Cenário político

Bolsonaro e Milei: veja semelhanças e diferenças dos dois líderes da extrema direita

Ex-presidente brasileiro e candidato argentino idolatram Donald Trump, são populistas e se consideram outsiders do sistema político

Jair Bolsonaro, ex-presidente do Brasil, e Javier Milei, deputado da extrema-direita argentina - Tânia Rêgo/Agência Brasil || Luis Robayo/ AFP

Desde que seu nome começou a ganhar força no cenário político na Argentina, o deputado de extrema-direita Javier Milei passou a ser associado diretamente com o ex-presidente Jair Bolsonaro. Em seu país, alguns chamam Milei de "Bolsonaro argentino".

De forma geral, ambos idolatram o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Milei e Bolsonaro são populistas, utilizam as redes sociais como principal ferramenta eleitoral, movimentam a juventude e fazem duras críticas ao sistema político vigente. Nesta segunda-feira, Bolsonaro gravou um vídeo dizendo que tem muito em comum com Milei.

—Temos muitas coisas em comum. Defendemos a família, a propriedade privada, o livre mercado, a liberdade de expressão o legítimo direito à defesa e queremos, sim, ser grandes à altura do nosso território e de nossa população — afirmou o ex-presidente.

Bolsonaro não exerceu uma diplomacia presidencial durante os quatro anos em que governou o Brasil. Mantinha alianças com governos conservadores, com destaque para Polônia e Hungria, e acabou seu mandato praticamente isolado no cenário internacional.

Javier Milei também já deu várias indicações de que não tem uma agenda externa, o que tem preocupado diplomatas de seu país, segundo relatos reservados. Quer ser visto como um "outsider", ou seja, que não é ligado a grupo algum.

Mas os dois líderes têm diferenças, que ficaram ainda mais evidentes na campanha de Javier Milei. Para o especialista em relações internacionais, Christopher Mendonça, na área econômica, principalmente, está claro que os estilos são distintos.

— Bolsonaro tem uma pauta mais conservadora e Milei uma agenda mais libertária. Por exemplo, o candidato argentino é a favor da extinção do Banco Central e do controle cambial pelo Estado. Bolsonaro, na contramão, propõe um Banco Central independente — diz Mendonça.

Os discursos de Milei e Bolsonaro têm como ponto comum o combate ao socialismo na região. Ambos fazem parte do Fórum de Madri, uma aliança internacional "para frear o avanço do comunismo na ibero-esfera".

Chama a atenção a proximidade de Milei com o filho do ex-presidente, Eduardo Bolsonaro. Os dois se reuniram no fim de 2022 e, se depender de Eduardo, se o candidato argentino vencer a eleição de seu país em outubro, a articulação para o reforço de um movimento de extrema-direita internacional, que ganhou força no início do governo Bolsonaro, pode ser ainda mais estimulada.

— Javier Milei é a versão com delay de Jair Bolsonaro - que, por sua vez, já era a versão com delay de Donald Trump. Estamos assistindo na Argentina ao filme que, no Brasil, foi exibido entre 2018 e 2022. É possível que, por características cívicas e institucionais, além de certo aprendizado com a história recente, os nossos vizinhos consigam escapar de um presidente anti-institucional de ultradireita. Os prognósticos, contudo, não são tão encorajadores para os argentinos — afirma Dawisson Belém Lopes, professor de relações internacionais da Universidade Federal de Minas Gerais.

Para o consultor internacional Welber Barral, Bolsonaro e Milei são consequências do discurso antipolítica e da frustração coletiva com as soluções institucionais, fragilizadas pela situação econômica e empobrecimento de seus países. Também se identificam nas propostas simplistas e exóticas, cuja ineficácia é visível, mas que apelam ao sentimento popular.

— Entretanto, Milei é mais agressivo nas propostas de redução da intervenção estatal e da liberalização econômica, propostas que contrastam com a experiência recente de políticas econômicas argentinas — ressalta Barral.

Virgílio Arraes, da Universidade de Brasília, avalia que Milei combina o" messianismo político com o neoliberalismo econômico em grau avançado".

—O surpreendente é a aceitação do eleitorado — diz Arraes. —É o populismo bastante radical que encontra acolhida em uma população desanimada com a estrutura costumeira da política nacional —completa.