equador

Assassinado no Equador, Villavicencio era de direita ou esquerda? Entenda

Centrista, o candidato assassinado a tiros em ato de campanha era forte crítico ao governo de Rafael Correa e vinha se aproximando da direita e de Lasso nos últimos anos

Fernando Villavicencio, candidato presidencial do Equador, é assassinado a tiros - Rodrigo Buendia / AFP

O candidato presidencial Fernando Villavicencio, assassinado a tiros em Quito na noite de quarta-feira, tinha como slogan o combate à corrupção e ao narcotráfico e dizia ser a "hora dos corajosos". Como jornalista foi um forte crítico ao governo de esquerda do ex-presidente Rafael Correa. Como político, se apresentava como um centrista, mas nos últimos anos vinha cada vez mais se aproximando da direita, e do presidente Guillermo Lasso.

— Embora ele tenha participado e recebido apoio em alguns momentos de grupos como o Partido Socialista, ele era de fato um candidato de centro-direita, muito mais à direita do que as pessoas tendem a pensar — afirma a equatoriana María Villarreal, professora do Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UniRio e da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.

Uma de suas principais propostas de governo era a aplicação do Plano Nacional Antiterrorista, que começaria identificando as estruturas mais perigosas que operam no Equador: narcotráfico, mineração ilegal, corrupção e propina, todas, segundo ele, ligadas entre si. Entre as medidas propostas pelo plano estavam construir "uma prisão de segurança máxima" para prender os criminosos mais perigosos; militarizar portos para controlar o narcotráfico; e criar uma unidade antimáfia que, “com apoio estrangeiro”, perseguiria “os narcotraficantes, os sequestradores e todo tipo de organização criminosa”.

Antes de ser político, ainda como jornalista, Villavicencio foi um forte crítico ao governo de Rafael Correa. Durante o governo do esquerdista, denunciou supostos casos de corrupção e foi condenado a 18 meses de prisão em 2014, mas não cumpriu a pena porque se escondeu na selva amazônica. Em 2016, um juiz voltou a ordenar sua prisão por revelar informações confidenciais. Na ocasião, refugiou-se em Lima e em 2017 voltou ao país durante o governo de Lenín Moreno (2017-2021), sucessor de Correa.

Villavicencio foi eleito para a Assembleia Legislativa do país, em 2021. Desde então, manteve um perfil político ativo, sempre denunciando a atuação do crime organizado no país — como deputado contava constantemente com escolta policial. No ano passado, chegou a ser vítima de outro atentado, quando balas atingiram sua casa. Sua esposa foi quem ouviu os disparos e pediu ajuda à polícia de Quito.

Também foi um colaborador próximo do governo do presidente Guillermo Lasso e o defendeu com frequência na Assembleia Legislativa, onde o presidente respondeu a dois processos de impeachment. No entanto, também denunciou o caso chamado León de Troya, uma investigação que ligava a máfia albanesa que atua no país ao cunhado do presidente, Danilo Carrera.

Após o crime, Lasso afirmou estar estar “indignado e consternado” pelo assassinato e garantiu que “o crime não vai ficar impune”.

A família de Villavicencio alega que houve falha de segurança no momento do assassinato e fala em um complô para assassiná-lo. Sua irmã chegou a insinuar a morte como uma possível "queima de arquivo". O homem suspeito de ter atirado morreu em uma troca de tiros com agentes de segurança pouco depois da morte.

Impacto nas eleições
Villavicencio era candidato presidencial pelo Movimento Construye e aparecia em terceiro, quarto ou quinto lugar, dependendo da pesquisa de opinião, em um contexto eleitoral marcado pelo alto número de indecisos. A favorita é Luisa González, candidata do correísmo, que assim como Correa lamentou a morte.

No Twitter, o ex-presidente, exilado na Bélgica, pediu que o crime não fosse usada para fins políticos:

"Eles assassinaram Fernando Villavicencio. O Equador se tornou um Estado falido. A pátria está ferida. Minha solidariedade à sua família e a todas as famílias das vítimas da violência. Aqueles que pretendem semear ainda mais ódio com esta nova tragédia, espero que entendam que ela só continua nos destruindo".

O crime, no entanto, tem um forte impacto em uma campanha eleitoral que já era atípica depois que Lasso dissolveu a Assembleia e antecipou a convocação do pleito para evitar um possível impeachment. Nas redes sociais, muitos acusaram Correa de estar por trás do crime e alguns jornais relembraram suas falas duras contra o então jornalista.

Villarreal alerta:

— É preciso ter muito cuidado para evitar a instrumentalização da morte do Villavicencio com fins políticos. Se tem alguém que se beneficia da morte dele é a direita e todo seu discurso de mão de ferro e repressão.