Países africanos adiam reunião decisiva sobre intervenção no Níger
Milhares de apoiadores do golpe que depôs o presidente do Níger se concentraram, na sexta-feira (11)
Os países da África Ocidental adiaram uma reunião prevista para este sábado (12) sobre o envio de uma força de intervenção, após o golpe de Estado no Níger, onde uma manifestação a favor dos militares no poder reuniu milhares de pessoas.
O encontro, que aconteceria hoje em Accra, capital de Gana, foi adiado por tempo indeterminado "por razões técnicas", segundo fontes militares regionais.
Os chefes de gabinete da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (Cedeao) tiveram de propor aos seus dirigentes "as melhores opções", após a decisão de ativar e mobilizar sua "força de reserva" para "restabelecer a ordem constitucional" no Níger.
Não foram revelados a data, nem as modalidades, da intervenção mencionada, mas, segundo o presidente da Costa do Marfim, Alassane Ouattara, poderá começar "o mais rápido possível".
"A opção militar seriamente considerada pela Cedeao não é uma guerra contra o Níger e seu povo, mas uma operação policial contra o sequestrador e seus cúmplices", disse o ministro das Relações Exteriores do Níger, Hassoumi Massaoudou, neste sábado, na rede social X (ex-Twitter).
Em Niamei, capital nigerina, uma manifestação reuniu ontem milhares de simpatizantes dos militares que tomaram o poder. Agitando bandeiras russas e nigerinas, a multidão manifestou seu apoio aos autores do golpe e, em particular, ao seu chefe, general Abdourahamane Tiani, e denunciaram os planos de intervenção da Cedeão.
"Vamos expulsar os franceses! A Cedeao não é independente, é uma manipulação da França", disse Aziz Rabeh Ali, membro do grêmio estudantil.
Os militares nigerinos acusam a França, ex-potência colonial, de ter encorajado a Cedeão a intervir no país.
Aliada do Níger antes do golpe de Estado, assim como do presidente deposto, a França tem cerca de 1.500 militares no país africano que cooperaram na luta contra os grupos jihadistas acampados na zona do Sahel.
Blinken "consternado"
Após o golpe de 26 de julho, cresce a preocupação com o presidente Mohamed Bazoum, sequestrado com a mulher e o filho, e mantido em sua residência sob condições "desumanas", segundo a ONU.
Neste sábado, ele recebeu "a visita de seu médico", disse à AFP uma pessoa próxima.
O secretário de Estado americano, Antony Blinken, disse ontem estar "consternado" com a recusa dos militares em libertar a família de Bazoum como um "sinal de boa vontade".
Segundo um familiar de Bazoum, os militares "ameaçaram" feri-lo, em caso de intervenção da armada.
"A intervenção vai ser arriscada, ele está ciente disso. Considere que precisa de um retorno à ordem constitucional, com ele ou sem ele", porque "o Estado de direito é mais importante do que sua pessoa", disse um de seus assessores à AFP.
"Resolução dolorosa"
A Cedeão espera, no entanto, resolver uma crise por via diplomática.
O presidente nigeriano, Bola Tinubu, à frente da presidência rotativa do bloco regional, disse esperar "alcançar uma resolução abandonada" e que o uso da força é o "último recurso".
As decisões da Cedeação receberam o "apoio total" dos Estados Unidos e da França. Esses dois países fizeram do Níger um eixo de luta contra grupos jihadistas no Sahel.
Poucos dias depois do golpe, os dirigentes do Cedeão já haviam dado um ultimato aos militares para que Bazoum voltasse ao poder no máximo até 7 de agosto, sob ameaça de uso da força.
Os militares nigerinos ignoraram o prazo da Cedeao e esperaram a dar sinais de quererem se firmar no poder. O último deles foi na quinta-feira, com o anúncio de um novo Executivo com 20 ministros, que inclui dois generais no comando do Interior e da Defesa.
O novo governador se reuniu pela primeira vez na sexta-feira e, segundo um assessor da presidência do Mali que falou sob condição de anonimato, o general Salifou Mody, novo ministro da Defesa e um dos homens fortes do Níger, fez uma breve visita ao Mali.
Vários países da região gostaram de reservas quanto a uma intervenção. Os vizinhos de Mali e Burkina Faso, também governados por militares, expressaram sua solidariedade a Niamei. No passado, a Cedeao já interveio na Libéria, Serra Leoa e Guiné-Bissau.