Tráfico de drogas

Otoniel, o barão da cocaína colombiano que escalou todos os degraus do crime

Condenação ocorre em um momento em que o negócio da cocaína enfrenta uma crise inédita na Colômbia devido à superprodução

Dairo Antonio Úsuga, "Otoniel" - AFP

Dairo Antonio Úsuga, "Otoniel", cuja sentença de 45 anos de prisão por tráfico de drogas foi anunciada nesta terça-feira (8) em um tribunal dos Estados Unidos, ascendeu nas fileiras de vários grupos armados na Colômbia até se tornar o maior barão da cocaína deste século. Provavelmente passará o resto de sua vida atrás das grades, já que tem 51 anos.

No final de 2021, quando foi capturado nas selvas do noroeste da Colômbia em uma operação que envolveu 500 militares e policiais apoiados por agências dos EUA e do Reino Unido, o então presidente da Colômbia, Iván Duque, o comparou a Pablo Escobar.

Em um tribunal em Nova York, para onde foi extraditado em maio de 2022, ele admitiu ter enviado 96.800 quilos de cocaína aos EUA.

Em janeiro, aceitou as acusações de organização criminosa contínua, conspiração para fabricação e distribuição de cocaína, assim como conspiração marítima para tráfico de drogas. Sua condenação ocorre em um momento em que o negócio da cocaína enfrenta uma crise inédita na Colômbia devido à superprodução e à mudança nos hábitos de consumo nos EUA.

O ex-líder do grupo paramilitar Autodefesas Gaitanistas da Colômbia (AGC), também conhecido como Clã do Golfo, esperava que sua admissão de culpa evitasse um longo e dispendioso julgamento. E talvez, uma decisão mais clemente da juíza Dora Irizarry.

De origem camponesa e acusado de abusar sexualmente de meninas, ele passou de guerrilheiro de esquerda a paramilitar de extrema direita, antes de se consolidar como chefão da cocaína.

Durante sua reclusão, o robusto narcotraficante reclamou das duras condições de isolamento que o impediam de falar com sua família ou receber correspondência.

Às vésperas de sua extradição, afirmou perante um tribunal que altos comandantes militares estavam envolvidos no tráfico e implicou políticos que se beneficiaram do controle territorial que tinha. Em retaliação por sua entrega, seus homens desencadearam uma onda de ataques que resultou na morte de cerca de trinta policiais.

Negócio familiar
Nascido em 15 de setembro de 1971 no município de Necoclí (noroeste), ele passou a liderar o Clã do Golfo após a morte de seu irmão Juan de Dios, em confronto com a polícia em 2012.

Junto com ele, havia montado uma organização criminosa com presença em quase 300 dos 1.102 municípios do país, principalmente em sua região natal, próxima à fronteira com o Panamá, mas também no Pacífico e no Caribe, estratégico para o envio de drogas, segundo o centro de estudos Indepaz.

"No trabalho militar, homicídios foram cometidos", admitiu em um tribunal do Brooklyn. Seu grupo, também conhecido como Los Urabeños e Clã Úsuga, "fornecia segurança para laboratórios e narcotraficantes, e cobrava impostos" pela cocaína.

"A AGC cobrava uma taxa fixa por cada quilo que era fabricado ou transportado pelas áreas controladas pelo grupo", detalhou. Sua irmã, Nini Johana Úsuga, foi extraditada em julho de 2022 para a Flórida para responder também pelo tráfico de drogas.

'Não era revolucionário'
Otoniel, o sétimo dos nove filhos de Ana Celsa David e Juan de Dios Úsuga, um casal que dizia ganhar a vida com a venda de porcos, galinhas e gado no departamento de Antioquia (noroeste), ingressou aos 18 anos no Exército Popular de Libertação (EPL), uma guerrilha de esquerda que se desmobilizou em 1991.

"Ele não era revolucionário, era o que tinha e ele se juntou a eles", afirmou sua mãe em uma entrevista ao jornal El Tiempo em 2015.

Após a dissolução do EPL, se uniu às Autodefesas Campesinas de Córdoba e Urabá (ACCU), uma organização paramilitar de extrema direita criada para combater as guerrilhas e com ligações com o narcotráfico, que se submeteu à Justiça em 2006. Mais uma vez, Otoniel seguiu na ilegalidade.

Na Colômbia, suas vítimas pediram a "suspensão" da extradição, alegando seu direito de conhecer a verdade. Antes de deixar o país, ele disse ao tribunal que investiga os piores crimes do conflito que os ex-comandantes do Exército Mario Montoya (2006-2008) e Leonardo Barrero (2013-2014), foram seus cúmplices.

Também prestou depoimento a uma entidade não judicial chamada Comissão da Verdade, que denunciou o roubo das gravações em fevereiro do ano passado.

Sem ter nomeado um sucessor ainda, seus herdeiros das AGC buscam se beneficiar da política de "Paz Total", com a qual o presidente Gustavo Petro propõe a rendição em troca de benefícios penais para os narcotraficantes.

Porém, as negociações estagnaram e, em março, o grupo foi excluído de uma trégua bilateral proposta pelo governo às principais organizações armadas.