Reuniões divergentes do Banco Central não chegaram a 15% dos encontros do Copom
Banco Central divulga a Ata do Copom nesta terça-feira e deve dar novos sinais sobre a condução dos juros
O Banco Central divulgou, nesta terça-feira (8), a Ata da última reunião do Copom, que teve como destaque não só o corte dos juros, mas também o resultado da votação: cinco votos a quatro a favor da redução de meio ponto percentual.
Foi a primeira vez em que a divergência chegou ao limite, com a decisão sendo feita pelo voto do presidente da instituição.
Segundo levantamento feito pelos economistas Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central, e Luca Mercadante, ambos da Rio Bravo Investimentos, a divergência de votos está longe de ser o habitual na decisão dos juros.
Eles analisaram 183 reuniões do BC, entre 2002 e 2023, e os votos divergentes aconteceram em apenas 14,2% delas.
"Em 183 reuniões ocorridas nas últimas duas décadas houve voto divergente em 26 ocasiões, 14,2% do total, das quais 22 possuem motivos conhecidos. A divergência geralmente se observa em 2 ou 3 votos em um colegiado de 9. Em apenas uma ocasião houve uma divergência de um único voto", diz o estudo.
Levando em conta as duas últimas reuniões, de junho e agosto, quando houve uma unanimidade e uma divergência, o percentual saltaria para 14,59%, ou 27 dos 185 encontros.
Desde o início da gestão de Campos Neto, em fevereiro de 2019, apenas uma única reunião teve votos divergentes, em setembro de 2022.
Na ocasião, os diretores Fernanda Guardado (Assuntos Internacionais) e Renato Gomes (Sistema Financeiro) votaram pela elevação de 0,25 ponto percentual, enquanto a maioria decidiu pela manutenção da taxa de 13,75%, na época.
A reunião da última quarta-feira contou com a estreia de dois diretores indicados pelo presidente Lula. Um deles, Gabriel Galípolo, é ex-número 2 do Ministério da Fazenda, e assumiu como o diretor de Política Monetária — área chave para o embasamento técnico à decisão sobre juros. Ele é cotado para assumir a presidência do banco após o mandato de Roberto Campos Neto.
O outro é Ailton Aquino, servidor de carreira do BC e que assumiu a diretoria de Fiscalização.
Acompanhar as divergências dos diretores é importante porque o mercado poderá antecipar as tendências de decisões do Banco Central. Com o projeto de autonomia provado, cada diretor terá mandatos fixos de quatro anos, o que aumentará a sua autonomia para decidir como deve se comportar a política monetária.