Justiça

Bolsonaro pode ter levado militares ao erro ou ao cometimento de crimes, diz Flávio Dino

Após almoço com José Múcio, ministro da Justiça fala sobre investigações do papel das Forças Armadas nos ataques contra a democracia

Flávio Dino - Valter Campanato/Agência Brasil

Em meio ao cerco da Justiça e do Congresso a acusados de participar de ataques contra as instituições e o sistema eleitoral, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, tratou do papel de liderança de Jair Bolsonaro sobre os militares. Após encontro com o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, Dino afirmou que o ex-ocupante do Palácio do Planalto pode ter dado ordens equivocadas ou feito com que "alguns membros das Forças Armadas tenham cometido erros ou crimes".

— Temos a compreensão de separar o que são condutas institucionais de condutas individuais, e nós temos que lembrar também que constitucionalmente o comandante supremo das Forças Armadas é o presidente da República. Então, no período passado, é claro que, talvez, o comandante supremo da época, o ex-presidente da República, não tenha dado ordens corretas. E isso pode ter gerado (uma situação em) que alguns membros das Forças Armadas tenham, eventualmente, cometido erros ou até crimes.

O encontro dos dois ministros ocorre após Múcio pedir à Polícia Federal acesso aos nomes de militares que se encontraram com o hacker Walter Delgatti no ano passado, supostamente para descredibilizar as urnas eletrônicas.

Dino afirmou que a reunião foi "muito boa", com um "clima muito bom", mas que não trataram especificamente sobre a negativa da PF em entregar as informações.

— Não tratamentos especificamente desse ponto (negativa da PF em entregar informações). Tratamos do tema principal, fundamental, das boas relações entre o Ministério da Justiça, o Ministério da Defesa e as Forças Armadas. Conversamos um pouco sobre os eventos recentes, mas evidentemente o rumo de investigações da PF não dependem de mim nem do ministro Múcio, tão pouco do comandante general Tomás.

A informação é de que Múcio vai à PF após o encontro com Dino para conversar com o diretor-geral da instituição, delegado Andrei Passos Rodrigues. A liberação dos nomes ao Ministério da Defesa depende de autorização do ministro relator do caso, Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Dino, no entanto, negou que haja esse "planejamento" e afirmou que não há "agonia" para o acesso às informações, uma vez que há "consenso" de que civis e militares envolvidos em crimes serão investigados e punidos.

—Não há esse planejamento (agenda na PF para ter acesso aos nomes). Há uma ideia de deixar a investigação caminhar e, no tempo certo, as Forças Armadas, com sua autonomia organizativa, irá tomar as providências que forem cabíveis. Então, não há agonia, não há precipitação, preocupação nesst momento, porque há consenso de que as pessoas que erraram, que cometeram crimes, civis ou militares, devem ser investigados e punidos.

À CPI dos Ataques Golpistas, o hacker afirmou ter ido cinco vezes ao Ministério da Defesa por recomendação do ex-presidente Jair Bolsonaro.

— Diante dos dados que eles enviarem, tomaremos todas as providências que forem necessárias — disse Múcio ao Globo no início da semana.

Com a ampliação do número de militares que ocuparam cargos no governo Bolsonaro na condição de investigados, o ministro da Defesa, José Múcio, e os comandantes das Forças Armadas conversaram com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no sábado no Palácio do Alvorada.

Múcio frisou a Lula que não quer tratar a todos como suspeitos, mas que serão tomadas providências com aqueles que tiverem cometido irregularidades.

Em encontro fora da agenda, o presidente ouviu dos comandantes do Exército, general Tomás Paiva; da Marinha, almirante de esquadra Marcos Sampaio Olsen, e da Aeronáutica; o tenente-brigadeiro de ar Marcelo Kanitz Damasceno, levaram a Lula a mensagem de que, interessa às Forças que os fatos sejam esclarecidos e as condutas sejam individualizadas.