ARGENTINA

Eleições argentinas: expectativa de resultado surpreendente da extrema direita

Bastidores da campanha, Casa Rosada e analistas indicam que candidato presidencial Javier Milei, apoiado por Jair Bolsonaro, poderia seria o mais votado das primárias deste domingo

Javier Milei - Reprodução

Contrariando todas as pesquisas divulgadas na Argentina nas últimas semanas, bastidores nas campanhas eleitorais, na Casa Rosada e entre analistas locais indicam que o candidato da extrema direita Javier Milei, que semana passada obteve o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro, será a grande surpresa das Primárias Abertas Simultâneas e Obrigatórias (Paso), realizadas neste domingo no país.

As Paso definem quem serão os candidatos que disputarão o primeiro turno da eleição presidencial, em 22 de outubro. Os argentinos também votaram para determinar os nomes que disputarão 130 vagas na Câmara (de um total de 257 cadeiras), e 24 no Senado (de um total de 72 vagas), além de candidatos aos governos regionais das províncias de Buenos Aires e Entre Rios. Outras províncias realizaram eleições ao longo do primeiro semestre.

Ao chegar ao bunker de campanha da aliança opositora de centro-direita Juntos pela Mudança, o ex-presidente Mauricio Macri (2015-2019), reconheceu que Milei foi a notícia do dia:

— O crescimento de Milei mostra que existe uma revolta com a política [tradicional] —.

Um dos lemas de campanha do candidato da extrema direita argentina é o fim dos privilégios do que ele chama de “casta política”.

Nas Paso deste domingo também foi definido quem será o candidato da Juntos pela Mudança, e a vencedora da disputa interna foi a ex-ministra Patricia Bullrich, que derrotou o prefeito portenho, Horacio Rodríguez Larreta. O ex-presidente Macri apoiou tacitamente Bullrich, e sempre defendeu uma aproximação da aliança opositora com Milei, movimento rechaçado por Larreta e seus aliados internos.

— Larreta já me ligou e me parabenizou, vamos organizar tudo — declarou Bullrich.
 

A candidata da Juntos pela Mudança também assegurou que "Milei fez uma muito boa eleição, e a próxima eleição [o primeiro turno] será acirrada".

O governador da província de Córdoba, Juan Schiaretti, que disputou as Paso como pré-candidato à Presidência pela aliança Fazemos por nosso País, também se referiu ao resultado obtido por Milei:

— Não temos dúvida de que em Córdoba quem melhor expressou a situação de revolta que existe na sociedade cordobesa em relação à administração nacional foi Javier Milei —.

Neste domingo, muitos analistas e políticos avaliaram que a estratégia da Juntos pela Mudança de promover uma primária competitiva entre dois de seus principais dirigentes foi um erro, e acabou fortalecendo Milei.

 

Uma das dúvidas que paira sobre a Argentina é se o candidato da extrema direita ficará, individualmente, acima do candidato do governo, o ministro da Economia, Sergio Massa. Uma coisa é certa: o peronismo fez uma de suas piores eleições das últimas décadas.

A partir desta segunda, a oposição deverá iniciar uma etapa de conversas e negociações, e o governo, que poderia sofrer um duro revés até mesmo na província de Buenos Aires, onde vive um terço do eleitorado nacional, enfrentará o desafio de não ficar fora de um eventual segundo turno, em 19 de novembro.