BRASIL

Walter Delgatti depõe novamente à PF após entregar áudio de suposto pagamento

Hacker será ouvido às 9h desta sexta-feira em Brasília; nesta quinta, ele disse na CPI do 8 de Janeiro que participou de uma trama golpista a pedido de Bolsonaro

Hacker Walter Delgatti Netto é intimado a prestar novo depoimento a Polícia Federal - Marcos Oliveira/Agência Senado

O hacker Walter Delgatti Neto presta novo depoimento à Polícia Federal às 9h desta sexta-feira, em Brasília. É a terceira vez que ele é ouvido no âmbito do inquérito que investiga a invasão dos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), ocorrida em janeiro deste ano. A PF quer esclarecer dúvidas sobre os pagamentos que ele afirmou ter recebido da deputada Carla Zambelli (PL-SP) para atacar o Judiciário.

O valor que Delgatti disse ter recebido, de R$ 40 mil, é superior ao que a PF suspeita que foi pago. O hacker disse que ganhou R$ 13,5 mil em depósitos bancários e que o restante foi entregue em dinheiro vivo. Ele descreveu as situações em que supostamente recebeu os pagamentos em espécie e apresentou extratos de sua conta bancária com os depósitos, feitos por ele próprio, nos dias seguintes aos repasses.

No depoimento anterior à PF, na quarta-feira, Delgatti entregou aos investigadores uma mensagem de áudio em que uma mulher diz que está ocupada porque está trabalhando na campanha eleitoral, mas que em seguida vai procurá-lo para acertar um pagamento. O hacker disse à PF que o áudio foi enviado a ele por uma assessora de Zambelli e mostra que, desde a campanha eleitoral do ano passado, ele recebe da parlamentar. A polícia vai investigar quem é a dona da voz na mensagem.

Nesta quinta, Delgatti foi ouvido na CPI do 8 de Janeiro, no Congresso, e reiterou que invadiu o sistema do CNJ a mando de Zambelli. A parlamentar nega. No depoimento à CPI, ele foi além do que já disse à PF e relatou ter participado de uma suposta trama golpista que teria o envolvimento de Jair Bolsonaro. O ex-presidente nega qualquer irregularidade.
 

Aos congressistas, o hacker disse que foi levado por Zambelli ao Palácio da Alvorada, em 10 de agosto de 2022, para falar sobre a possibilidade de as urnas eletrônicas serem fraudadas. A ideia inicial era que Delgatti fizesse declarações públicas contra os equipamentos para tumultuar a eleição. Do Alvorada, segundo seu relato, o hacker seguiu para o Ministério da Defesa, onde teria conversado sobre a segurança das urnas com militares, que, àquela altura, estavam tentando encontrar falhas no processo conduzido pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Em outra frente de atuação, ainda de acordo com Delgatti, Bolsonaro pediu a ele que assumisse um grampeamento do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que viria a público no período eleitoral. O plano seria descredibilizar Moraes utilizando a fama alcançada por Delgatti com a invasão do Telegram de procuradores da operação Lava Jato, ocorrida em 2019. O objetivo do ataque ao magistrado seria criar um ambiente para a contestação do resultado das urnas.

O inquérito aberto na PF, no qual Delgatti será interrogado hoje, investiga somente a invasão do CNJ. Nessa invasão, foi inserido no sistema um falso mandado de prisão contra Moraes assinado por ele mesmo. Os demais pontos abordados pelo hacker na CPI, como os contatos com Bolsonaro e com os militares, não fazem parte da investigação até o momento. As declarações dadas no Congresso devem motivar, segundo investigadores, a abertura de novas frentes de apuração.

Em nota, a defesa de Zambelli disse que “refuta e rechaça qualquer acusação de prática de condutas ilícitas e ou imorais pela parlamentar”. Segundo a defesa, as versões de Delgatti “mudam com os dias, suas distorções e invenções são recheadas de mentiras, bastando notar que a cada versão, ele modifica os fatos, o que é só mais um sintoma de que a sua palavra é totalmente despida de idoneidade e credibilidade”.

Os advogados de Bolsonaro afirmaram, também em nota, que “adotará as medidas judiciais cabíveis” contra o hacker, “que apresentou informações e alegações falsas, totalmente desprovidas de qualquer tipo de prova, inclusive cometendo, em tese, o crime de calúnia”. Segundo Bolsonaro, após o encontro com Delgatti no Palácio da Alvorada, “o ex-Presidente nunca mais esteve na presença de tal depoente ou com ele manteve qualquer tipo de contato direto ou indireto”.