justiça

Enfermeira britânica condenada à prisão perpétua por assassinato de bebês

Mulher foi acusada de injetar ar nas vítimas, doentes ou nascidas prematuramente, superalimentando-as com leite e envenenando-as com insulina

Britânica condenada à prisão perpétua sem possibilidade de libertação - Divulgação/Polícia de Cheshire/AFP

Um tribunal britânico condenou nesta segunda-feira (21) à prisão perpétua, sem possibilidade de libertação, uma enfermeira considerada culpada por assassinatos de sete recém-nascidos e outras tentativas de homicídio, um caso que provocou grande comoção no Reino Unido.

Lucy Letby, 33 anos, que se recusou a comparecer à audiência em um tribunal de Manchester (norte da Inglaterra), recebeu uma pena incomum na legislação inglesa.

"Atuosa de maneira completamente contrária aos instintos humanos normais, que são cuidar dos bebês, e em flagrante da confiança que todos os cidadãos depositam nos profissionais da saúde", declarou o juiz do tribunal de Manchester (norte), James Goss.

Devido à "gravidade excepcional" dos crimes, "passará o restante de seus dias na prisão", afirma na sentença. A leitura da sentença foi transmitida ao vivo na televisão.

Na sexta-feira (18), o tribunal já havia declarado Letby culpada por assassinatos de sete recém-nascidos prematuros e de seis tentativas de homicídio no hospital em que trabalhavam.

A mulher, descrita pela acusação como "fria, calculista, cruel e tenaz", se recusou a comparecer à audiência e alegou inocência durante o longo julgamento, que começou em outubro de 2022.

"É covarde que aqueles que cometem crimes tão horrendos não se apresentam diante de suas vítimas", afirmou o primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak.

Letby internado na Unidade de Terapia Intensiva do hospital Countess of Chester, noroeste da Inglaterra, onde ocorreram os assassinatos, entre junho de 2015 e junho de 2016.

A enfermeira foi acusada de injetar em bebês por via intravenosa e com sondas nasogástricas, além de administrar doses excessivas de leite às vítimas.

"Destruiu nossas vidas"
Durante o processo, uma mãe explicou que, ao comparecer à UTI para levar leite para um de seus gêmeos prematuros em agosto de 2015, o ouviu gritar e sentir que o bebê tinha sangue ao redor da boca. Letby a tranquilizou e recomendou que retornasse para o quarto.

De acordo com a acusação, a enfermeira acabou de introduzir um utensílio médico até o fundo da garganta do bebê. Também havia ar injetado. A criança morreu poucas horas depois.

Letby atacava bebês depois que os pais saíam, quando uma enfermeira-chefe estava ausente ou durante a noite, quando ela ficava sozinha.

Em algumas ocasiões, ela participava nos esforços coletivos para salvar os recém-nascidos e, inclusive, apoiava os pais desesperados. Também escrevi cartas aos pais em luto.

"Você pensou que era seu direito brincar de Deus com a vida dos nossos filhos", declarou no tribunal a mãe dos gêmeos que foram atacados em junho de 2015. O menino morreu e sua irmã sobreviveu ao ataque.

O pai de dois irmãos mortos pela enfermeira disse: "Lucy Letby destruiu nossas vidas".

"O ódio que sinto por ela nunca vai acabar", acrescentou, em um vídeo pré-gravado exibido no tribunal.

Transferida em junho de 2016 para o setor administrativo, Letby foi detida pela primeira vez em 2018 e, novamente, um ano depois. Ela foi presa em definitivo em novembro de 2020.

Perguntas sem respostas
Após 10 meses de julgamento, ainda há dúvidas sobre as motivações. Os investigadores encontraram passagens em sua casa. Em um deles, ela escreveu: "Não mereço viver. Eu os matei de propósito porque não era boa o suficiente para cuidar deles. Sou uma pessoa horrível". Porém, em outros textos ela clamava inocência.

"A sentença não evitará a dor extrema, a revolta e o sofrimento que todos sentiram", reagiram as famílias das vítimas em um comunicado. “Talvez nunca saberemos por que isso aconteceu”, acrescento.

Ainda resta saber por que Letby não foi detida antes: a imprensa britânica afirma que um grupo de médicos teria alertado a direção do hospital desde 2015.

Porém, a direção do hospital, preocupada com a crença do centro médico, teria ignorado o alerta ou optado por não agir, segundo a imprensa.

O governo anunciou a abertura de uma investigação independente para esclarecer "as circunstâncias por trás dos horríveis assassinatos e tentativas de assassinatos".

A polícia continua examinando milhares de casos com o objetivo de identificar outras possíveis vítimas.