Crime cruel

Mãe de professora sequestrada e morta acredita que filha se mudou para proteger família

Vitória Romana Graça, de 26 anos, encontrada carbonizada no último dia 11, saiu da casa dos pais para outro endereço há duas semanas

A professora Vitória Romana Graça, de 26 anos, foi morta; seu corpo foi encontrado carbonizado - Reprodução/Facebook

A mãe da professora Vitória Romana Graça, de 26 anos, encontrada carbonizada no último dia 11, acredita que a filha morreu tentando proteger a família. Para Maria Zélia, de 66 anos, os suspeitos de participação no sequestro e assassinado da professora usaram ameaças a ela e seu marido, pais da vítima, para chantageá-la. Ela conta que Vitória saiu da casa dos pais há duas semanas, repentinamente.

Na avaliação dela, a professora já estava sendo ameaçada e tinha medo de que os criminosos fizessem algo com sua família.

— A Vitória se mudou tão rápido, e sem nenhum motivo. E ela nem estava morando naquela casa direito, havia acabado de levar as coisas, foi uma atitude estranha. Na minha cabeça, ela já estava sendo ameaçada há algum tempo e resolveu sair de casa para proteger a gente — conta Maria Zélia, dizendo que o que a consola é pensar que a tragédia poderia ser ainda maior.

Ao olhar para trás, Maria Zélia se lembra que a filha aparentava estar muito cansada e triste. Na época, ela acreditou que era apenas problemas do trabalho. Hoje, ela entende essa tristeza como indícios do que a filha passava em segredo, sendo extorquida pelos suspeitos.

Segundo as investigações, o crime foi motivado por interesse financeiro de Paula Custódio Vasconcelos, mãe da adolescente de 14 anos, com quem Vitória teve um relacionamento de quatro meses. Nesse período, Vitória auxiliava a família de Paula com cestas básicas e itens para a casa.

De acordo com o depoimento do irmão, Paula não aceitou o fato de a professora ter parado de ajudar financeiramente a ex-namorada, após o rompimento com a adolescente. E que Paula, mãe da adolescente, disse que queria levar mais alguma vantagem financeira.

No dia do desaparecimento de Vitória, Paula Custódio Vasconcelos esteve na Escola municipal Oscar Thompsom, em Santíssimo, ao lado de seu irmão para convencer Vitória a ir a sua casa mais tarde naquele dia.

A visita à escola — sob o pretexto de tentar entender o término da professora com sua filha, uma adolescente de 14 anos — foi, segundo Edson Alves Viana Junior, o primeiro passo para a extorsão e homicídio de Vitória. Os dois estiveram no local por volta das 14h30 e permaneceram com a vítima por cerca de 30 minutos.

Edson e Paula, então, voltam para a casa da mãe da adolescente, na comunidade Cavalo de Aço, em Senador Camará, onde aguardam a chegada da professora ao fim do trabalho. Quando Vitória chegou à residência, ela foi imediatamente imobilizada pelos irmãos e pela jovem com quem teve um relacionamento. De acordo com o relato de Edson à polícia, a vítima é levada para um dos quartos do primeiro andar do imóvel e presa com fitas adesivas em uma cadeira.

Além de extorquir dinheiro da professora, os suspeitos ainda ligaram para a mãe da vítima e pediram mais dinheiro. Sem sucesso, decidiram matar Vitória. Segundo Edson, eles amarraram o pescoço dela com uma corda e puxaram durante 30 minutos. A ex-namorada observou a ação. Depois, com dúvidas se ela estava morta, abriram o olho da vítima e jogaram álcool.

Depois ela foi colocada numa mala e levada ao local em que seria queimada. Segundo Edson, a menor, ex-namorada de Vitória, observou tudo. Segundo Edson, ele próprio abriu um pouco a mala e despejou dois litros de gasolina dentro dela, ateando fogo logo depois. O suspeito contou ainda que ele, a irmã e a sobrinha e ex-namorada de Vitória, de 14 anos, só deixaram o local quando as chamas estavam altas.

Na manhã do dia 11, por volta das 7h15, a polícia foi acionada para uma ocorrência na Praça Damasco, em Senador Camará, na Zona Oeste. No chamado, já foi informado que se trataria de uma vítima carbonizada, até então sem identificação. O corpo foi encontrado pelas equipes por volta das 8h no local.

O laudo do Instituto Médico-Legal (IML) apontou que a professora ainda estava com vida quando teve seu corpo queimado. No exame foi apontada aspiração de fuligem.

Suspeitos presos
No mesmo dia, um vizinho da mãe da vítima auxiliava nas buscas pela professora em Senador Camará quando ouviu que duas moradoras foram expulsas por “sequestrar uma pessoa”. As informações foram contadas para agentes que participavam das buscas, quando passavam pelo local, por volta das 15h, em uma viatura. Mãe e filha foram encontradas às margens da Avenida Santa Cruz naquela tarde e levadas para a delegacia.

Lá, as duas prestaram depoimento e se tornaram as principais suspeitas pelos crimes de sequestro e assassinato. Paula — que já tinha um mandado em aberto por roubo qualificado — foi presa, e a filha dela, de 14 anos, apreendida. Dois dias depois, Paula teve a prisão em flagrante convertida em preventiva após audiência de custódia. À polícia, a adolescente disse não ter envolvimento com o crime.

Na última quarta-feira, Edson Alves Viana Junior foi preso temporariamente após confessar participação na morte da professora. Em seu depoimento ele deu detalhes da participação das duas suspeitas e como se deu o crime.