TRANSPORTE

Greve dos metroviários chega ao 20º dia sem previsão de término

Última audiência de conciliação foi realizada no dia 10 deste mês, nova rodada segue sem previsão

Na portaria da Estação Recife, faixa anuncia: greve é por tempo indeterminado - Arthur Mota/Folha de Pernambuco

Deflagrada no dia 2 de agosto, a greve dos metroviários do Recife chega ao 20º dia sem previsão de encerramento. A paralisação, que acontece por tempo indeterminado, é realizada enquanto os trabalhadores da categoria reivindicam reajuste salarial, aumento do piso para o nível 110 e retirada da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) do Programa Nacional de Desestatização (PND). 

Durante as primeiras semanas da greve, uma série de negociações envolvendo o Sindicato dos Metroviários de Pernambuco (Sindmetro-PE), a CBTU, o Tribunal Regional do Trabalho da 6ª Região (TRT-6) e o Ministério Público do Trabalho em Pernambuco (MPT-PE) chegaram a trazer a esperança de que a paralisação não se prolongaria. 

No entanto, as reuniões de conciliação acabaram sendo frustradas depois que um acordo entre as partes não foi viabilizado. Inicialmente, o Sindmetro-PE solicitou um aumento de 25% no salário dos trabalhadores, índice que levava em consideração as perdas salariais acumuladas nos últimos anos. 

Ao iniciar a greve por tempo indeterminado, a categoria diminuiu o reajuste solicitado para 15%. Ainda durante a primeira audiência de conciliação, realizada no dia 4 de agosto, uma proposta feita pelo MPT-PE e aceita pelos trabalhadores do Metrô do Recife reduziu o índice para 7%. 

Já na segunda rodada, também promovida pelo TRT-6, uma suspensão da greve chegou a ser realizada pelos metroviários que aguardavam a apresentação de uma proposta pela CBTU. Durante 72 horas, o sistema metroviário operou normalmente com 100% de sua capacidade.

Porém, no dia 10 de agosto, a paralisação foi retomada depois de mais uma rodada de negociação frustrada entre a CBTU e os metroviários. Na data, a companhia apresentou pela primeira vez uma proposta de reajuste. O índice de 3,45% ofertado pela companhia foi prontamente rejeitado pelos trabalhadores. 

Após o impasse, o funcionamento do metrô foi suspenso de forma integral. Entre os dias 11 e 17 de agosto, todas as 36 estações do sistema metroviário permaneceram fechadas para a população, apesar da determinação do TRT-6, proferida no dia 14 de agosto, de que o modal voltasse a funcionar com 100% da capacidade durante os horários de pico, com multa de R$ 60 mil por dia em caso de desobediência. 

Apenas no dia 18 de agosto, a decisão judicial foi cumprida efetivamente e o metrô voltou a circular das 5h30 às 8h30 e das 17h às 20h. 

Desde então, o funcionamento segue restrito a esse horário, afetando a mobilidade de cerca de 180 mil passageiros que costumam utilizar o meio de transporte diariamente. Procurado pela reportagem da Folha de Pernambuco, o TRT-6 informou que não há previsão de novas negociações. 

Com as tratativas oficiais interrompidas, o Sindmetro-PE passou a buscar o Governo Federal de forma direta, na tentativa de resolver o caso. No dia 14 de agosto, cerca de cem metroviários saíram em caravana para Brasília. 

Na capital federal, a categoria se uniu a metroferroviários dos estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul em um ato contra a privatização da CBTU e da Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre (Trensurb), realizado na frente do Palácio do Planalto. 

Após a manifestação, a liderança do Sindmetro-PE se reuniu com representantes da Secretaria Geral da Presidência, do Programa de Parcerias de Investimentos da Casa Civil e da Secretária Nacional de Diálogos Sociais e Articulação de Políticas Públicas. 

Na ocasião, de acordo com o Sindmetro-PE, o secretário do PPI da Casa Civil, Márcio Cavalcanti, teria assegurado que "serão realizados estudos visando à exclusão da CBTU do PND e que, no prazo de um ano, não ocorrerá privatização".

Procurada pela Folha de Pernambuco, a Secretaria Especial para o Programa de Parcerias de Investimentos não se pronunciou sobre a afirmação.

Já nesta segunda (21), a Comissão de Assuntos Sociais do Senado Federal realizou uma vistoria no Metrô do Recife. Presidida pelo senador Humberto Costa, a comissão avaliou a situação do modal, que foi descrita como estarrecedora pelo parlamentar. De acordo com Humberto, a prioridade no momento é “garantir que o processo de sucateamento estanque”.

Presente numa audiência pública que tratou do tema, o deputado federal Túlio Gadêlha afirmou que a comissão realiza um “processo de escuta para fazermos um cálculo de quanto se precisa” para recuperar o metrô. 

De acordo com o presidente do Sindmetro-PE, Luiz Soares, “o sindicato desempenhou um papel que não é de nossa atribuição, mas sentimos a necessidade de agir. Desde o governo anterior, lutamos para angariar recursos para o Metrô do Recife. Continuamos essa busca".

No último dia 11 deste mês o sistema metroviário da capital pernambucana foi anunciado como integrante do novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Com a inclusão, R$ 4 milhões foram liberados pelo Governo Federal para a realização de um estudo de requalificação do sistema que não tem data para ser concluído. 

Enquanto a situação não se resolve, o Metrô do Recife segue em greve por tempo indeterminado. A expectativa é que uma nova assembleia geral dos metroviários seja realizada nesta sexta-feira (25) para definir os rumos da paralisação. 

Por meio de nota a CBTU informou que, com relação às reivindicações de reajuste salarial e do piso pleiteadas pelos metroviários, a companhia “permanece em interação com a Secretaria de Coordenação e Governança das Empresas Estatais (SEST) desde a realização da última audiência pré-processual, mediada pelo Ministério Público do Trabalho de Pernambuco (MPT)”.