Wagner, Azov e G4S: conheça grupos mercenários envolvidos em guerras
Presidente russo, Vladimir Putin assinou um decreto nesta sexta-feira obrigando membros de milícias privadas locais a prestar juramento ao país
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, assinou um decreto, nesta sexta-feira, que obriga membros de grupos paramilitares a prestar juramento à Rússia, como fazem os soldados regulares do Exército. A medida foi oficializada dois dias depois da morte do chefe do Grupo Wagner, Yevgeny Prigojin, em um acidente aéreo. A ideia de Putin seria solucionar por via legal um dos problemas estruturais estudados há séculos pelas ciências militares e políticas, que é a fidelidade de tropas mercenárias.
Muito comum em diversos pontos do mundo, esses grupos, ao contrário das Forças Armadas de um país, não estão condicionados a nenhuma hierarquia ou cadeia de comando, combatendo apenas com intuito de obter remuneração. O GLOBO listou os principais grupos europeus envolvidos em grandes conflitos ao redor do mundo.
Wagner
O exército privado de mercenários que luta a favor da Rússia na atual guerra com a Ucrânia foi fundado em 2014. Inicialmente, era formado por ex-soldados de elite altamente qualificados, tendo Yevgeny Prigojin, ligado ao Kremlin, como principal liderança.
Apesar disso, a relação entre o governo e o grupo andava abalada: em junho, o Wagner organizou um motim contra o Exército russo, que durou menos de 24 horas. Prigojin acabou sendo exilado na Bielorrússia e, desde então, não era mais visto no país, até ser constatado que ele era uma das vítimas da queda um avião na região de Tver, perto da aldeia de Kuzhenkino, na Rússia.
Segundo uma investigação da BBC, um ex-oficial do Exército russo veterano das guerras na Chechênia, Dmitri Utkin, de 51 anos, esteve envolvido na fundação do grupo, cujo nome seria originado de seu próprio nome de guerra no Exército. Ele seria tenente-coronel da GRU, a agência de inteligência militar da Rússia. Dmitri também estaria a bordo da aeronave que caiu nesta quarta.
Uma das primeiras missões que realizou foi na Península da Crimeia, região ucraniana anexada unilateralmente pela Rússia em 2014. Lá, mercenários com uniformes sem identificação ajudaram forças separatistas apoiadas pela Rússia a tomar a região.
A empresa paramilitar chegou a ser alvo de sanções dos Estados Unidos, Reino Unido e União Europeia (UE). Mercenários do grupo também participaram da revolta de separatistas pró-Rússia no leste da Ucrânia, deflagrada também em 2014.
Azov
Milícia ucraniana de extrema direita, o Batalhão Azov foi responsável por dar treinamentos a civis para lutar contra a Rússia a partir do momento em que o país vizinho deu início às invasões, em fevereiro do ano passado. Em uma floresta nos arredores de Kiev, grupo de civis ucranianos foram instruídos, por exemplo, sobre como poderiam cavar abrigos na neve para fugir de eventuais ataques inimigos — que viriam a se concretizar.
Já com a guerra iniciada, a Suprema Corte da Rússia classificou o Batalhão Azov — que, àquela altura, havia ganhado fama por ter defendido a cidade portuária de Mariupol — como uma "organização terrorista".
Unidade criada em 2014 por voluntários e posteriormente integrada à Guarda Nacional ucraniana, o batalhão foi central na defesa de Mariupol, no Sudeste da Ucrânia, ocupada pela Rússia após um cerco que durou vários meses.
Blackwater/Academi
Em 1997, Erik Prince fundou uma famosa empresa de soldados chamada Blackwater (ou Academi). O grupo foi financiado pelo Estado americano, durante muitos anos, até ser responsabilizado, em 2007, por um massacre no Iraque. Prince, contudo, manteve-se uma personalidade influente na política americana.
A sua irmã, Betsy DeVos, foi secretária da Educação durante o governo de Donald Trump, tendo-se notabilizado, entre outras ações, por propor a livre circulação de armas nas escolas, de forma a que professores e alunos se pudessem proteger dos “ataques de ursos”.
Em abril de 2020, segundo o The Intercept, Erik Prince ofereceu os seus serviços a Yevgeny Prigojin, propondo-se apoiar os mercenários do grupo Wagner nas suas ações na Líbia e em Moçambique.
G4S
Classificada como maior empresa de segurança privada do mundo em 2016, segundo o The Guardian, a G4S deu início à sua trajetória ascendente pouco após o atentado contra as Torres Gêmeas, em Nova York, quando a chamada “Guerra ao Terror” foi iniciada.
Segundo John Hilary, diretor executivo da ONG War on Want, o aumento no número de empresas militares e de segurança privadas, com contratos milionários com o governo, sinalizava o regresso da era dos “cães de guerra” (ou mercenários), impulsionados por conflitos como a invasão do Afeganistão e do Iraque.
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De acordo com relatórios aos quais o Guardian teve acesso, assim como a G4S, outras 14 empresas estão sediadas próximo à sede da SAS (a força aérea britânica), de onde pelo menos 46 empresas contratam recrutas.
Erinys
Outra empresa que chegou a ser financiada pelo governo americano (segundo a Business Insider), a Erinys foi mais uma organização a atuar no Iraque. Foram mais de 16 mil agentes enviados para o campo de batalha em 282 pontos do país, com intuito de proteger oleodutos e outros “ativos energéticos”.
O grupo também tem atuação em países da África, onde tradicionalmente concentra suas operações. A Erinys também chegou a ter, por exemplo, dois contratos com o governo da República do Congo para a segurança em grandes projetos de exploração de minério de ferro e petróleo e gás no país.