Shein vai vender Forever 21? Veja o que muda com acordo inédito
Chinesa coloca à disposição da Forever 21 o alcance global da sua plataforma, enquanto grupo Sparc leva marca de peso para o aplicativo
A parceria entre a Shein e o grupo Sparc, dono da Forever 21, marca uma nova fase do varejo ‘figital’ global. Trata-se de um acordo inédito entre duas rivais do varejo que disputam a atenção dos consumidores ao redor do mundo, principalmente os da Geração Z - um público hoje fiel à asiática.
De um lado, a chinesa coloca à disposição da Forever 21 o alcance global da sua plataforma - que possui mais de 150 milhões de usuários - e sua expertise em produção ultrarrápida sob demanda. Do outro, o Sparc leva uma marca de peso para o aplicativo e contribui com sua experiência e conhecimento de décadas no varejo físico.
O que muda?
A parceria tem foco nos Estados Unidos. A varejista não confirmou, porém, se em breve essa parceria poderá contemplar o app e o site brasileiros.
O que prevê o acordo?
A Shein passa a ter cerca de um terço do Grupo Sparc através de uma joint venture, que inclui Authentic Brands Group - dona da Nautica, Aeropostale, Forever 21, Vince Camuto e outras - e Simon Property. Em troca, o grupo se tornou acionista minoritário da varejista, avaliada em US$ 66 bilhões em rodada de financiamento no início deste ano.
Oportunidades para ambas as empresas
A parceria é uma oportunidade para a Shein vender roupas da marca americana em seu site e app. No futuro, a Shein poderá operar dentro das lojas da Forever 21, segundo o jornal americano Wall Street Journal.
É também uma forma da Forever 21 expandir o seu alcance digital. A marca era febre nos anos 2000 e chegou a ter 800 lojas durante o seu auge. Mas dependia de uma estratégia baseada em shopping centers, que enfrentou dificuldades à medida que mais compras foram feitas online. Foi adquirida após falência em 2020 por um consórcio de marcas, incluindo Simon Property e Authentic Brands.
— A Forever21 ganha novo fôlego financeiro, escala global, entendimento da geração Z e operação digital profunda, o que a coloca no jogo novamente. Já a Shein passa a ter um entendimento mais profundo do consumidor norte-americano — destaca Cleber Paradela, coordenador acadêmico da Miami Ad School.
Já Dario Menezes, diretor-executivo da consultoria Caliber, avalia que o acordo pode ser visto como a ponta do iceberg para a criação de um player global relevante. Ele vê a parceria na verdade como uma estratégia de dominação da chinesa, sendo a operação integrada um primeiro passo para uma futura superioridade acionária da Shein sobre o grupo Sparc.
De todo modo, ganha o consumidor com soluções mais completas e ganham as empresas porque uma fortalece sua jornada de crescimento e a outra ganha luz num momento de ocaso, afirma Dario:
— Cabe apenas refletir sobre o desafio dessa associação, que é a fusão de culturas empresariais distintas e reputações em patamares tão diferentes. O entendimento do processo de governança e de quem dará as cartas no processo de inovação também será relevante — pondera.
E o Brasil nisso?
A aliança global entre duas gigantes joga pressão sobre o varejo brasileiro, que já vem questionando a concorrência desleal entre as lojas nacionais e as plataformas de cross border.
Segundo Jorge Gonçalves Filho, presidente do Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV), a parceria entre Shein e grupo Sparc não é necessariamente um problema, visto que a entidade é a favor da competição e da inovação. O que não pode ocorrer é a falta de isonomia nessa disputa:
— Pode ser que amanhã uma plataforma brasileira faça um acordo com uma plataforma internacional para vender aqui no Brasil. Não tem problema nenhum. Quanto mais competição, melhor a produtividade. O mercado fica mais agressivo e é bom para os consumidores. A única coisa que a gente não pode pode ser alguma admitir é não ter isonomia na competição — avalia.
A Dafiti, que surgiu em solo brasileiro em 2011, já é um exemplo de plataforma brasileira que compete nesse mercado. A fashiontech é a única que vende coleções da Forever21 nos seus canais on-line no Brasil e em breve trará a Mango, marca espanhola de fast fashion e rival da Zara, fazendo frente ao fenômeno Shein no e-commerce de moda.
O que o IDV espera daqui pra frente é que o governo seja mais rigoroso com relação às operações cross border. A entidade chegou a participar do desenho do programa Remessa Conforme, criado pela Receita Federal em julho para combater a sonegação de impostos em compras eletrônicas internacionais.
Segundo relatório de analistas do Itaú BBA, o acordo indica a relevância e importância das lojas físicas. “Isso, para nós, deve ser encarado como um impacto positivo líquido para as marcas de vestuário que cobrimos. Por outro lado, se a Shein fizer um acordo com uma empresa brasileira, isso definitivamente tornaria o ambiente competitivo mais desafiador para as outras marcas”, disseram.