SAÚDE

Brasileiro é infectado por dois tipos de leishmaniose ao mesmo tempo de forma inédita; entenda

Pesquisadores afirmam que caso de menino de seis anos chama atenção para novos aspectos da doença que avança no país

Mosquito-palha - Divulgação

Pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) publicaram na revista científica International Journal of Infectious Diseases o primeiro caso de uma manifestação concomitante, ou seja, ao mesmo tempo, por dois tipos de leishmaniose, visceral e cutânea. O paciente é um menino de seis anos que foi admitido no hospital da Universidade Federal de Sergipe (UFS).

As leishmanioses são doenças causadas por um grupo de parasitas, que podem se manifestar de diferentes formas. O caso em Sergipe apresentou simultaneamente a forma cutânea não ulcerada, que apresenta sintomas na pele, e a forma visceral, mais grave e responsável pela maioria dos casos que levam à morte.

Após análise das amostras da criança, os pesquisadores constataram que ele estava infectado pelo protozoário Leishmania infantum, causador mais comum da leishmaniose visceral, mas também por outro parasita do gênero Crithidia, de uma espécie ainda não confirmada, que também provocou os sintomas da doença.

“Esses resultados abrem espaço para uma série de novas hipóteses não só sobre o gênero Crithidia, mas sobre a própria leishmaniose. Qual parasita causou a primeira infecção? (...) No momento, temos muito mais perguntas do que respostas, por isso a importância de se estudar as infecções por Crithidia em hospedeiros vertebrados e identificar os possíveis vetores”, diz Sandra Regina Costa Maruyama, professora de Genética Evolutiva e Biologia Molecular (PPGGEv) da UFSCar e coordenadora do estudo, em comunicado.

Para os responsáveis, o trabalho chama atenção para novos aspectos de uma doença que avança por todo o país. Embora seja endêmica em quase oitenta nações, quatro concentram sozinhas mais da metade dos casos de leishmaniose visceral: Sudão, Quênia, Brasil e Índia, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

O cenário preocupa porque, quando não tratada, a doença é fatal em 95% dos casos – e tem uma alta letalidade mesmo com os devidos medicamentos. Não existem vacinas para impedir a infecção, transmitida por meio do flebótomo, conhecido como mosquito palha.

Entre os sintomas clássicos estão febre, aumento do baço e do fígado e diminuição de todos os tipos de células sanguíneas (pancitopenia). O paciente de Sergipe, acompanhado de 2016 a 2020 na unidade hospitalar, teve uma série de recidivas de leishmaniose visceral resistentes aos medicamentos, além de complicações que levaram a uma remoção do baço.