Japão inicia despejo de água radioativa de Fukushima no oceano; entenda
China e Hong Kong já anunciaram proibições à importação de alimentos japoneses; comunidade pesqueira local teme danos à reputação dos produtos
O Japão começa a despejar a água residual tratada da usina nuclear de Fukushima no Oceano Pacífico nesta quinta-feira (24).
Apesar da oposição de países vizinhos, inclusive da China, o anúncio foi feito nesta terça-feira pelo primeiro-ministro Fumio Kishida. A decisão ocorre semanas após o órgão regulador das Nações Unidas aprovar o plano.
A água não representa riscos para a saúde e o meio ambiente, uma vez que passou por um tratamento que eliminou a maioria das substâncias radioativas. É o que afirmam a Companhia de Energia Elétrica de Tóquio (Tepco), que opera a central nuclear de Fukushima, o governo japonês e a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) da ONU.
A liberação da água ocorre quase 12 anos e meio após a fusão nuclear de março de 2011, causada por um forte terremoto e tsunami. A partir de 2024, a central nuclear de Fukushima deve ficar sem espaço para armazenar cerca de 1,33 milhões de toneladas de água. Segundo o governo e a TEPCO, é preciso removê-la para evitar acidentes futuros.
A comunidade de pescadores local, porém, teme que a reputação de seus produtos seja danificada. China e Hong Kong já anunciaram proibições à importação de alimentos japoneses, com Pequim acusando o país vizinho de querer “despejar arbitrariamente” a água contaminada no mar. O governo chinês ainda passou a aplicar controles de radiação.
O presidente-executivo de Hong Kong, um importante mercado para as exportações japonesas, afirmou ter dado instruções para ativar os cortes na importação de alguns alimentos japoneses. Nas redes sociais, John Lee Ka-chiu escreveu que “a segurança alimentar e a saúde pública de Hong Kong são as principais prioridades do governo”.
Apoio sul-coreano
Na Coreia do Sul também foram registradas manifestações contra o projeto, e algumas pessoas decidiram estocar sal marinho pelo receio de que a água termine contaminada. Ainda assim, o governo local endossou o plano de descarte do Japão, e pediu apenas que Tóquio forneça transparência para garantir que a água seja descartada adequadamente.
Em plena campanha para melhorar as relações historicamente distantes com Tóquio, as autoridades sul-coreanas têm veiculado anúncios online para dissipar o que chamam de “medo da oposição” e convencer as pessoas de que a água não fará mal. O governo também tem realizado testes para demonstrar às pessoas que não há risco de contaminação.
O Japão tem mil grandes tanques para armazenar a água usada para resfriar os reatores ainda radioativos da usina de Fukushima, destruída por um terremoto seguido de tsunami que matou quase 18 mil pessoas em março de 2011. O caso ficou entre os piores desastres radioativos da História. Com o esgotamento da capacidade dos tanques, Tóquio quer liberar gradualmente a água nos próximos 30 anos.