Argentina desvaloriza dólar oficial em 22% e trava câmbio até eleições
BC também eleva taxa básica de juros a 118% ao ano
Um dia após as urnas mostrarem vitória inesperada do candidato de extrema direita, Javier Milei, nas prévias das eleições argentinas, o Banco Central (BC) do país decidiu desvalorizar em 22% o câmbio oficial e travá-lo até as eleições de outubro. Um dólar passa a valer 350 pesos.
Em paralelo, o BC elevou a taxa básica de juros em 21 pontos, para 118% ao ano, o mais alto patamar em 20 anos.
A Argentina, que atravessa uma forte crise, tem várias cotações de dólar. No mercado paralelo, o mais conhecido é o chamado dólar blue, que está cotado acima de 600 pesos. A expectativa é que a desvalorização do dólar oficial afete as demais cotações.
Desde que foi anunciada a revisão dos termos do acordo entre o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o governo argentino, no fim de julho, o Banco Central mudou sua postura e começou a desvalorizar diariamente o dólar.
De acordo com fontes ouvidas pelo jornal local La Nación, haverá uma estabilização do câmbio em 350 pesos, após a alta desta segunda-feira, até as eleições presidenciais, marcadas para 22 de outubro.
Liderança com 30% dos votos
No domingo, foram realizadas as Primárias Abertas Simultâneas e Obrigatórias (Paso). Nesse pleito, são definidos os candidatos que disputarão o primeiro turno da eleição presidencial de outubro.
Javier Milei, do partido A Liberdade Avança, obteve 30,06% dos votos, ficando à frente dos dois candidatos da direita tradicional e da aliança governista, que obtiveram 28,27% e 2,24%, respectivamente.
Milei tem como plataforma econômica dolarizar o país e fechar o banco central. Sua vitória nas prévias argentinas causou um rebuliço no mercado nesta manhã, com a disparada do peso, o que levou o BC argentino a anunciar medidas duras numa tentativa de conter o alvoroço no mercado.
- No curto prazo, a incerteza sobre o plano econômico de Milei e a palavra dolarização faz o dólar subir no mercado paralelo. E há incerteza sobre o que vem por aí ainda. O Banco Central poderá intervir para conter o dólar paralelo, venderá dólar futuro. Teremos que digerir a surpresa - disse Fernando Marull, economista da FMyA.