CPI do MST: chegada de Stédile tem bate-boca e troca de empurrões
Líder do movimento depõe nesta tarde
A chegada de João Pedro Stédile, líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), à CPI do MST, na Câmara dos Deputados, na tarde desta terça-feira (15), em Brasília, teve bate-boca e troca de empurrões no corredor que dá acesso às comissões. Mais de cem ativistas que se identificam com roupas e bonés do MST tentam entrar no plenário que só tem capacidade para 80 pessoas, entre parlamentares e outros profissionais.
Stédile precisou ser amparado por deputados, que criaram uma espécie de cordão de isolamento, diante do empurra-empurra. Um dos advogados de Stédile trocou empurrões com um policial que controlava o acesso à Comissçao. Diante da iminência de briga, a deputada Talíria Petrone (PSOL-RJ) precisou intervir e se colocar no meio dos dois, que se ameaçavam e chegaram a trocar agressões.
Em depoimento à CPI do MST, o fundador e principal liderança do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, João Pedro Stédile, afirmou que . Ele é interrogado pelo colegiado nesta terça-feira (15).
Com a presidência e relatoria do colegiado ocupadas pela oposição, os governistas preparam uma estratégia para blindar o líder do MST e dissociá-lo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), no depoimento desta terça. Em uma reunião na noite de segunda, parlamentares governistas alinharam as perguntas que serão feitas a Stédille, de forma a deixar com que ele transpareça um "tom propositivo" em relação às questões relativas à Reforma Agrária.
Após o interrogatório, Stédile é esperado na Marcha das Margaridas, evento organizado pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), e que contará com a presença de lideranças governistas.
No depoimento, Stédille deve seguir expondo as suas divergências com Lula e, pelo alinhavado, defenderá que o grupo tem o direito de tecer críticas ao governo, justamente, por ter ajudado a elegê-lo. Desta forma, ele também exime os governistas de responsabilidade ou conivência pelas recentes invasões irregulares — inclusive, em áreas produtivas da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária).
Este, aliás, vem sendo o discurso adotado por ele nos últimos tempos. Em entrevista recente ao site da revista "Carta Capital", Stédile também alertou que "sempre haverá" ocupações de terra, sobretudo se o ritmo de distribuição de áreas para assentar não for considerado satisfatório.
Perguntado se há previsão de novas ocupações de terras este ano, Stédile respondeu que "isso depende muito". Nos primeiros meses de governo Lula, em especial durante o chamado Abril Vermelho — período em que o MST historicamente intensifica suas ações —, o ritmo das incursões do movimento foi alvo de críticas por parte de integrantes do Planalto.
Este vem sendo considerado "o último grande depoimento da CPI do MST", que teve os seus trabalhos esvaziados por ação de partidos que negociam a entrada no primeiro escalão do governo. Na semana passada, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), anulou a convocação do ministro da Casa Civil, Rui Costa, à CPI do MST. A medida foi tomada horas antes do previsto para o início do depoimento.
Em outra frente de ação, partidos como Republicanos, que também negocia ministérios com o Palácio do Planalto, decidiram desligar da comissão os deputados alinhados ao bolsonarismo. Diante dos dois movimentos, a cúpula da CPI desistiu de pedir a prorrogação de seus trabalhos por mais 60 dias.
Na decisão que impediu o depoimento, Lira afirmou que “não se demonstrou no requerimento a conexão entre as atribuições do Ministro da Casa Civil da Presidência da República e os fatos investigados pela CPI sobre o MST”. A medida foi tomada a partir de uma reclamação apresentada pelo deputado governista Nilto Tatto (PT-SP).
Já o movimento para mudar a composição da colegiado que mira o MST começou com o líder do Republicanos na Câmara, Hugo Motta (PB). Na terça-feira, ele formalizou o desligamento de dois bolsonaristas: o titular Messias Donato (ES) e o suplente Diego Garcia (PR). Ainda não há substitutos para eles, e a CPI funcionará com dois membros a menos em seus quadros.