Equador prevê dificuldades para fechar bloco de petróleo na Amazônia
Yasuní (leste) é um dos lugares mais biodiversos do mundo, onde vivem comunidades indígenas, três delas em isolamento voluntário
O ministro de Energia do Equador, Fernando Santos, alertou, nesta quarta-feira (23), que haverá dificuldades para desmantelar a infraestrutura de um bloco de petróleo na região amazônica de Yasuní em um ano, após a vitória de um referendo para suspender parte da extração de petróleo.
A Corte Constitucional estabeleceu em maio que, se o 'Sim' ganhasse no referendo popular de 20 de agosto, a estatal Petroecuador, que opera o Bloco 43, teria até um ano - a partir da proclamação do resultado - para encerrar as operações.
O 'Sim' para deixar o petróleo debaixo da terra por tempo indeterminado obteve 59% de apoio em relação ao 'Não', de acordo com a contagem preliminar do Conselho Nacional Eleitoral (CNE).
"É um processo muito complexo, nunca na história da indústria petrolífera mundial um campo tão importante foi parado abruptamente, que produz 60.000 barris por dia", disse Santos à imprensa.
Ele acrescentou que o desmantelamento do campo envolve "remover as instalações, que são milhares de toneladas de aço, cabos, instalações de todos os tipos".
Localizado dentro do Parque Nacional Yasuní, com um milhão de hectares, o Bloco 43 ocupa apenas 0,08% de sua extensão (80 hectares) e é considerado a joia da coroa para a Petroecuador.
Em operação desde 2016, é o bloco de petróleo mais recentemente explorado em Yasuní e o quarto em produção no país, podendo aumentar para 90.000 barris por dia até 2025. Atualmente, contribui com 12% da extração total nacional de 466.000 barris por dia.
"Fisicamente, um prazo de um ano é impossível, a menos que eles vão com uma escavadeira e retirem as instalações", apontou Santos.
Ele indicou que o governo do presidente de direita Guillermo Lasso fornecerá os estudos técnicos para o fechamento dos poços do Bloco 43.
Os equatorianos decidirão em um segundo turno previsto para 15 de outubro o novo presidente entre a esquerdista Luisa González e o direitista Daniel Noboa.
Para ambientalistas e setores indígenas, o referendo sobre Yasuní é um símbolo de democracia climática, mas para o Executivo é um "golpe gravíssimo para a economia" dolarizada do Equador, dependente do petróleo, o principal produto de exportação.
"Isso cria um precedente muito ruim, há contratos assinados, compromissos de longo prazo, a segurança jurídica do país fica comprometida", disse o ministro.
O governo estima perdas de 16,47 bilhões de dólares (R$ 80 bilhões) em 20 anos devido à suspensão da exploração do Bloco 43.
Yasuní (leste) é um dos lugares mais biodiversos do mundo, onde vivem comunidades indígenas, três delas em isolamento voluntário.
Este parque protegido, que está dentro de uma grande reserva da biosfera com o mesmo nome, também abriga 600 espécies de aves, 220 de mamíferos, 120 de répteis e 120 de anfíbios.