Máscara e vacina: o que pode mudar na rotina com a nova variante da Covid
Especialistas pedem que população complete o esquema vacinal com a dose bivalente e leve os filhos para receber a proteção
O último monitoramento da Covid-19 emitido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) mostrou que, de 10 de julho a 6 de agosto, o número de casos da doença cresceu 80% em relação aos 28 dias anteriores no mundo – embora as mortes tenham caído 57%.
Relatos de aumento das infecções têm se tornado comuns entre países do Hemisfério Norte em meio ao avanço de uma nova subvariante do coronavírus, a EG.5, apelidada de “Eris”.
Especialistas ouvidos pelo Globo afirmam que, assim como ocorreu com as outras versões da Ômicron, que sucessivamente se tornaram prevalentes desde o início do ano passado, a tendência é que a EG.5 se espalhe no Brasil e leve a um aumento dos casos. Porém, acreditam que a tendência é não ter grandes impactos nas internações e óbitos.
— A expectativa é que tenhamos um aumento do número de infecções por essa nova variante, uma vez que ela tem maior capacidade de transmissão. Podemos chegar a ter um aumento nas hospitalizações entre aqueles de maior risco, mas não esperamos que ocorra um aumento da mortalidade — diz a infectologista da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Raquel Stucchi.
Sobre o uso de máscaras, eles afirmam que, no contexto de maior circulação do vírus e potencial aumento de casos, elas devem ser consideradas pelos grupos mais vulneráveis durante situações de maior risco, como no transporte público. Já para os demais, não há recomendação no momento.
— Pessoas mais idosas, imunossuprimidas e gestantes devem evitar locais com aglomeração e mal ventilados. Se frequentarem esses locais, o uso da máscara é indicado. Mas para a população como um todo, não há necessidade. A adoção do item tem que ser uma medida indicada quando realmente vai trazer algum efeito benéfico, o que não é o caso para a maioria — afirma a infectologista Rosana Richtmann, coordenadora do comitê de imunizações da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).
Além disso, os médicos destacam que o mais importante agora é ampliar a cobertura vacinal com a dose bivalente no país, adaptada para oferecer uma maior proteção contra as versões da Ômicron, caso da EG.5. Segundo o Vacinômetro do Ministério da Saúde, apenas 15,5% da população elegível recebeu a aplicação.
— O foco não é o uso de máscara, são as vacinas. Minha preocupação maior é que a cobertura no país de modo geral está baixíssima para a dose bivalente, que é a principal forma de proteção que temos hoje. Muitos dos grupos vulneráveis não estão com a vacinação adequada e fizeram a última dose há mais de um ano, quando sabemos que a proteção cai com o tempo — alerta o infectologista Alberto Chebabo, presidente da SBI.
O pediatra Renato Kfouri, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), destaca ainda a importância de os pais levarem os filhos para serem vacinados. No Brasil, as doses contra a Covid-19 estão disponíveis para todos a partir de seis meses de idade.
— A Covid-19 ainda é a doença infecciosa que mais mata. E onde nós vemos maiores taxas de incidência de hospitalização é na população pediátrica. Justamente porque é uma população que foi pouco vacinada e nem teve contato com o vírus, então é o grupo mais vulnerável. Não vacinar as crianças é o maior equívoco em termos de saúde pública hoje — diz.
Recentemente, um levantamento do Observa Infância, projeto da Fiocruz em parceria com o Centro Arthur de Sá Earp Neto (Unifase), mostrou que somente 11,4% das crianças com idades entre 6 meses e 4 anos foram completamente vacinadas.
Quando analisados apenas aqueles de 6 meses a 2 anos, que são os responsáveis pela maior parcela dos casos infantis graves da Covid-19, a cobertura é ainda menor: apenas 2,9% receberam as três doses orientadas.
Em nota divulgada nesta quinta-feira sobre a nova subvariante do coronavírus, além de reforçar as informações sobre as vacinas e o uso da proteção facial, a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) também pede que as pessoas se testem em caso de sintomas gripais, algo que tem sido cada vez menos comum.
