"festa de Selma"

Entenda expressão usada em grupos de WhatsApp para convocar golpistas nos atos do 8 de janeiro

Bolsonaristas usaram expressão para despistar monitoramento. Nova fase de operação da PF mira pessoas que incitaram, participaram e fomentaram os fatos ocorridos nas sedes dos Três Poderes

Imagem que circula em grupos de whatsapp bolsonaristas - Reprodução

Grupos de WhatsApp tiveram papel central na organização da invasão das sedes dos Três Poderes por terroristas apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro no dia 8 de janeiro.

O alerta, à época, foi apresentado por um monitoramento feito pela empresa de análise de dados Palver, que acompanhava mais de 17 mil grupos públicos no aplicativo de troca de mensagens, inclusive bolsonaristas.

Nesta quinta-feira, a Polícia Federal deflagrou uma nova fase da Operação Lesa Pátria, que mira os suspeitos de terem fomentado o movimento violento chamado de "Festa da Selma" — a expressão era uma espécie de código utilizado para se referir às invasões na capital federal.

Mensagens com orientações e convocações para a tomada de prédios públicos e das ruas circularam ao menos desde o dia 5 de janeiro no WhastApp. “Festa da Selma” era uma forma de burlar monitoramentos de autoridades para se referir aos ataques.

Uma das mensagens com maior circulação, ainda de acordo com dados da Palver, foi uma espécie de manual sobre como agir durante os ataques a prédios públicos, que circulou em diferentes versões. “Jamais iniciem a invasão sem haver uma multidão que tome todos os 3 poderes ao mesmo tempo, ou seja, só iniciem a invasão aos 3 poderes (sic*) quando houver patriotas o suficiente pra invadir tudo!”, dizia um trecho.
 

Outro trecho indica que o objetivo da ação era permanecer nesses prédios após a invasão: “Essa ação tem que ser uma ação com regras de: Ninguém entra e ninguém Sai! Ou seja, quem estiver lá dentro não poderá sair, não importa se são aliados ou não, ninguém sairá após a tomada dos 3 poderes”.

O texto também incentivava invasões em prédios de prefeituras e governos estaduais. “Aqueles que não puderem ir à Brasília, deverão ir nas prefeituras, câmaras municipais, câmaras de vereadores, sede dos Governadores de cada estado, devendo entrar todos juntos, não entrem em grupos pequenos pra não serem atacados por seguranças ou policiais (mercenários), pra entrarem nestes locais, certifiquem-se de haver multidão o suficiente pra invadirem todos os espaços”, dizia uma parte da mensagem.

Um vídeo atribuído ao canal LibertyBR também foi usado como forma de convocação. O conteúdo com discurso antipolítica mescla cenas do filme “V de Vingança” com imagens de Brasília e incentiva a destruição de prédios públicos.

Lesa Pátria
A nova fase da Lesa Pátria cumpre dez mandados de prisão e outros 16 de busca e apreensão contra pessoas que incitaram, participaram e fomentaram os fatos ocorridos em 8 de janeiro. O GLOBO apurou que, entre os alvos de prisão, estão o pastor Dirlei Paiz, de Blumenau (SC), e a cantora evangélica Fernanda Oliver, de Tocantins. Autorizadas pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, os mandados são cumpridos em Goiás, Paraíba, Paraná, Santa Catarina, Bahia e no Distrito Federal.

“O termo Festa da Selma foi utilizado para convidar e organizar transporte para as invasões, além de compartilhar coordenadas e instruções detalhadas para a invasão aos prédios públicos. Recomendavam ainda não levar idosos e crianças, se preparar para enfrentar a polícia e defendiam, ainda, termos como guerra, ocupar o Congresso e derrubar o governo constituído”, diz o trecho da nota da PF.

Segundo a nota da PF, os crimes investigados se referem a "abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado, associação criminosa, incitação ao crime, destruição e deterioração ou inutilização de bem especialmente protegido e crimes da lei de terrorismo".