Casal processa hospital, médica e enfermeiros após bebê ser decapitado no parto nos EUA
Obstetra Tracey St. Julian, do hospital Southern Regional Medical Center, e seis enfermeiros são acusados de negligência grave
Um jovem casal do estado da Geórgia, nos Estados Unidos, entrou com uma ação judicial nessa quarta-feira (11) contra a médica, o hospital e um grupo de enfermeiros envolvidos no seu parto. Os pais, identificados como Jessica Ross, de 20 anos, e Treveon Isaiah Taylor, de 21, acusam a obstetra, Tracey St. Julian, de decapitar o bebê ao usar muita força durante o procedimento.
A queixa afirma também que os enfermeiros tentaram esconder a situação do casal e o desencorajaram a pedir uma autópsia. Segundo os advogados de Ross e Taylor, o casal só soube o que havia acontecido dias depois, quando a agência funerária fez um alerta sobre o estado do corpo.
O parto, a princípio normal, aconteceu em julho, no Southern Regional Medical Center. De acordo com o documento, e segundo informações de Roderick Edmond, outro advogado e amigo do casal, Ross fez força durante horas, mas pouco avançou com o parto. Um dos ombros do bebê ficou preso, uma emergência obstétrica chamada de distócia de ombros. A médica, então, passou a fazer força demais no pescoço e na cabeça do bebê, resultando na decapitação.
— O sonho e as esperanças deles [o casal] se transformaram em um pesadelo — argumentou o advogado do casal, Cory Lynch, durante uma coletiva de imprensa em Atlanta.
Segundo um artigo publicado na Revista Brasileira de Ortopedia, a condição é rara, acometendo 1% dos partos. O risco, contudo, aumenta em até 6% em fetos com peso menor do que 4 kg. Apesar de ser uma complicação grave, o Colégio Americano de Obstetras e Ginecologistas afirma que "a maioria dos casos de distócia de ombros é aliviada sem ferir o feto". O que, segundo Edmond, Julian não fez. Pelo contrário:
— [Ela aplicou] força excessiva — disse o advogado, que também é médico, acrescentando que a obstetra não pediu ajuda adicional e não realizou uma cesariana de emergência a tempo: — Esse bebê não teria sofrido qualquer ferimento se tivessem pedido uma cesariana de emergência no momento certo — argumentou o advogado.
De acordo com o processo, a cesárea foi realizada, mas para recolher as pernas e o tronco do recém-nascido após muitos pedidos da mãe. A cabeça foi retirada através da vagina.
Para Edmond, Ross “se enquadra claramente nos dados demográficos” de jovens mulheres negras que, segundo dados, registram taxas de mortalidade infantil e materna mais altas, o que, em suas palavras, “é um resultado horrível”.
O Departamento de Polícia do Condado de Clayton, onde a queixa foi apresentada, afirmou em comunicado que abriu um inquérito para investigar a morte do bebê, que recebeu o nome do pai: Treveon Isaiah Taylor Júnior.
Brian Byars, diretor do Gabinete do Médico Legista de Clayton, também informou que seguirá com as investigações e que solicitou às agências estaduais investigações sobre a atuação da médica e dos enfermeiros. Ele conta que foi a funerária, inclusive, a primeira a notificar ao gabinete sobre o caso:
— Não é normal sermos contatados três dias depois, uma vez que normalmente isso ocorre minutos ou horas depois de uma morte — disse Byars, acrescentando: — Não há nada de normal nesse caso. Esse era um bebé plenamente desenvolvido. Era saudável.
Além de Julian e do hospital, o grupo da qual a obstetra faz parte — Premier Women's Obgyn — e outros seis enfermeiros também são réus, acusadas de negligência grave, fraude e imposição intencional de sofrimento emocional.
A porta-voz do hospital, Kimberly Golden-Benner, disse por e-mail que o local “nega as acusações de irregularidades no processo”. Disse também que não pode “discutir os cuidados e o tratamento de pacientes específicos" devido às leis de privacidade, alegando que a morte “ocorreu no útero antes do parto e da decapitação". Não especificou, contudo, qual teria sido a causa da morte.
Julian e a organização Premier Women's Obgyn ainda não se manifestaram. De acordo com o site da organização, Julian é obstetra e ginecologista certificada pelo conselho que pratica na área de Atlanta há mais de 18 anos.
O casal explicou, através de um nota enviada por e-mail, que entrou com o processo para “responsabilizar os responsáveis pela morte de nosso filho na esperança de que nenhum outro pai tenha que experimentar uma perda tão profunda".