupo de quatro diretores, que votou pelo corte de 0,25%, também pontuou que o BC havia sinalizado quedas "parcimoniosas" da taxa de juros:

"Um grupo defendeu uma redução da taxa de juros mais parcimoniosa. Para esse grupo, a própria sinalização do Comitê já enfatizava a cautela e a parcimônia em tal conjuntura e, na opinião desses membros, não se observaram alterações relevantes no cenário ou projeções do Comitê que justificassem uma reavaliação dessa sinalização.", disse o comunicado.

O grupo de cinco diretores que votou pela queda de meio ponto, incluindo o presidente Roberto Campos Neto e o diretor Gabriel Galípolo, indicado por Lula, pontuou a importância da manutenção da meta de inflação em 3% para o ano de 2026. Para esse grupo, era possível iniciar os cortes em ritmo "moderado".

"Outro grupo considerou que a postura de política monetária em patamar significativamente contracionista permite um início do ciclo já no ritmo moderado considerado para as próximas reuniões, sem detrimento do comprometimento com a meta e a credibilidade da política monetária. Esse grupo enfatizou alguns desenvolvimentos desde a última reunião, como a dinâmica recente de inflação mais benigna do que era esperado, a reancoragem parcial relativamente célere após a definição da meta pelo CMN e a adequação de recalibrar a taxa de juros real em função dos movimentos nas expectativas de inflação.

O colegiado é formado por oito diretores e o presidente da instituição.O anúncio do Banco Central de redução da Selic em 0,5 ponto percentual teve como voto de minerva Roberto Campos Neto, chefe da autarquia. Tradicionalmente o 9º e último voto é do presidente.

Arcabouço fiscal
Um dos trechos da Atas explica também comenta a aprovação do arcabouço fiscal. Essa havia sido uma das críticas ao comunicado da semana passada, porque o Banco Central retirou do texto o risco fiscal para o combate à inflação. Segundo o Copom, os membros que votaram pela queda menor, de 0,25 ponto, pontuaram que existem incertezas sobre a superação dos "desafios fiscais" e isso deve contribuir para a queda menor das expectativas de inflação.

"Alguns membros avaliaram que persiste alguma incerteza entre os agentes sobre a superação dos desafios fiscais, evidenciada nas expectativas de resultado primário que divergem das metas estabelecidas pelo governo, e que isso pode também estar se refletindo em expectativas de inflação desancoradas para prazos mais longos."

Por isso, avaliam que, se o governo conseguir entregar os resultados primários prometidos, com medidas de arrecadação, a queda das expectativas pode ser mais rápida, e isso pode permitir um corte mais rápido dos juros.

"A ancoragem das expectativas em torno das metas previstas no novo arcabouço fiscal, com a manutenção do compromisso fiscal externado, além de uma diminuição das incertezas acerca das medidas tributárias que fundamentam a execução de tal objetivo, contribuiria para um processo desinflacionário mais célere."

Votaram pela redução de 0,50:
O presidente Roberto Campos Neto;

Ailton Aquino (Diretor de Fiscalização);

Carolina Barros (Diretora de Administração);

Gabriel Galípolo (Diretor de Política Monetária);

Otávio Damaso (Diretor de Regulação).

Votaram por uma redução de 0,25:

Diogo Guillen (Diretor de Política Econômica);

Fernanda Guardado (Diretora de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos);

Maurício Moura (Diretor de Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta);

Renato Gomes (Diretor de Organização do Sistema Financeiro e Resolução).

Próximas substituições:

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai substituir a partir de 31 de dezembro dois diretores do Banco Central que votaram na última quarta-feira por uma mudança mais cautelosa na taxa básica de juros.

No dia 31 de dezembro deste ano terminam os mandatos de Fernanda Guardado e Maurício Moura, que votaram pela redução de 0,25 ponto.

Com isso, Lula poderá indicar mais dois nomes para o BC.

O ex-número 2 do Ministério da Fazenda, Gabriel Galípolo, assumiu em julho a diretoria de Política Monetária — área chave para o embasamento técnico da decisão sobre juros.

Já o servidor de carreira Ailton Aquino assumiu a diretoria de Fiscalização.