política

Ex-diretor da PRF preso é próximo de Flávio Bolsonaro e tinha ligações com o Planalto

Chamado para explicar como enfrentaria a paralisação de caminhoneiros, em 2021, ele afirmou que não pretendia intervir, e que tinha apoio para "manter os braços cruzados"

Silvinei Vasques: Ex-diretor da PRF preso é próximo de Flávio Bolsonaro e tinha ligações com o Planalto - Marcos Oliveira/Agência Senado

Preso na manhã desta quarta-feira (9) por suspeita de interferência nas eleições presidenciais, o ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF) Silvinei Vasques já afirmou que agia “com respaldo de autoridades do Palácio do Planalto”. Em 6 de setembro de 2021, quando ele foi convocado por ministros do governo para explicar como enfrentaria a paralisação de caminhoneiros, que bloqueavam estradas em todo o país para pedir a destituição de integrantes do Supremo Tribunal Federal (STF), ele afirmou que não pretendia intervir, e que contava com apoio para “manter os braços cruzados”.

Diante da inércia de Vasques, à época diretor-geral da corporação a qual caberia a missão de pôr fim aos atos, o então ministro da Infraestrutura Tarcísio de Freitas teve que se engajar pessoalmente para convencer os caminhoneiros a liberar as estradas. Na ocasião, Tarcísio gravou um vídeo, distribuído aos líderes do movimento, em que apelava para que desobstruíssem as rodovias. Com o tempo, o protesto foi perdendo musculatura, e o fluxo acabou sendo restabelecido.

Declaradamente apoiador do ex-presidente Jair Bolsonaro, Silvinei Vasques foi alçado ao comando da PRF em abril de 2021, cerca de um mês depois da chegada de Anderson Torres ao Ministério da Justiça, pasta à qual a Polícia Rodoviária Federal é vinculada. Reservadamente, integrantes da PRF afirmam que Vasques tem proximidade com o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), um dos principais entusiastas de sua nomeação ao posto. Inspetor dos quadros da corporação desde 1995, ele foi superintendente no Rio de Janeiro antes de ocupar o cargo máximo da PRF.

Em sua gestão, a PRF deu sinais de alinhamento ideológico com Bolsonaro, o que se intensificou com a ascensão de Vasques. Cerca de um ano ano antes da posse do atual chefe da corporação, em maio de 2020, Bolsonaro demitiu o então diretor-geral da PRF, Adriano Furtado, após ele publicar uma nota de pesar pela da morte de um agente vítima da Covid-19. Àquela altura, o presidente era criticado pela condução das políticas de combate à pandemia.

Durante o governo de Bolsonaro, a corporação foi contemplada com recursos para a construção de novas sedes, aquisição de helicópteros, convocação de novos servidores e outras ações. Também passou a ser utilizada em investigações, ampliando a sua função para além da fiscalização das estradas. Além disso, ganhou protagonismo em episódios que mancharam a imagem da corporação.

No mais grave deles, Genivaldo de Jesus Santos, de 38 anos, foi morto por asfixia no porta-malas de uma viatura da PRF, em Umbaúba, no litoral de Sergipe, em julho de 2022. Ele foi parado por agentes da PRF e, ao reclamar da abordagem, foi atirado à força no compartimento de trás do veículo, onde os policiais atiraram a gás lacrimogênio, criando uma espécie de câmara de gás.

Elogios ao ex-presidente
Em suas redes sociais, Vasques faz elogios explícitos ao ex-presidente. Na véspera do segundo turno da eleição, ele pediu votos para Bolsonaro. A postagem foi apagada após a repercussão negativa. Naquele dia, o diretor-geral praticamente não saiu dos holofotes. A PRF foi alvo de críticas por promover diversas operações voltadas ao transporte de passageiros, sobretudo nos estados do Nordeste, região em que a grande maioria dos eleitores votou no presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). As operações dificultaram a chegada dos moradores a seus locais de votação.

Diante dos riscos de prejuízo ao sistema eleitoral, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, convocou Vasques para uma reunião em seu gabinete, na sede da Corte, para prestar explicações. Pressionado, prometeu ao ministro que ordenaria a desmobilização das ações.

Depois, mais uma vez, ele entrou na mira de Moraes. Como ocorreu em 2021, a questão central são ações de bloqueios nas estradas do país, agora promovidas por apoiadores de Bolsonaro inconformados com a derrota que ele sofreu nas urnas. Moraes determinou a intimação de Vasques para tomar providências efetivas contra os atos antidemocráticos. Um grupo de subprocuradores-gerais da República também pediu a abertura de inquérito policial para apurar suspeita de crimes de prevaricação e desobediência por parte do diretor-geral da PRF.

As demonstrações de admiração ao presidente não começaram agora. Em um registro de 18 de abril de 2021, logo após assumir o cargo, Vasques postou fotos de uma visita de Bolsonaro a um posto da corporação e escreveu: “É a primeira vez na história da PRF que um presidente da República vem com rotina acompanhar nosso trabalho. Muito grato pela consideração”.