Projeto registra íris de brasileiros para criar identidade global; saiba como é a experiência
Três pontos na cidade de São Paulo estão cadastrando os olhos de interessados em participar do Worldcoin
Em troca de algumas unidades de criptomoedas, mais de 2,2 milhões de pessoas no mundo já deixaram o registro dos olhos com a WorldCoin, empresa que quer criar uma espécie de “RG global”.
O projeto foi lançado no fim de julho e está operando em 34 países, incluindo o Brasil. Um dos criadores da empresa é Sam Altman, CEO da OpenAI e o principal nome por trás do ChatGPT.
Em São Paulo, três pontos de coleta estão realizando o registro da íris aos interessados.
O processo é simples e dura alguns segundos: basta baixar o aplicativo do Worldcoin, conectá-lo ao equipamento e, depois, mirar os olhos no Orb, pequena esfera de metal recheada de sensores.
Depois, um registro único é criado para o “doador” dos olhos.
Como é a experiência de ter os olhos 'escaneados' por um Orb
"Esse prédio fica com muito mais informação sobre você do que a gente", me diz o operador da Worldcoin depois de concluir meu registro biométrico. O prédio em questão é um edifício corporativo no Itaim, um dos bairros com metro quadrado mais caros de São Paulo, onde fica um dos três postos de "coleta de íris" da WorldCoin no Brasil.
Para subir ao décimo sétimo andar e chegar até o Orb, que irá escanear meus olhos, eu preciso, antes, deixar RG, CPF, nome completo e foto do meu rosto na recepção. A catraca para os elevadores é liberada depois que um equipamento identifica o meu e os rostos dos demais transeuntes desprovidos de crachá.
Como nos outros dois pontos de coleta da Worldcoin em São Paulo, aquele é um espaço alugado, em um daqueles escritórios compartilhados com recepção moderninha e geladeira com cerveja. Na sala onde fica um dos 2 mil Orbs que existem no mundo, estão dois operadores sorridentes, duas mesas de madeira e alguns cartazes com logo da empresa na parede.
O espaço de menos de dois metros quadrados é simples, apenas uma entre várias salas privativas do co-working. Nem de longe corresponde ao imaginário que se pode fazer de um lugar futurista onde opera uma empresa de tecnologia avaliada em US$ 3 bilhões.
Eu sento, então, em frente ao equipamento que irá capturar minha íris e provar que eu sou eu mesma. A esfera de metal é pesada, parecida com uma bola de boliche e, por dentro, recheada de sensores, câmeras e chips de processamento. O acabamento de metal reflete minha imagem, a do operador do Orb e a da sala pequena.
O representante da Worldcoin, então, libera os sensores do Orb. Com algumas luzinhas aparecendo na esfera prateada, o equipamento indica que está ligado. Eu abro meu aplicativo e clico na opção de fazer o registro. Antes dos olhos, mostro ao Orb um QR Code do celular. Mais luzinhas. É hora de colocar a minha íris "para jogo".
Chego bem perto da parte preta da esfera, na tentativa de ver algum dos sensores óptivcos que irá me registrar. O operador me diz que posso sentar normalmente e até com uma certa distância da máquina. Depois de alguns segundos, o Orb brilha novamente e, então, sei que meu olhos foram "verificados". Para a Worldcoin, já posso atestar que não sou um robô ou uma inteligência artificial.
Antes de receber o meu "RG", o aplicativo pergunta se quero deixar a imagem da minha íris com eles ou se ela deve ser descartada. Eles garantem que vão adotar as exigências da GDPR (lei de proteção de dados europeia) ao tratar minhas informações.
Mas vazamentos já aconteceram na própria Worldcoin, assim como no ChatGPT e em tantas outras plataformas que têm dados bem menos sensíveis do que minha íris. Escolho a segunda opção, é claro.
Ao fim do processo, meu aplicativo mostra um saldo de 3 unidades da criptomoeda da Worldcoin, bem menos do que receberam os primeiros participantes do experimento. Isso significa que, pela cotação desta sexta-feira, obtive o equivalente a cerca de R$ 20. Em troca, deixei com a empresa um dos únicos atributos físicos que atestam a minha identidade.
Além dos R$ 20, o suficiente para comprar uma café naquela região de São Paulo, saio com a promessa de ter colaborado com um projeto que pretende ser, ao mesmo tempo, ferramenta para distinguir humanos de robôs e um meio para distribuição de renda universal.
Você se canditaria?