RIO DE JANEIRO

Professora sequestrada e morta fazia vídeos sobre religião e era generosa: "Fazia tudo que pediam"

Corpo de vítima foi encontrado poucas horas após ela ligar para a mãe e informar o sequestro

Corpo da professora foi encontrado carbonizado - Reprodução / Rede Social

Vitória Romana Graça, de 26 anos, foi encontrada carbonizada na última sexta-feira (11), em Senador Camará, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. A principal suspeita do crime é a mãe de sua ex-namorada e a menina, uma adolescente de 14 anos, com quem ela teve um relacionamento durante quatro meses.

Moradora de Campo Grande, também na Zona Oeste, Vitória se definia nas redes sociais como youtuber e digital influencer. Em seu perfil, há diversos vídeos educativos e outros sobre religião, assunto pelo qual ela tinha um canal no YouTube chamado "Eu escolho Deus Channel". O canal teve o último vídeo publicado há dois anos.

O canal de Vitória no Youtube foi criado em 2017, quando ela tinha cerca de 20 anos. Os vídeos variam entre conteúdo cristão, mensagens motivacionais e rotina ao lado dos pais idosos. No total, são 31 vídeos publicados na plataforma. Ela também tinha um perfil no Instagram dedicado ao canal, com 196 seguidores.

Apesar de ter deixado de publicar vídeos no canal do Youtube há dois anos, ela continuou produzindo vídeos para Instagram, principalmente em um perfil dedicado ao seu trabalho como professora de idiomas e de reforço escolar. As aulas aconteciam na casa da mãe dela, também em Campo Grande. Ela aparecia sempre animada ao lado dos alunos, falando em inglês ou comemorando o progresso dos estudantes. Há aproximadamente quatro meses, passou a dar aulas na Escola Municipal Oscar Thompson, em Santíssimo, também na Zona Oeste.

Segundo um amigo da vítima, que também trabalha na escola, Vitória lhe confessou que era bissexual e falou sobre o relacionamento com a adolescente em algumas ocasiões, em conversas fora da unidade. Em depoimento à polícia, ele disse que o relacionamento com a suspeita terminou porque Vitória achava que mãe da jovem estava se aproveitando do romance para se beneficiar financeiramente.

Segundo relato de uma testemunha, a professora fez um desabafo no dia em que desapareceu. Cansada de arcar com despesas de Paula e sua filha, a vítima teria dito que já havia ajudado bastante a família e que não tinha mais condições.

De acordo com um amigo da professora, Vitória era uma pessoa "de mão aberta", que fazia tudo que as pessoas pediam e estivesse ao seu alcance. Ele classificou Vitória como uma pessoa "muito prestativa". O amigo também contou à polícia que a professora costumava auxiliar a família da suspeita com compras de cestas básicas e itens para a casa.

Pagamento da conta de oito pessoas em rodízio
Em depoimento, ele narrou um episódio em que Vitória ficou chateada com uma atitude da mãe da adolescente. Paula teria convidado a vítima para comemorar o aniversário de um dos filhos em um rodízio. Na hora de ir embora, ela teria dito para Vitória que não tinha dinheiro, forçando-a a pagar a conta de oito pessoas, segundo depoimento.

No dia em que Vitória desapareceu, Paula apareceu na escola acompanhada do irmão para dizer que a filha não havia aceitado bem o fim do namoro e pediu que as duas conversassem “fora do seu local de trabalho”.

O amigo da vítima contou à polícia que sugeriu a Vitória que encontrasse com a mulher em um local público, “de preferência um shopping, onde tem muitas pessoas”. De acordo com funcionários do colégio, o filho de Paula estuda na unidade, motivo pelo qual ela conseguiu entrar no estabelecimento com facilidade naquele dia.

Em depoimento, a mãe de Vitória contou que o último contato com a filha foi às 5h da última sexta-feira, dia em que foi morta. Segundo ela, a vítima afirmou — com voz de choro — ter sido sequestrada e que não sabia informar a localização, mas que precisava que a mãe pagasse R$ 2 mil aos criminosos.

A mãe da professora não informou quantas ligações foram feitas, mas disse que, em meio às tentativas de falar novamente com a filha, foi atendida por um homem e uma mulher, que ressaltavam o pedido por dinheiro. O laudo do Instituto Médico-Legal (IML) mostra que a professora foi queimada ainda viva.

Segundo o documento, a vítima morreu por aspiração de fuligem. Seu corpo foi encontrado por moradores por volta das 8h daquele dia, na Praça Damasco.

Mandado de prisão em aberto
Paula já tinha mandado de prisão em aberto por roubo qualificado. No último domingo, ela participou de duas audiências de custódias. Uma em relação ao sequestro e morte da professora, e a outra por ter sido condenada, em 2014, a seis anos de prisão por roubo.

No processo, consta que ela fez quatro roubos em pouco espaço de tempo, acompanhada de um menor infrator. Um trecho da decisão da época diz que Paula usou “um simulacro de arma de fogo, denotando a extrema ousadia da acusada e denota sua conduta social distorcida”.

Passado de crimes
Há três registros na folha de antecedentes criminais de Paula. A primeira aconteceu em 2010, quando a mulher foi acusada de "lesão corporal decorrente de violência doméstica". Contudo, em 2021, um juiz determinou a extinção da punibilidade dela, ou seja, anulou a possibilidade dela ser presa.

Já em 2013, Paula foi presa por roubo na companhia de um menor de 18 anos, situação considerada "corrupção de menor", um agravante de pena. No ano seguinte, ela foi condenada a mais de 6 anos de prisão, dos quais cumpriu 1 ano e oito meses em regime semiaberto. A sentença continua em aberto.

O último anotado diz respeito ao crime no qual ela foi presa no último sábado, o de "extorsão mediante sequestro". A Polícia Civil ainda está investigando o assassinato da professora, que pode ser incluído