Michelle Bolsonaro pede ao STF acesso a investigação sobre esquema de desvio de joias
Advogado Daniel Bialski solicitou vista integral de inquérito da PF
A defesa de Michelle Bolsonaro solicitou ao Supremo Tribunal Federal (STF) acesso à investigação da Polícia Federal sobre um suposto esquema que teria desviado para o patrimônio privado do marido Jair Bolsonaro (PL) joias e outros itens recebidos por ele em viagens oficiais. Em petição ao ministro Alexandre de Moraes, o advogado Daniel Bialski, que representa a ex-primeira dama, pediu vista integral do inquérito, incluindo apensos físicos e digitais, além de mídias.
Nesta segunda-feira, em nota, Bialski informou que pediria acesso ao inquérito “conhecer quais as suspeitas existentes e que eventualmente mencionem seu nome”. “Mas, desde logo, esclarece que a senhora Michelle Bolsonaro está absolutamente tranquila porque não participou e desconhece ter ocorrido irregularidade ou ilicitude”, dizia o comunicado.
De acordo com Moraes, que autorizou a deflagração de uma operação contra aliados de Bolsonaro na última sexta-feira, há uma organização criminosa no entorno do ex-presidente. Na decisão, o magistrado afirmou haver indícios de que a venda dos presentes ocorreu por “determinação” dele.
A empreitada incluiu viagens às pressas de aliados para os Estados Unidos para recomprar itens que, após terem sido entregues ao então presidente por autoridades árabes, foram vendidos a joalherias. Alguns dos objetos chegaram a ser levados no avião presidencial para serem vendidos no exterior, quando Bolsonaro deixou o país em 30 de dezembro de 2022.
Entre os alvos da ação da PF estavam o general Mauro Cesar Lourena Cid, pai do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens; o advogado Frederick Wassef, que atua na defesa do ex-presidente; e Osmar Crivelatti, que ainda integra a equipe de assessores de Bolsonaro. Segundo a PF, a ofensiva para se apropriar de bens públicos driblou o setor do Palácio do Planalto responsável por catalogar os presentes dados ao presidente da República.
Um relógio Patek Philippe, entregue a Bolsonaro em 2021 pelo regime do Bahrein, não aparece nos registros oficiais, segundo a PF. Na chefia do Executivo à época, ele recebeu de Cid, em 16 de novembro daquele ano, via WhatsApp, o certificado de autenticidade do modelo, avaliado em US$ 51 mil (cerca de R$ 250 mil, na cotação atual).
A investigação colheu no celular do ex-ajudante de ordens documentos que comprovam a venda da peça, em 13 de junho de 2022, para uma loja na Pensilvânia (EUA). Cid recebeu US$ 68 mil na transação — um relógio Rolex, presenteado pela Arábia Saudita em 2019, também entrou na negociação. O tenente-coronel estava nos Estados Unidos na ocasião acompanhando Bolsonaro na Cúpula das Américas.
Segundo a PF, a falta de registro indica “a possibilidade” de o relógio sequer ter passado pelo então Gabinete Adjunto de Documentação Histórica, sendo desviado diretamente para a posse do ex-presidente Jair Bolsonaro”.
A defesa do ex-presidente afirmou que ele “jamais se apropriou ou desviou quaisquer bens públicos” e disse que a movimentação bancária está “à disposição”. A defesa de Michelle nega irregularidades e diz que os dados bancários dela também estão à disposição. Os advogados de Cid não se manifestaram. Em nota, o Exército afirmou que “não compactua com eventuais desvios de conduta de quaisquer de seus integrantes”.