— É preciso aumentar a oferta de testes para detecção precoce de mudança no cenário epidemiológico e isolamento dos casos positivos. Os sintomas pela nova variante envolvem dor de garganta, coriza, nariz entupido, espirros, tosse sem e com catarro, dor de cabeça, voz rouca, dor muscular e olfato alterado. Já falta de ar, perda de olfato e febre não são mais os principais sinais da Covid-19 — explica o infectologista do Instituto Emílio Ribas Leonardo Weissmann.
O que é a nova variante da Covid?
Desde que a primeira versão da Ômicron (a BA.1) foi descoberta na África do Sul, no final de 2021, a linhagem tem se desdobrado em uma série de versões que, por serem mais transmissíveis e com maior potencial de causar reinfecção, substituem umas às outras sucessivamente.
Foi o caso ainda no início do ano passado com a BA.2, e depois, no meio de 2022, com a BA.4 e BA.5. Mais recentemente, no final do ano passado e início deste ano, predominaram as diversas versões da XBB, como a XBB.1.5 e a XBB.1.1.6. Agora, a EG.5 é a mais recente.
No último dia 9, a OMS emitiu uma avaliação de risco sobre sublinhagem, destacando que ela é uma descendente da XBB e que, baseado na evidência disponível, o risco é baixo, semelhante ao das cepas anteriores. “Não houve nenhuma alteração relatada na gravidade da doença até o momento”, disse.
— Existe uma imunidade de memória, celular, que tem se mantido com as vacinas, minimizando o impacto dessas novas variantes em termos de hospitalização e óbito — destaca Ritchmann.
Desde que foi detectada pela primeira vez, ainda em fevereiro, a EG.5 chegou em 51 países de acordo com a OMS. Não há casos oficiais no Brasil, mas grande parte do monitoramento genético necessário para identificar uma nova cepa deixou de ser feito com o fim do cenário de emergência. Por isso, a SBI diz, em nota, que ela pode já estar circulando “de forma silenciosa”.
Nos Estados Unidos, onde a vigilância genômica é mais ativa, dados dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) mostram que a EG.5 cresceu nas últimas semanas e se tornou a mais prevalente.
Porém, as hospitalizações e óbitos variaram apenas 14,5% e 10%, respectivamente, na última semana, o que indica cenário de estabilidade. As mortes, por exemplo, seguem abaixo de 400 a cada sete dias no país – menor patamar de toda a pandemia e bem distante das 26 mil que os EUA chegaram a registrar na primeira semana de 2021.
Casos no Brasil estão aumentando?
Segundo os dados mais recentes do Ministério da Saúde, na semana que terminou no último dia 12 foram 11.332 novos casos de Covid-19 no Brasil. Em comparação com o total de duas semanas antes, o número variou 6,5% para cima, o que indica cenário de estabilidade. Nos últimos dois meses não houve grandes variações, com os registros oscilando de 10 a 15 mil novos casos a cada sete dias.
Nessa época no ano passado, eram mais de 150 mil novos diagnósticos semanalmente no país. Para comparação, no pior momento de contágio da pandemia, quando a variante Ômicron começou a se espalhar pelo mundo, no início de 2022, o país chegou a registrar mais de 1,3 milhão de novos casos em uma semana.
Em relação às mortes, do dia 6 ao dia 12 de agosto foram 157 vidas perdidas para o novo coronavírus. O número indica uma alta de 16,3% em comparação com duas semanas antes. Ao se analisar os últimos dois meses, porém, é possível observar que o total de óbitos a cada sete dias no Brasil variou de 103 a até 245.
Já no ano passado, a segunda semana de agosto contabilizou sozinha 1.461 mortes. No período mais letal da crise sanitária, em abril de 2021, houve uma semana em que o Brasil registrou 21,1 mil óbitos pela Covid-19.