Fake News

PF vê investigação sobre mensagens de empresários como elo entre Bolsonaro e milícias digitais

Investigadores consideram WhatsApp de ex-presidente fundamental para o desfecho do inquérito que apura a existência de um núcleo que produzia e espalhava fake news

Jair Bolsonaro - Isac Nóbrega/PR

A apreensão dos celulares de empresários apoiadores do então presidente Jair Bolsonaro, realizada em agosto de 2022, é avaliada por investigadores como peça-chave para o desfecho do inquérito das milícias digitais, aberto no Supremo Tribunal Federal (STF) em julho de 2021.

Mensagens de WhatsApp trocadas entre Bolsonaro e o fundador da construtora Tecnisa, Meyer Nigri, são apontadas como o elemento que faltava para a PF comprovar a principal hipótese criminal da investigação: a de que o próprio Bolsonaro era o difusor inicial de fake news contra as instituições e o processo eleitoral.

Com a análise das mensagens divulgadas nesta semana, a expectativa entre investigadores é que o “inquérito-mãe” das milícias digitais seja enfim concluído no próximo ano e aponte que o ex-presidente disseminava conteúdos falsos produzidos por um núcleo de pessoas próximas a ele, algumas delas com cargos no Palácio do Planalto — estrutura que ficou conhecida como “gabinete do ódio”.

Em uma das mensagens, Bolsonaro pediu a Nigri, em junho de 2022, para “repassar ao máximo” um texto que dizia, sem provas, que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) estava fraudando as eleições.

O empresário respondeu: “Já repassei pra vários grupos!”, segundo a investigação. Naquele momento, o então presidente, que tentava a reeleição, aparecia atrás de Luiz Inácio Lula da Silva nas pesquisas de intenção de voto.

Por decisão do relator do inquérito das milícias digitais, o ministro Alexandre de Moraes, a investigação sobre Nigri foi prorrogada. O advogado do empresário, Alberto Toron, afirmou que o empresário não disseminava mensagens “em massa” e que seu intuito era somente “fomentar a discussão”, sem necessariamente concordar com o conteúdo.

Já as apurações sobre outros seis alvos da busca e apreensão realizada um ano atrás foram arquivadas. Moraes entendeu que, no caso deles, “embora anuíssem com as notícias falsas, não passaram dos limites de manifestação interna no referido grupo, sem a exteriorização capaz de causar influência em terceiros como formadores de opinião”.

A busca e apreensão foi autorizada por Moraes, no ano passado, após o site Metrópoles revelar que os empresários enviavam mensagens de teor golpista em um grupo.

Algumas mensagens enviadas por Bolsonaro a seus contatos falavam em “sangue” e “guerra civil” caso ele perdesse a eleição, como o UOL noticiou. Numa delas, de junho de 2022, Bolsonaro enviou a Nigri um vídeo que mostra Moraes e uma pessoa desconhecida narrando um “esquema para fraudar as eleições”. O vídeo traz a mensagem: “A ESTRATÉGIA, O PODER, A QUALQUER CUSTO. O POVO TÁ ESPERTO. Compartilhem. PF precisa ver isso. TEREMOS SANGUE!!! GUERRA CIVIL”.

Na quarta-feira, o ex-presidente admitiu ao jornal “Folha de S.Paulo” que enviou as mensagens e buscou minimizar o caso:

— Eu mandei para o Meyer, qual o problema? O (ministro do STF e então presidente do TSE Luís Roberto) Barroso tinha falado no exterior (sobre a derrota da proposta do voto impresso na Câmara, em 2021). Eu sempre fui um defensor do voto impresso — disse Bolsonaro.