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Não há razão para crer que transmissão de eletricidade tenha gargalos importantes, diz especialista

Segundo pesquisadora da FGV e ex-diretora da Aneel, investimentos em novos linhões têm ocorrido

Marcos Santos / USP Imagens

Houve investimentos recentes na expansão da rede de transmissão de energia do Sistema Nacional Interligado (SIN) e não há conhecimento sobre problemas estruturais, relacionados à falta de capacidade, que poderiam levar ao apagão de energia ocorrido na manhã desta terça-feira, na avaliação de Joisa Dutra, diretora do Centro de Regulação em Infraestrutura da Fundação Getulio Vargas (FGV Ceri). A pesquisadora, que foi diretora da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), ressalta, em entrevista ao GLOBO, que ainda é cedo para especular sobre possíveis causa da falha na transmissão.

A interrupção do fornecimento de energia pode ser por falta de infraestrutura?
Tudo o que eu sei é que o Erac, o sistema de alívio de cargas, operou uma redução de corte da carga. O dia de hoje é um dia, primeiro, para restabelecer. Pelo que eu sei, agora, a Aneel vai entrar em campo imediatamente. Deverá ser agendada uma reunião do comitê de monitoramento do setor elétrico, para analisar essa interrupção. É um processo relativamente longo. Ele vai produzir consequências, para a gente entender se, de fato, o sistema está conseguindo operar adequadamente esse conjunto de recursos que a gente tem. Dizer qualquer coisa além disso seria precipitado.

O sistema de transmissão tem gargalos?
Não tenho razão para acreditar que ele esteja com gargalos importantes para gerar essa interrupção.

O crescimento da geração solar e eólica exige adaptações no sistema de transmissão?
A adaptação é necessária e entendo que ela vem ocorrendo. Grande parte desse aumento da solar que estamos experimentando é ainda “behind the meter”, ou seja, está conectada na distribuição ou está para trás do medidor do consumidor. Então, isso é uma questão de operação do sistema e não necessariamente de capacidade de transmissão. É uma adequação de todo o sistema. Os investimentos têm ocorrido, os leilões de transmissão continuaram, estão programados e tudo. Entendo que isso é uma questão de aprender com o evento e ver o que aconteceu, porque essa é a nova realidade. Não acho que haja uma grande inadequação.

Qual a consequência do fato de que o aumento da geração solar é na geração distribuída, nos telhados dos consumidores?
A geração distribuída tem duas coisas. Tem as fazendas solares, que estão conectadas no sistema de distribuição, na maior parte das vezes, e tem o painel solar no telhado, que está conectado nas instalações de consumidor, então, não está nem na rede de distribuição. Esse evento de hoje aconteceu no sistema de transmissão. Grande parte da nossa capacidade solar não é necessariamente operada pelo sistema de transmissão.