"Job hopping": trocar de emprego diversas vezes deixou de ser um sinal vermelho para novas gerações
Membros da geração Z e millenials naturalizam mudanças recorrentes em busca de vantagens como maiores salários e melhores oportunidades
Pranav Ravikumar ocupou três empregos desde a faculdade e tem apenas 24 anos. Um mês depois de se formar, em dezembro de 2020, passou por duas rotações de um programa de treinamento gerencial na empresa farmacêutica Abbott.
Tornou-se analista de comércio eletrônico, mas queria um tipo de trabalho mais rápido encontrado em empresas de consultoria e startups. Além disso, o cargo na Abbott exigia que ele se mudasse para outro estado, longe da família e dos amigos.
Em outubro de 2021, menos de um ano depois, Ravikumar deixou a Abbott para um trabalho remoto na Dragonfly, uma startup que adquire e desenvolve pequenas empresas de comércio eletrônico, e voltou para seu estado natal. Alguns meses depois, falou com seu gerente sobre se envolver mais com a estratégia da empresa, mas nada mudou.
Então, um ano depois, Ravikumar começou a procurar emprego novamente. Em fevereiro deste ano, começou a trabalhar em marketing de produtos na Alma, uma rede de membros que ajuda os profissionais de saúde mental a desenvolver suas práticas.
Para Ravikumar, esse tipo de troca rápida de empregos tem sido uma experiência positiva:
— Quase dobrei meu salário inicial na Abbott e isso é importante para mim. Eu realmente queria a flexibilidade do trabalho remoto e seria difícil desistir agora. E ganhei muita experiência profissional em vários setores muito rapidamente — conta.
Essa troca para aumentar o salário e as habilidades no início da carreira – historicamente uma bandeira vermelha para os empregadores – não é nova. No entanto, parece ser cada vez mais comum, sendo chamada de “jop hopping” no exterior.
Segundo dados do Instituto de Pesquisa de Benefícios a Empregados, uma organização independente sem fins lucrativos, 22,3% dos trabalhadores com 20 anos ou mais passaram um ano ou menos em seus empregos no ano passado, o maior percentual desde 2006. Cerca de 33% passaram dois anos ou menos em seus empregos.
Mas muitos trabalhadores da geração Z e os mais jovens da geração Millenial não estão preocupados. Cerca de 74% dos jovens de 18 a 26 anos, e 62% dos de 27 a 42 anos, estavam procurando um novo emprego ou planejavam procurar um nos próximos seis meses, de acordo com uma pesquisa com funcionários dos Estados Unidos realizada em maio pela Robert Half, uma consultoria de recursos humanos.
Dawn Fay, presidente operacional de soluções de talentos e consultoria de negócios da Robert Half, diz que a pesquisa também perguntou aos gerentes de contratação quais eram suas principais preocupações ao avaliar o currículo de um candidato. 77% citaram a troca de empregos pelos funcionários.
Jeff Hyman, CEO da Recruit Rockstars, uma empresa de recrutamento em Chicago, nos EUA, descreveu o “job hopping” como uma “enorme dor de cabeça” para os empregadores. Quando funcionários promissores saem prematuramente, outros podem se perguntar “por que” ou fazer o mesmo, diz. — Os executivos de recursos humanos continuam esperando que isso melhore, mas parece que piora a cada mês — completa.
Depois de apenas oito meses em seu emprego corporativo em Pittsburgh, nos EUA, Erin Confortini, de 24 anos, estava sendo recrutada para empregos semelhantes pagando US$ 20 mil a mais por ano (cerca de R$ 98,25 mil), mas se recusou a segui-los, sentindo que o salário não valia os riscos de mudar de curso.
Confortini, que agora ganha renda adicional como influenciadora de finanças pessoais no TikTok com mais de 246 mil seguidores, postou sobre sua decisão de não mudar de emprego. A postagem recebeu mais de 450 comentários, com a maioria aconselhando-a a seguir o dinheiro em vez de ser leal a uma empresa.
Embora ela entenda essa posição, Confortini rebate: — Também acho que você precisa considerar como isso ficará em seu currículo.
Muitos recrutadores concordam
Hyman diz que, embora a troca de empregos carregue menos estigma na comunidade de startups, os empregadores tradicionais ainda veem esses candidatos como arriscados.
— Os empregadores começam a questionar a capacidade de tomada de decisão e julgamento do candidato — afirma. Os gerentes de contratação também reclamam que é difícil avaliar o desempenho de uma pessoa em um trabalho que durou menos de dois anos, acrescenta.
Até certo ponto, a tendência pode ser uma resposta ao que os funcionários mais jovens percebem como um foco inflexível das empresas nos resultados. Uma razão para a prevalência do “job hopping” seria a erosão contínua do contrato social empregador-empregado, defende Jessica Kriegel, cientista-chefe da Culture Partners, uma consultoria de negócios focada na cultura do local de trabalho.
Isso se deve em parte às repetidas demissões relacionadas à recessão, que agora incluem demissões preventivas em antecipação a uma desaceleração, diz. — Os funcionários estão olhando para isso e sentem que já perderam o que achavam que estavam obtendo, que era a segurança no emprego — continua. Isso, por sua vez, leva muitos trabalhadores da Geração Z a evitar a lealdade à empresa em favor do desenvolvimento da carreira – e, potencialmente, da tomada de riscos.
Sentir-se "como um número"
Quando Jonathan Javier, 28 anos, começou seu primeiro emprego como especialista em operações no Snapchat, o salário era baixo. Mas ele estava de olho na indústria de tecnologia e se sentia grato por estar lá. Oito meses depois, porém, sua função foi terceirizada.
Por meio do LinkedIn, Javier se conectou com um recrutador do Google e foi contratado como analista de operações; depois de um ano, mudou-se para treinador de vendas. Logo depois, Javier foi escolhido por outro recrutador, oferecendo uma vaga como analista de operações na Cisco.
— Foi um trabalho de nível superior que elevou meu salário para mais de seis dígitos — lembra ele. Ele aceitou, deixando o Google após 18 meses. Durante sua estadia na gigante de tecnologia, Javier iniciou uma atividade secundária, a Wonsulting, uma empresa de coaching de carreira voltada para jovens candidatos a emprego de origens marginalizadas.
Quando foi demitido um ano depois de ingressar na Cisco por causa dos cortes de pessoal devido à pandemia, Javier optou pelo empreendedorismo em vez de outra busca de emprego e mergulhou na Wonsulting em tempo integral.
São três empresas (e quatro funções) em pouco mais de três anos, terminando com um trabalho de sua autoria. Trabalhar para uma corporação, diz Javier, sempre o fez se sentir “como um número”, alguém que poderia ser demitido a qualquer momento.
Agora, como seu próprio chefe, essa ansiedade foi embora. E embora a taxa de fracasso para startups seja alta, Javier disse que não está preocupado: — Sempre há um caminho de volta para a América corporativa, se eu quiser.