NEGÓCIOS

Com salto nas vendas, fabricante dinamarquesa do Ozempic e do Wegovy já vale mais que o PIB do país

Obsessão por emagrecer nos EUA elevou as exportações da Dinamarca

Fábrica da Novo Nordisk na Dinamarca - reprodução/Google Maps

A obsessão nos Estados Unidos por medicamentos para perda de peso, como o Ozempic e o Wegovy, está desequilibrando a economia da Dinamarca. O sucesso dos dois remédios, fabricados pelo laboratório dinamarquês Novo Nordisk, fez as vendas para o exterior saltarem, levando a uma enxurrada de dólares ao país, segundo reportagem do The Wall Street Journal.

Com isso, o banco central dinamarquês se viu obrigado a manter a taxa de juros mais baixa que a do Banco Central Europeu (BCE), enfraquecendo a moeda local. Taxas de juros elevadas atraem investidores estrangeiros em busca de rentabilidade.

Em paralelo, o valor de mercado da companhia subiu mais de 30%, atingindo cerca de US$ 419 bilhões, mais que o Produto Interno Bruto (soma de bens e serviços produzidos no país), que hoje é de US$ 406 bilhões, aponta o WSJ.

Atualmente, a Novo Nordisk é a segunda empresa de capital aberto mais valiosa da Europa, depois da marca de luxo LVMH, dona da Louis Vuitton. Já ultrapassou pesos pesados, como a Lego e o grupo cervejeiro Carlsberg.

Impulso até ao setor de imóveis
As vendas de Ozempic e Wegovy nos EUA têm sido tão fortes que a empresa teve de converter dólares em coroas em quantidades excepcionalmente grandes, aumentando o valor da coroa, a moeda da Dinamarca, em relação ao euro, informou o diretor do Danske Bank, Jens Naervig Pedersen.

A coroa é atrelada ao euro, e, para manter seu valor estável em relação ao da moeda comum europeia, o banco central de Copenhague ajusta as taxas de juros e faz outras intervenções.

Analistas estimam que as vendas de medicamentos para perda de peso da Novo Nordisk alcancem US$ 6,1 bilhões este ano e cheguem a quase US$ 15 bilhões em 2027.

Economistas ouvidos pelo WSJ afirmam que, de modo geral, o sucesso da Novo Nordisk é favorável para a economia dinamarquesa, pois ela se beneficiará de mais empregos criados a partir do crescimento da empresa.

Além disso, apontam, as taxas de juros mais baixas também beneficiam os compradores de imóveis, que podem garantir hipotecas mais baratas que no resto da Europa.

Caso da Finlândia serve de exemplo
Mas o fato de uma empresa nacional desempenhar um papel tão desproporcional na economia acarreta riscos, aponta o Wall Street. O jornal lembra o caso de outro país nórdico, a Finlândia, cuja economia foi dominada pela Nokia por anos.

Em seu auge, em 2000, a empresa de telecomunicações foi responsável por 4% do PIB do país, mais de um quinto das exportações e cerca de 70% do valor da Bolsa.

Embora tenha desempenhado um papel importante no crescimento da Finlândia de 1995 a 2007, o declínio da Nokia, após 2008, acabou coincidindo com uma década de estagnação econômica do país.

O colapso do mercado de celulares da empresa, devido em parte à concorrência do iPhone, lançado pela Apple em 2007, fez com que se agravassem os problemas econômicos do país. Sob as políticas de austeridade e a crise da zona do euro, a Finlândia enfrentou um declínio da renda per capita na década seguinte.