EUA

Jornalista americano completa 11 anos preso na Síria e família pressiona governo Biden a agir

Austin Tice, hoje com 42 anos, está incomunicável desde que foi raptado, em agosto de 2012

Rice

O jornalista americano e veterano da Marinha Austin Tice, hoje com 42 anos, completou na segunda-feira (14), 11 anos preso e incomunicável na Síria, onde cobria a guerra civil do país para vários meios de comunicação dos EUA. Com isso, ele se torna o jornalista americano há mais tempo preso por um país estrangeiro.

Em nota, na semana passada, o Departamento de Estado dos EUA apelou "ao governo sírio para garantir que Austin Tice e todos os cidadãos americanos mantidos como reféns na Síria possam voltar para casa".

"Os Estados Unidos estão buscando ativamente todos os canais possíveis para buscar seu retorno seguro para sua família e não pararemos até trazermos Austin para casa. Isso inclui discutir este caso com vários países da região".

Sua família, no entanto, pede ações mais concretas. Na segunda-feira, a mãe de Austin, Debra Tice, 62 anos, deu um recado direto ao presidente Joe Biden durante um painel no Clube Nacional de Imprensa, em Washington.

— Senhor presidente, as ações falam mais alto que as palavras. Mostre a Austin que Austin tem valor para você e para o país dele. Que vale a pena trazê-lo para casa.

Tice foi raptado em agosto de 2012, enquanto trabalhava como jornalista cobrindo o conflito sírio. Ele teve matérias publicadas em veículos como Washington Post, Associated Press e AFP , e colaborou com reportagens para as redes CBS , NPR e BBC. Naquele ano, recebeu diversos prêmios pela cobertura, mas estava voltando para os Estados Unidos para continuar seus estudos como estudante de Direito no Georgetown University Law Center quando desapareceu.

O reconhecimento de sua prisão foi feito no fim daquele mês pelo então embaixador da República Tcheca na Síria, em conversas com jornalistas de seu país. Cinco semanas após a captura, circulou um vídeo em que ele aparece vendado e cercado por homens armados em uma encosta rochosa do deserto. Mas ele nunca foi acusado oficialmente ou julgado, e nem se comunicou com autoridades ou com a família nesses 11 anos em que está na Síria.

Antes de se tornar correspondente, Tice serviu nas Forças Armadas. Tornou-se oficial da Marinha em 2005 e foi capitão do Corpo de Fuzileiros Navais — é graduado pela Escola de Serviço Exterior da Universidade de Georgetown. Serviu em várias missões no Oriente Médio antes de frequentar a faculdade de direito.

O caso está na pauta diplomática do governo americano. No último Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, em maio, o secretário de Estado, Antony Blinken, disse que “o país estava conversando com a Síria e outras nações para encontrar uma solução, e que não iria ceder enquanto isso não acontecesse”. O próprio Biden já tinha mencionado o caso de Tice em seu jantar anual com jornalistas que fazem a cobertura da Casa Branca. Mas a organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) exige que os EUA “combinem palavras com ações e adotem todas as medidas para levá-lo de volta para casa".

Em uma entrevista ao jornal Washington Post, no ano passado, o presidente americano disse que o governo dos EUA sabe “com certeza que ele está nas mãos do regime sírio”. O jornalista é considerado sequestrado pelo FBI.

Segundo uma reportagem do jornal local Texas Monthly, autoridades sírias se ofereceram para fornecer informações de prova de vida do prisioneiro, desde que o governo americano concordasse com certas condições — não reveladas. Uma saída poderia ser uma troca de presos ou negociações envolvendo a presença de tropas americanas em território sírio, possibilidades especuladas na mídia mas não confirmadas pelo governo.

Sua mãe, a RSF e outras entidades de liberdade de imprensa acreditam que o esforço não está sendo suficiente. “Depois de 11 anos, simplesmente não há mais desculpas”, disse em um comunicado o diretor da Repórteres Sem Fronteiras nos EUA, Clayton Weimers.

O National Press Club (NPC) também criticou a condução dos EUA no caso, apontando que “é difícil encontrar uma história recente de sucesso do governo quando se trata de libertar reféns jornalistas”.