Futebol

Neymar chega à Arábia com pingente de crucifixo; entenda como ele pode expressar sua fé no país

Professor de Geopolítica da UFRJ explica que jogador deve evitar gestos tipicamente religiosos ou declarações contundentes a respeito da religião

Neymar logo após desembarcar na Arábia Saudita - AFP

Neymar chegou nesta sexta-feira na Arábia Saudita, onde será o mais novo jogador do Al-Hilal. O atleta desembarcou no aeroporto usando um pingente de crucifixo no cordão pendurado ao pescoço. Declaradamente cristão, o brasileiro passará a atuar em um país cuja cultura, principalmente na parte relativa à religião, é diferente do Brasil e dos países nos quais ele atuou na Europa.

O professor de Geopolítica do Instituto de Relações Internacionais e Defesa da UFRJ Fernando Brancoli explica que o jogador pode se aproveitar de brechas para seguir o padrão de vida que tem em outros países, como para organização de festas, consumo de bebidas alcoólicas (que também é formalmente proibido), mas que deve evitar gestos tipicamente religiosos ou declarações contundentes a respeito do tema.

— A gente está falando de um país que tem como base jurídica o Alcorão e algumas normas suplementares. Então, não há uma norma que proíbe, por exemplo, usar algum tipo de utensílio ou item religioso. Mas isso pode variar dependendo do contexto. Dentro de uma mesquita é proibido símbolos que não são islâmicos. A princípio, ele poderia ter problemas em usar esse tipo de cruz em contexto público — explica.

O professor lembra que templos de outras religiões que não o Islã são proibidos no país, portanto, não haverá templos que Neymar possa frequentar. Ele pondera, no entanto, que figuras de grande prestígio como o jogador estão inseridas em contextos de mudanças nas tradicionais locais, afrouxando regras para na tentativa de remontar sua imagem, principalmente para outros países.

— Se um cidadão normal tivesse problemas maiores por usar um crucifixo muito grande, muito chamativo, o Neymar pode receber um tratamento diferenciado. Mas a expectativa é que ele se comporte de maneira discreta, não faça declarações públicas a respeito da religião — afirma Brancoli, lembrando que o jogador pode organizar apenas cultos privados.

 



Brancoli destaca que a postura do jogador é fundamental em um contexto em que atletas como o brasileiro e Cristiano Ronaldo se tornaram "embaixadores" da liga saudita, que tenta mudar a imagem do país — por meio de futebol — para o restante do mundo.

— Diferente do Brasil, em que as leis são mais claras em relação ao que se pode ou não fazer, casos mais polêmicos estarão a critério de um juiz. [...] E o islã tem práticas que estão presentes ao longo do dia, como o chamado para a oração, feito cinco vezes ao longo do dia, com o Neymar tendo de se adaptar, porque é um momento em que a cidade para. Além disso, há o mês do Ramadã, em que os muçulmanos fazem um jejum do nascer ao pôr do sol — lembra o professor.