"Não está preparado", diz Lula sobre ação da PM na qual morreu adolescente, na Cidade de Deus
Presidente disse que é preciso "criar condições para a polícia saber diferenciar o que é um bandido e o que é um pobre andando na rua"
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva comentou, nesta quarta-feira (9), a ação da Polícia Militar na qual morreu o adolescente Thiago Menezes Flausino, de 13 anos, na Cidade de Deus, Zona Oeste do Rio. A declaração foi durante uma cerimônia de anúncio de recursos para Anel Viário, que acontece em Campo Grande, também na Zona Oeste.
— Um cidadão que atira num menino que já estava caído não está preparado. Precisamos criar condições para a polícia saber diferenciar o que é um bandido e o que é um pobre andando na rua — disse Lula.
A ação na qual o garoto foi baleado com cinco tiros ocorreu na madrugada da última segunda-feira. Thiago e um outro rapaz estavam de moto quando foram vistos por equipes do Batalhão de Polícia de Choque (BPChq) que, segundo a PM, fazia um policiamento na comunidade.
De acordo com parentes, ao levar o primeiro tiro, Thiago caiu no chão. Os demais disparos foram feitos, afirmam testemunhas, após o garoto já estar caído no chão. Moradores da Cidade de Deus afirmam que os policiais tentaram forjar um confronto, atirando contra uma região de mata sem que bandidos dessem tiros.
Um vídeo mostra o momento em que esses disparos foram feitos. Moradores contaram que, ao verem que estavam sendo filmados, foram hostilizados pelos PMs, que chagaram a lançar uma granada de efeito moral contra eles.
A morte de Thiago — que sonhava ser jogador de futebol e jogava no time de um projeto na Cidade de Deus — é investigada pela Delegacia de Homicídios da Capital (DHC). As armas dos agentes envolvidos na ação foram apreendidas e encaminhadas para a perícia.
Pedido de retirada de post
Quando comentou sobre a ação na Cidade de Deus em seu perfil no Twitter, a PM afirmou que “um criminoso ficou ferido ao entrar em confronto” com policiais do BPChq. O Núcleo de Defesa dos Direitos Humanos da Defensoria Pública do Rio (Nudedh) encaminhou, nesta terça-feira, uma ação judicial para que a corporação retire do ar a postagem que criminaliza Thiago Menezes. A ação foi distribuída para a 10ª Vara de Fazenda Pública.
Em depoimento dado durante o atendimento da família no Núcleo de Defesa dos Direitos Humanos da DPRJ, a mãe de Thiago, Priscila, expôs sua indignação com a publicação.
— Thiago era apenas um adolescente que perdeu a vida precocemente e de forma trágica. Mais uma vítima que entra para a estatística — desabafou Priscila.