FÓRUM NORDESTE 2023

Desafio mundial é reduzir a emissão dos gases de efeito estufa em curto espaço de tempo

É preciso minimizar os impactos das mudanças climáticas que já são sentidas em muitos países, inclusive no Brasil

Fontes não renováveis geram 85% da energia no mundo. No Brasil, esse percentual é de 52,6%

Seja para iluminar a casa, fazer o carro funcionar ou cozinhar alimentos, a energia está presente no dia a dia das pessoas em todo o mundo. Sua geração, no entanto, ainda depende principalmente de fontes não renováveis, como o carvão, o petróleo e o gás natural. Isso impacta negativamente no meio ambiente, não apenas pela sua extração da natureza, mas, principalmente, devido ao lançamento de gases poluentes na atmosfera produzidos por sua utilização ininterrupta e crescente por décadas.

Agora, o desafio mundial é reduzir a emissão dos gases de efeito estufa em curto espaço de tempo. É preciso minimizar os impactos das mudanças climáticas que já são sentidas em muitos países, inclusive no Brasil. Esta edição da Folha Energia não se dedica apenas a mostrar esses problemas. O objetivo é apontar soluções, ideias e projetos que indiquem um caminho para um futuro que una a geração limpa ao consumo consciente da energia.

De acordo com a pesquisa da Agência Internacional de Energia (AIE) realizada em 2020 e publicada em 2022, as fontes não renováveis representavam aproximadamente 85% da geração mundial. Destacavam-se o petróleo e derivados (29,5%), o carvão mineral (26,8%) e o gás natural (23,7%). Fontes renováveis como a solar, eólica e geotérmica correspondiam a apenas 2,5% da produção global. Com a participação da energia hidráulica (2,7%) e da biomassa (9,8%), as renováveis totalizavam 15%.

BRASIL EM DESTAQUE
o Brasil, quase metade da energia disponibilizada (47,4%) vem de fontes renováveis. A maior parte (52,6%), no entanto, ainda é produzida a partir de recursos que se esgotam na natureza, segundo o Balanço Energético Nacional 2023, ano-base 2022, divulgado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE). Em 2021, o percentual de renováveis era de 45%. Há 10 anos, em 2013, era de 40,6%.

Entre as renováveis destacam-se a biomassa da cana (15,4%), a hidráulica (12,5%), a lenha e o carvão vegetal (9%). A lixívia e outras renováveis representam 7%, a eólica 2,3% e a solar, 1,2%. No caso das não renováveis, os maiores percentuais estão com o petróleo e seus derivados (35,7%), o gás natural (10,5%) e o carvão mineral (4,6%). Entre as maiores economias do mundo, o Brasil se destaca como o país que tem a matriz energética geral mais renovável, de acordo com o presidente da Datagro, Plínio Nastari.

Entre as renováveis, a da cana-de-açúcar aparece como a energia de maior expressão. "A cana-de- -açúcar é um grande painel solar que absorve energia do sol, a transforma em biomassa, que é transformada em produtos que acabam tendo várias aplicações, tanto do ponto de vista alimentar quanto energético", pontua Nastari.

Segundo o especialista, a energia da cana se materializa na forma, basicamente, do etanol, com diferentes tipos e especificações, além da bioeletricidade, que é gerada com o bagaço, e da energia térmica, também produzida pelo bagaço. A contribuição da cana e dos seus energéticos derivados é enorme para o País e tende a se intensificar no futuro.

"O setor sucroenergético intensificou essa diversificação de produção a partir da década de 1970, inicialmente indo do açúcar para o etanol, e depois diversificou adicionalmente na direção da bioeletricidade. Mais recentemente na direção do etanol de segunda geração, da produção de biogás e biometano, e da produção de pellets de bagaço para a substituição do carvão mineral", comenta Plínio. 

EVOLUÇÃO
O presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool no Estado de Pernambuco (Sindaçúcar-PE) e presidente executivo da NovaBio (Associação de Produtores de Açúcar, Etanol e Bioenergia), Renato Cunha, destaca que o setor sucroenergético passou por uma evolução e, com isso, foi possível o aumento da gama de produtos que utilizam a cana.

"Utilizando a cana-de-açúcar através da sua fotossíntese e da biomassa que ela contém faz com que exista uma variedade de produtos, como a bioeletricidade, que é advinda da cogeração de energia, e também o biogás, biometano, para transporte mais limpo, até o metanol, para utilização no transporte marítimo. O transporte marítimo precisa ser olhado, a questão da mobilidade no mundo tem sido objeto de muitos estudos e de muitas implementações, mas na questão marítima é preciso avançar também", diz.

