Coaf apontou movimentações "atípicas" de R$ 429 mil realizadas por Mauro Cid e pai em transferências
Em nota, defesa do tenente-coronel afirmou que as transferências eram "regulares" e foram "devidamente declaradas"
O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), órgão de combate à lavagem de dinheiro, apontou movimentações “atípicas" nas transações ao exterior realizadas pelo tenente coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro; e do seu pai, o general Mauro Lourena Cid. As transferências dos dois totalizaram R$ 429 mil e ocorreram em janeiro deste ano.
Cid e o pai são investigados pela Polícia Federal em um inquérito que apura um esquema de venda de presentes dados ao ex-presidente durante missões oficiais no exterior. O general foi alvo de um mandado de busca e apreensão nesta sexta-feira. Já o tenente coronel está preso preventivamente desde maio.
Em um relatório obtido pelo Globo, o Coaf aponta que o pai de Mauro Cid enviou R$ 62,6 mil para uma conta dele nos Estados Unidos entre 10 e 18 de janeiro. Foram quatro transações de US$ 3 mil, o que "chamou a atenção" do órgão de inteligência financeira.
"Chama atenção o fracionamento das ORPAGs (ordens de pagamento no exterior) limitadas aos valores de USD 3.000 cada, o que poderia indicar tentativa de dispensa de documentação complementar. Considerando o envio atípico de valores para o exterior para mesma titularidade porém sem conhecimento do real destino dos recursos e demais atipicidades apontadas, propomos a comunicação", diz trecho do relatório do Coaf.
Em janeiro, Mauro Cid acompanhava o ex-presidente Jair Bolsonaro em uma viagem aos Estados Unidos. Os dois saíram do Brasil no fim de 2022 e não acompanharam a transmissão do cargo para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O Coaf também destacou o envio de remessas aos Estados Unidos feitas pelo tenente-coronel Mauro Cid - R$ 367.374 -, em 12 de janeiro de 2023.
“Considerando a movimentação elevada, o que poderia indicar tentativa de burla fiscal e/ou ocultação de patrimônio e demais atipicidades apontadas, comunicamos pela possibilidade de constituir-se indícios do crime de lavagem de dinheiro ou com ele relacionar-se”, diz trecho do documento.
No relatório, o Coaf afirmou ainda que detectou nas contas de Mauro Cid “movimentação de recursos incompatível com o patrimônio, atividade econômica ou a ocupação profissional e capacidade financeira do cliente” e “transferências unilaterais que, pela habitualidade e valor ou forma, não se justifiquem ou apresentem atipicidade”. O militar movimentou R$ 3,2 milhões em seis meses — de 26 de julho de 2022 a 25 de janeiro de 2023 -, segundo o documento.
Em nota divulgada no início de agosto, a defesa de Mauro Cid afirmou que todas as movimentações financeiras dele são "regulares e encontram amparo nas reservas financeiras e no patrimônio familiar construído ao longo de mais de 25 anos". Sobre as transferências ao exterior, a defesa disse que a movimentação foi "devidamente declarada".