RIO DE JANEIRO

Amarrada, enforcada e carbonizada: sequestro de professora durou ao menos nove horas

Vitória Romana Graça chegou ao local do crime às 21h e foi mantida em cárcere até o amanhecer

A professora Vitória Romana Graça, de 26 anos, foi morta; seu corpo foi encontrado carbonizado - Reprodução/Facebook

Ao sair do trabalho e chegar às 21h na casa de Paula Custódio Vasconcelos, mãe de sua ex-namorada, a professora Vitória Romana Graça, de 26 anos, foi imediatamente imobilizada e amarrada com fitas em uma cadeira, onde foi torturada. As horas subsequentes foram preenchidas com ameaças, extorsões e roubos, até que, ao nascer do sol, cerca de nove horas depois, ela foi enforcada. As informações fazem parte do depoimento de Edson Alves Viana Junior, irmão de Paula e suspeito de participar do crime, feito na quarta-feira à polícia.

Em seu relato, Edson não compartilha uma cronologia exata sobre o crime, mas diz que Vitória chegou à casa de Paula, em Senador Camará, Zona Oeste do Rio, às 21h do dia 10 de agosto. Em seguida, ela foi amarrada com fitas em uma cadeira, onde os suspeitos, com a digital da vítima, fizeram transferências bancárias pelos aplicativos instalados no celular dela.

Ao esgotar as possibilidades de tirar dinheiro de Vitória, Paula vai, na companhia da filha de 14 anos e ex-namorada da professora, até a casa dela, onde rouba o botijão de gás, maquiagens e outros pertences.

Elas retornam à casa onde Vitória estava em cárcere e decidem extorquir a mãe dela. Ligam para a mulher pedindo R$ 2 mil pelo resgaste, mas a quantia não foi transferida. No depoimento, Edson fala que mesmo se a transferência tivesse sido feita, sua irmã não deixaria a professora sair com vida do local.

Com o dia amanhecendo (por volta das 5h17), conta Edson, Paula, frustrada por não conseguir mais dinheiro de Vitória, amarra uma corda no pescoço da professora. Neste momento, o suspeito assume uma das pontas da corda e sua irmã a outra. Juntos, ambos enforcam a mulher por cerca de 30 minutos até terem certeza de sua morte. Eles chegaram a despejar álcool nos olhos de Vitória para se certificarem de que ela havia mesmo morrido.

Eles colocaram o corpo da professora dentro de uma mala, foram até o carro dela, um GM Celta, e a deixaram dentro do porta-malas. Paula foi dirgindo o veículo, Edson no banco do carona e a sobrinha foi no de trás. Os três chegaram até um terreno ermo em Senador Camará, onde atearam fogo na mala e abandonaram o automóvel em um posto de gasolina próximo.

Ao contrário do que imaginavam, Vitória não estava morta ao ser queimada. De acordo com o laudo cadavérico, a causa da morte foi "intoxicação por fumaça".

Relembre o caso
Na manhã do dia 11, por volta das 7h15, a polícia foi acionada para uma ocorrência na Praça Damasco, em Senador Camará, na Zona Oeste. No chamado, já foi informado que se trataria de uma vítima carbonizada, até então sem identificação. O corpo foi encontrado pelas equipes por volta das 8h no local.

O laudo do Instituto Médico-Legal (IML) apontou que a professora ainda estava com vida quando teve seu corpo queimado. No exame foi apontado aspiração de fuligem. Ferragens e tecidos encontrados no local do crime levam a polícia a acreditar que a vítima estava numa mala quando os criminosos atearam fogo.

Sem saber da morte da filha, a mãe de Vitória foi à 35ª DP (Campo Grande) registrar o desaparecimento da professora.

Suspeitas presas
No mesmo dia, um vizinho da mãe da vítima auxiliava nas buscas pela professora em Senador Camará quando ouviu que duas moradoras foram expulsas por "sequestrar uma pessoa". As informações foram contadas para agentes que participavam das buscas, quando passavam pelo local, por volta das 15h, em uma viatura. Mãe e filha foram encontradas às margens da Avenida Santa Cruz naquela tarde e levadas para a delegacia.

Lá, as duas prestaram depoimento e se tornaram as principais suspeitas pelos crimes de sequestro e assassinato. Paula — que já tinha um mandado em aberto por roubo qualificado — foi presa, e a filha dela, de 14 anos, apreendida. Dois dias depois, Paula teve a prisão em flagrante convertida em preventiva após audiência de custódia. À polícia, a adolescente disse não ter envolvimento com o crime.