EQUADOR

Mulher diz que candidato morto no Equador deveria ter saído pelos fundos: "Segurança falhou"

Fernando Villavicencio foi vítima de atentado ao deixar um comício em Quito, a 11 dias do pleito nacional

Fernando Villavicencio foi alvo de tiros quando deixava comício em Quito - Reprodução

A mulher do candidato à Presidência do Equador que foi assassinado nesta quarta-feira (9) com três tiros na cabeça afirmou ter havido uma falha na segurança do marido.

Fernando Villavicencio foi alvejado no momento em que deixava um comício numa escola de Quito, a 11 dias do pleito nacional. Em entrevista a uma rádio local, aos prantos, Verónica Saráuz disse que o presidenciável deveria ter deixado a escola onde ocorreu o comício pela porta dos fundos.

— Falhou a equipe de segurança de Fernando. Falharam o chefe da logística, o chefe da segurança. Fernando tinha que ter saído pelo estacionamento dos fundos, como fez o general Carillo, com escolta de policiais. Deveriam ter tirado Fernando com um carro blindado, e não pela rua Gaspar de Villaroel — disse ela. — Essa camionete não era blindada, e o mataram.

Após a perda do marido, Verónica Saráuz apelou que os cidadãos equatorianos demonstrem "valentia e coragem".

— Temos que demonstrar nossa valentia, nossa coragem, senão o país vai cair no abismo. Temos que estar unidos, todos. Acho que isso não pode ficar impune. Isso deve nos fazer reagir como país e parar de estupidez de dividir os votos para ir com quem mais oferece — ressaltou.

Horas antes do atentado, o político e jornalista havia feito um discurso premonitório com declarações diretas a criminosos que ameaçavam matá-lo. Num discurso na cidade de Chones, cujo vídeo foi compartilhado nas redes sociais do candidato, Villavicencio relatou que havia sido aconselhado a usar colete à prova de balas. No entanto, revelou ter recusado a proteção, afirmando que o apoio da população seria seu escudo.
 

— Não preciso [de colete]. Vocês são um povo valente, e eu sou valente como vocês. Vocês são aqueles que cuidam de mim. Venham, aqui estou. Disseram que iriam me quebrar. Aqui está Don Villa [apelido de Villavicencio]. Que venham os chefões do narcotráfico, venham! Que venham os atiradores, que venham os milicianos! Acabou-se o tempo da ameaça. Aqui estou eu. Podem me dobrar, mas nunca vão me quebrar — afirmou o candidato durante comício.

Em entrevista à agência Efe, em maio, após anunciar a campanha presidencial, Villavicencio afirmou que queria ser presidente para "enfrentar e derrotar máfias que cooptaram o Estado e colocaram a sociedade de joelhos". Villavicencio, que aparecia entre quarto e quinto lugar nas pesquisas entre os postulantes à sucessão de Guillermo Lasso, apresentava-se aos eleitores como um combatente à corrupção sob o slogan "É hora dos corajosos".

Um dos suspeitos pelo crime foi morto durante troca de tiros com a polícia, segundo autoridades equatorianas. Até o momento, já foram presos seis suspeitos pelo crime. Testemunhas disseram que ouviram rajadas de tiros e viram o político cair no chão gravemente ferido. Ele foi levado para atendimento médico imediatamente na Clínica da Mulher, um centro de saúde próximo ao local do atentado, mas não apresentava mais sinais de vida.

O crime foi reivindicado pela facção criminosa Los Lobos, apontada pelo observatório InSight Crime como o segundo maior grupo criminoso do Equador, com mais de 8 mil membros distribuídos nas prisões do país. O grupo esteve envolvido em vários massacres sangrentos em prisões no Equador, que deixaram mais de 315 presos mortos só em 2021, e atua principalmente com tráfico de drogas e mineração ilegal.

O presidente Lasso declarou estado de exceção por 60 dias em todo o país. O governo brasileiro, por meio do Ministério das Relações Exteriores, externou "profunda consternação" pelo assassinato do candidato à Presidência do Equador.