Rússia

Quem é Yevgeny Prigojin, líder do grupo Wagner listado como passageiro em avião que caiu na Rússia

Chefe do Wagner morreu em um acidente de avião que deixou mais nove vítimas fatais nesta quarta-feira

Yevgeny Prigojin publica vídeo e sugere que está na África - Reprodução

O líder do grupo Wagner, Yevgeny Prigojin, estava na lista de passageiros do avião que caiu nesta quarta-feira na Rússia, deixando ao todo dez vítimas fatais, informou a imprensa russa.

Figura polêmica do entorno do presidente Vladimir Putin, Prigojin foi de aliado do Kremlin à inimigo após mobilizar as tropas de mercenários — que atuavam como braço das Forças Armadas russas na guerra na Ucrânia — para marcharem em direção a Moscou em junho. Sabe-se que a aeronave viajava de São Petersburgo para a capital russa, mas as circunstâncias do suposto acidente não foram divulgadas.

Sua ultima aparição pública — e a primeira após o motim contra o Kremlin que culminou num temporário exílio para a Bielorrússia — sugeria que Prigojin estava na África. Ele aparece no vídeo, publicado na última terça-feira, usando uniforme militar camuflado, colete a prova de balas com cartuchos de munições, e segura um fuzil nas mãos. Ao fundo, é possível ver uma caminhonete com outros homens armados.

— A temperatura é de 50ºC, tudo como gostamos. O grupo Wagner torna a Rússia ainda maior em todos os continentes e a África, mais livre. Justiça e felicidade para o povo africano, estamos tornando a vida um pesadelo para o Estado Islâmico e para a al-Qaeda e outros bandidos — diz Prigojin no vídeo.

Durante anos, Prigojin fez trabalho clandestino para o Kremlin, enviando mercenários de seu grupo privado, Wagner, para conflitos em zonas de interesse russo no Oriente Médio e na África, sempre negando qualquer envolvimento. Recentemente, combatentes do grupo foram vistos no Mali e na República Centro-Africana e receberam apoio no Níger, que sofreu um golpe de Estado por militares pró-Moscou no mês passado.

Rebelião contra Moscou
Progojin rebelou-se contra o Kremlin em 24 de junho, após o líder paramilitar afirmar que o ministro da Defesa russo, Serguei Shoigu, ordenou o bombardeio contra posições do grupo na Ucrânia. Em represália, os mercenários cruzaram a fronteira de volta para a Rússia e, sem resistência, tomaram a cidade de Rostov-no-Don, onde assumiu o controle das instalações militares.

O presidente Vladimir Putin acusou os mercenários de traição, e prometeu uma punição severa a todos, anunciando que havia dado as ordens necessárias ao Exército para restaurar a ordem. A maioria, no entanto, recebeu anistia ao integrar o Exército ou foi exilada para a Bielorrússia, como Prigojin.

Em maio deste ano, Prigojin conseguiu sua consagração ao reivindicar a conquista da cidade de Bakhmut, na Ucrânia, uma das poucas vitórias das forças russas, após meses de ferozes combates. Estima-se que cerca de 20 mil mercenários estavam no campo de batalha, o que representa 10% de todas as tropas russas na Ucrânia.

Contudo, foi também durante a batalha de Bakhmut que as tensões com o Estado-Maior russo aumentaram. Prigojin acusou os militares de economizar munição e publicou vídeos insultando os comandantes russos — uma atitude inimaginável para qualquer outro indivíduo na Rússia, onde reina uma severa repressão.

Quem é Prigojin
Prigojin é nascido em São Petersburgo, assim como Vladimir Putin. Ao perder o pai ainda jovem, passou a realizar assaltos ao fim dos anos 1980, ainda na era soviética, pelos quais foi preso e condenado a 13 anos. De acordo com o jornal "The Guardian", Prigojin então abriu uma barraquinha de cachorro-quente e deslanchou no setor, com participações em uma rede de supermercados. Em 1995, ele chegou a abrir restaurantes próprios, onde conheceu políticos e agentes da inteligência da Rússia.

A partir daí, aproximou-se cada vez mais dos escalões superiores como catering (serviço de buffet) do Kremlin e ficou conhecido como "Putin's chef" (chefe de cozinha do Putin).

Nesse contato com o funcionalismo e os agentes secretos, trilhou carreira no governo de Moscou até criar o grupo paramilitar Wagner, em 2014. Prigojin é procurado pelo FBI sob acusação de "conspiração para defraudar os Estados Unidos", por supostamente participar de ações que prejudicam a atuação de órgãos americanos como o Comitê Federal de Eleições, o Departamento de Justiça e o Departamento de Estado, entre 2014 e 2018.

Uma das primeiras missões que realizou foi na Península da Crimeia, região ucraniana anexada unilateralmente pela Rússia em 2014, em meio a uma crise no país que derrubou o governo pró-Moscou de Viktor Yanukovich. Lá, mercenários com uniformes sem identificação ajudaram forças separatistas apoiadas pela Rússia a tomar a região. A empresa paramilitar chegou a ser alvo de sanções dos Estados Unidos, Reino Unido e União Europeia (UE).

Em seguida, mercenários do grupo participaram da revolta de separatistas pró-Rússia no leste da Ucrânia, deflagrada também em 2014. Segundo Tracey German, professora de Conflito e Segurança na Universidade King's College London, no Reino Unido, cerca de mil paramilitares do Wagner se juntaram às tropas separatistas em Donetsk e Luhansk.

Mais tarde, chamou à atenção do mundo por causa de recrutamento de soldados e sua relação política com o governo russo. Uma das campanhas do Wagner para reunir mais homens comprometidos e motivadas com o propósito de amor ao país acima de qualquer ideal. Eles são retratados como homens que arriscam suas vidas por uma causa maior e que também tem como princípios a força na batalha.

Em 2022, o grupo fez uma grande campanha para recrutar novos soldados e inclusive, com a anuência do governo russo, abriram vagas para dezenas de milhares de presidiários, aos quais foi prometido perdão da pena em troca de um contrato de seis meses com a empresa privada de luta armada.

Procurado pelo FBI
Prigojin é procurado pelo FBI sob acusação de "conspiração para defraudar os Estados Unidos", por supostamente participar de ações que prejudicam a atuação de órgãos americanos como o Comitê Federal de Eleições, o Departamento de Justiça e o Departamento de Estado, entre 2014 e 2018.

Washington oferece uma recompensa de US$ 250 mil (mais de R$ 1 milhão) para quem der informações que levem à prisão do líder do grupo Wagner, também conhecido pelo discurso contra "as elites corruptas" e por executar desertores, segundo o "Guardian".