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Despejo da água de Fukushima no mar: seguro ou preocupante?

Japão iniciou o despejo de 1,3 milhão de metros cúbicos de água proveniente da usina nuclear nesta quinta-feira (24)

Usina nuclear de Fukushima - STR / JIJI PRESS / AFP

O Japão iniciou nesta quinta-feira (24) o desperdício no mar de mais de 1,3 milhão de metros cúbicos de água proveniente da usina nuclear de Fukushima, destruída por um terremoto e um tsunami em 2011.
Tanto tópicos como especialistas internacionais alegam que a operação não representa perigo porque a água foi tratada e o processo será gradual. Porém, alguns países vizinhos, em particular a China, manifestaram preocupação.

Por que despejar no oceano?
A usina de Fukushima Daiichi gera em média mais de 100 mil litros de água contaminada por dia. Trata-se de água da chuva, proveniente das camadas subterrâneas ou de injeções necessárias para resfriar seus reatores.

A água é tratada, filtrada e logo armazenada no próprio recinto, mas as capacidades disponíveis estão quase saturadas.

Desde 2011, a operadora TEPCO acumula mais de 1,3 milhão de toneladas (o equivalente à capacidade de quase 540 piscinas olímpicas) de água em cisternas gigantes.

Após anos de reflexão, em 2021 o Japão optou por despejar a água no mar através de um duto submarino construído especialmente para a operação.

O procedimento, no qual serão descartados no máximo 500.000 litros por dia, é supervisionado pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e será obrigatório até 2050. A AIEA aprovou o plano em julho.

Não existe perigo algum?
A água é tratada por meio de um processo de filtragem chamado "Sistema Avançado de Tratamento de Líquidos" (ALPS).

O sistema permite eliminar a maior parte das substâncias radioativas, com exceção do trítio, que precisaria de outro tipo de tecnologia.

O trítio é um radioisótopo encontrado naturalmente na água do mar e tem pouco impacto radiológico.

Se inalado ou ingerido, pode apresentar um risco, mas somente doses muito elevadas são prejudiciais para a saúde humana, indicam especialistas.

A TEPCO prevê diluir a água com trítio para reduzir seu nível de radioatividade para muito abaixo do limite de periculosidade.

A AIEA declarou nesta quinta-feira que as análises com uma amostra da água do primeiro despejo revelaram que a concentração de trítio estava "muito abaixo" do limite operacional de 1.500 bequerel (Bq) por litro".

Este nível é 40 vezes inferior às normas japonesas para águas protegidas e às normas internacionais (60 mil Bq/litro), além de sete vezes menor que o limite máximo estabelecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para a água potável (10 mil Bq/litro). ).

Há décadas, as usinas químicas e de processamento de resíduos tóxicos liberam trítio na água de forma regular, registrado pela AFP Tony Hooker, especialista em radiação da Universidade de Adelaide (Austrália).

"Não identificamos nenhum impacto para o meio ambiente ou saúde", destacou.

Quem está preocupado e por que?
O plano do governo japonês, no entanto, gera inquietações. A ONG Greenpeace acusou as autoridades de minimizar os riscos de radiação.

Os pescadores japoneses também temem que afete a imagem de seus produtos.

A China decidiu suspender, a partir desta quinta-feira, todas as importações de produtos do mar procedentes do Japão e chamou o plano de Tóquio de “extremamente egoísta e irresponsável”.

Pequim já havia interrompido todas as importações de alimentos de 10 dos 47 municípios japoneses em julho. Os territórios de Hong Kong e Macau adotaram a mesma iniciativa.

A Coreia do Sul não criticou o plano japonês, mas a oposição e a população estão preocupadas. Os protestos foram organizados no país e em alguns cidadãos, assustados, estocaram o sal marinho por temerem uma futura contaminação.

O que o Japão fez para tranquilizar?
Tanto o governo japonês quanto a operadora TEPCO tentam convencer os céticos há meses.

Organizaram visitas à usina de Fukushima, sessões de informação técnica e registraram ao vivo no YouTube de um experimento no qual peixes nadam em bacias de água tratada e diluída.

Tóquio também luta contra a desinformação sobre o projeto que circula na internet.