REDUÇÃO DO CARBONO
O Brasil pretende, até 2030, reduzir 43% da emissão de carbono em relação a 2005. A meta é neutralizar as emissões até 2050. De acordo com o Ministério de Minas e Energia, este ano foi lançado o programa de descarbonização da Amazônia "que pretende fazer uma transição da geração de energia elétrica a óleo diesel nos sistemas isolados da Amazônia para soluções limpas e renováveis, inclusive com armazenamento e interligação com redes elétricas", frisa Renato Cunha.

Com isso, o Governo Federal quer reduzir o consumo de combustíveis fósseis na geração de energia elétrica e, consequentemente, os custos e as emissões diretas de gases de efeito estufa, garantindo a segurança energética, melhorando a qualidade da oferta de energia, a geração de empregos e combatendo as ineficiências. A previsão é investir pelo menos R$ 5 bilhões nos próximos anos para transformar os 212 sistemas isolados da Amazônia, que são aqueles não conectados ao Sistema Interligado Nacional (SIN).

A atuação do programa também atentará para a qualidade e confiabilidade do fornecimento de energia elétrica para a população atendida. "O MME entende que a Amazônia pode ser um grande eixo da nossa transição energética, com inclusão e pro[1]movendo desenvolvimento sustentável da região", disse à Folha Energia o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira. Ele destaca que a participação das fontes fósseis no sistema nacional, considerada bastante inferior à média mundial, é utilizada devido à necessidade de garantia da segurança energética nos momentos de menor geração renovável, como no caso dos períodos de secas.

Ainda segundo o ministro, "um dos grandes desafios tem sido a dependência dos combustíveis fósseis para o suprimento de energia para o setor de transportes (45% do consumo do diesel e 27% de gasolina) e alguns segmentos industriais dependentes do carvão mineral e do gás natural. Mas, felizmente, o Brasil conta com uma abundância e diversidade de recursos energéticos que podem viabilizar essa transição energética para um perfil de baixo carbono mais rápido que o restante do mundo", afirma.

ESTRATÉGIA NO TRANSPORTE
No setor de transportes, a estratégia tem sido combinar biocombustíveis, como o etanol e o biodiesel, com as oportunidades de eletrificação. "Também estamos fomentando o desenvolvimento de um mercado para novos combustíveis de baixo carbono, como os combustíveis sustentáveis de aviação. Em nosso projeto Combustível do Futuro, que vamos encaminhar em breve ao Congresso Nacional, queremos criar um marco legal para impulsionar a mobilidade sustentável de baixo carbono, reduzindo as emissões de gases do efeito estufa com a integração das políticas públicas complementares como o próprio RenovaBio e o Rota 2030", anuncia o ministro.

Na indústria, o ministério está trabalhando para que o hidrogênio de baixo carbono (hidrogênio verde), a eletrificação, o biometano e a eficiência energética sejam as principais fontes de descarbonização. Segundo o MME, no primeiro trimestre de 2023, o Brasil bateu recorde de geração renovável, alcançando 94% de todo o consumo a partir da geração hidrelétrica, eólica, solar e biomassa.

"Um exemplo forte das políticas públicas é o Plano de Outorgas de Transmissão de Energia Elétrica (POTEE), anunciado pelo MME em maio deste ano, que determina como serão investidos R$ 56 bilhões em linhas de transmissão para escoamento de renováveis na região Nordeste, dobrando o ritmo de investimentos em relação aos anos passados", pontua o MME.

ENERGIA NAS COMUNIDADES
Por meio dos programas de universalização de energia elétrica, o MME pretende entregar energia limpa e renovável, principalmente solar, às comunidades quilombolas, ribeirinhas e indígenas. Quatorze kits de placas solares com baterias foram instalados nas comunidades Yanomami, numa parceria entre o MME, a Secretaria de Saúde Indígena (SESAI) e a Roraima Energia, para ajudar no transporte de equipamentos e das equipes de instalação até as comunidades.

Em 2023, a expectativa é que o Governo Federal acrescente 10 Gigawatts de renováveis no Sistema Interligado Nacional (SIN). "Trata-se do maior incremento anual de energias renováveis da história do nosso país. Além disso, cerca de R$ 100 bilhões estão previstos para inserção e desenvolvimento das fontes renováveis no nosso país ao longo dos próximos anos", disse o ministro.