EX-PRESIDENTE

Seis ex-ajudantes de Bolsonaro movimentaram quase R$ 12 milhões em um ano e meio; saiba quem são

Informações constam em relatórios do Conselho de Controle de Atividades Financeiras que estão sob análise da CPMI de 8 de janeiro

Jair Bolsonaro, ex-presidente do Brasil - Tânia Rêgo/Agência Brasil

O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), órgão de combate à lavagem de dinheiro, detectou uma movimentação financeira total de R$ 11,8 milhões nas contas de seis ex-auxiliares de Jair Bolsonaro entre janeiro de 2022 e maio de 2023. A informação foi publicada pelo G1 e confirmada pelo Globo.

As informações constam em relatórios de inteligência financeira (RIFs) que estão sob análise da CPMI de 8 de janeiro. A PF também rastreou transações financeiras da ordem de R$ 133,3 mil entre os seis ex-ajudantes de ordens.

São eles: Mauro César Cid, Luis Marcos dos Reis, Luiz Antonio Oliveira, Osmar Crivelatti, Jairo Moreira da Silva e Adriano Alves Teperino. Todos são militares, trabalharam na equipe da Ajudância de Ordens da Presidência (AJO) e faziam parte das comitivas de viagens nacionais e internacionais de Bolsonaro.

Nos documentos, o Coaf apontou a "atipicidade" das movimentações em função de parte delas não serem condizentes com a renda dos ex-assessores. Conforme o Portal da Transparência, eles recebiam rendimentos que vão de R$ 27 mil a R$ 10 mil.

A maior movimentação financeira foi do tenente-coronel Mauro Cid, de R$ 6,7 milhões. Ele chefiava a equipe da AJO e era considerado "braço-direito" de Bolsonaro. Acompanhava-o em praticamente todas as agendas e viagens oficiais e cuidava das contas e despesas pessoais do ex-presidente.
 

A proximidade com Bolsonaro levou o tenente-coronel a virar alvo de inquéritos da Polícia Federal por suspeita de disseminar fake news durante a pandemia, participar de um esquema de desvio de joias recebidas pela Presidência e falsificar cartões de vacinação — por este último caso, ele está preso preventivamente desde maio.

A PF também encontrou no celular do militar mensagens e documentos que falavam em decretar um chamado "Estado de Sítio" para impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Anteriormente, a defesa de Cid explicou que as movimentações financeiras dele correspondiam a "resgates de investimentos" e "empréstimo familiar" que foram "devidamente declarados para quitação de contas familiares e aquisição de um imóvel".

A segunda maior movimentação indicada é do segundo sargento Luis Marcos Reis, de R$ 3,3 milhões. Subordinado a Cid, Reis tinha o cargo de supervisor da Ajudância de Ordens de Bolsonaro e, segundo o próprio currículo, era “responsável pelo atendimento das demandas pessoais” do ex-presidente.

Assim como Cid, ele também está preso suspeito de participar do suposto esquema que adulterou dados de vacinação de Bolsonaro, Cid e dos seus respectivos familiares. Foi ele quem indicou um médico de Goiás para fornecer um certificado de vacina contra Covid à esposa de Cid.

No celular dele, a PF ainda encontrou diálogos nos quais ele diz que participou dos atos de 8 de janeiro. A defesa de Reis afirmou que só se pronunciaria sobre as movimentações financeiras depois que tivesse acesso aos documentos da CPMI, o que não aconteceu ainda.

A terceira maior movimentação apontada é do segundo sargento Luiz Antonio Gonçalves de Oliveira, de R$ 582 mil. Assim como seus colegas de trabalho, ele foi alvo de quebras de sigilo bancário determinadas pelo ministro Alexandre de Moraes. Ele integrava as comitivas presidenciais e chegou a realizar alguns pagamentos para familiares da Michelle Bolsonaro.

Ao Globo, o sargento afirmou que as informações estão "erradas" e que não tem esse dinheiro na conta dele. — Não tenho a nada declarar sobre isso — disse ele.

A quarta movimentação financeira mais volumosa foi registrada nas contas do segundo tenente Osmar Crivelatti, de R$ 508 mil. Ele foi alvo de um mandado de busca e apreensão na operação da última sexta-feira que apura o desvio de joias dadas a Bolsonaro.

Ele trabalha com o ex-presidente desde o início do mandato em 2019 e, em 1 de janeiro deste ano, foi nomeado como assessor do ex-presidente - função que desempenha até hoje. Procurado, ele não respondeu aos contatos.

A quinta movimentação, de R$ 453 mil, foi atribuída ao primeiro-sargento da Marinha Jairo Moreira da Silva. Foi ele que foi mandado por Cid ao aeroporto de Guarulhos para retirar as joias sauditas retidas na Receita Federal, em 29 de dezembro de 2022. A viagem dele tinha como objetivo oficial “atender a demandas do Senhor Presidente da República naquela cidade”.

No caso das joias, ele chegou a prestar depoimento à PF na condição de testemunha. Procurado, o militar não respondeu aos contatos.

O último ajudante de ordens que teve as transações rastreadas foi o primeiro tenente Adriano Teperino, de R$ 268 mil. Ele exercia o cargo de coordenador administrativo da Ajudância de Ordens e era responsável por organizar as escalas de serviço da equipe.

Na caixa de e-mails dele, que está sendo analisada pela CPI, há uma série de comprovantes de depósitos em nome da ex-primeira dama Michelle Bolsonaro.

Procurado, ele não respondeu aos contatos.