Relações internacionais

Ampliação dos Brics e promessa de parcerias: veja 3 pontos da viagem de Lula pela África

Agenda de sete dias por três países do continente rendeu de acordos para cooperação econômica a posicionamentos sobre a ordem internacional

Presidente Lula em São Tomé e Príncipe - Ricardo Stuckert

Após uma rápida passagem por Cabo Verde no mês passado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cumpriu uma agenda robusta no continente africano nesta semana, em um primeiro passo de reaproximação do Brasil com a região. Em sete dias de viagem, Lula esteve na África do Sul, em Angola e em São Tomé e Príncipe para participar de reuniões de cúpula e de encontros bilaterais, onde pregou o aprofundamento das relações entre países do Sul Global, assinou acordos de cooperação e defendeu o fortalecimento do multilateralismo e a reforma de estruturas do sistema internacional.

Expansão do Brics

A gira do presidente pelo continente começou na África do Sul, que recebeu a Cúpula do Brics. O encontro, que reuniu algumas das principais lideranças da política mundial, como o presidente chinês, Xi Jinping, e o premier indiano, Narendra Modi, ficou marcado fundamentalmente pela ampliação do bloco, com as inclusões de Arábia Saudita, Argentina, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Irã. O crescimento, ao mesmo tempo em que projeta geografica e economicamente o grupo e atende a interesses dos países originais do Brics, cria uma série de desafios geopolíticos com o Ocidente, que questiona muitos dos novos aliados nos campos democrático, de direitos humanos e até mesmo militar.

Embora houvesse, inicialmente, resistência à ampliação no governo brasileiro, Lula comemorou publicamente a entrada dos novos países. Na quinta-feira, quando a inclusão dos seis novos sócios foi confirmada, o presidente destacou o fato do grupo chegar a 36,7% do PIB de paridade de compra (indicador superior ao do G7), apontando a força conjunta como uma vitória dos emergentes.

Críticas à ordem internacional

O tom crítico às estruturas vigentes da ordem internacional acompanharam Lula em boa parte de seus pronunciamentos. Tanto em Johannesburgo quanto em Luanda, o presidente criticou a organização do Conselho de Segurança da ONU, sobretudo a distribuição de cadeiras e a representatividade de países. Também questionou a "mentalidade de guerra fria" e os alinhamentos automáticos em matéria de relações exteriores, sem nominar o país ou bloco que está fomentando esse pensamento.

"Éramos chamados de terceiro mundo. Agora somos Sul Global. É um passo importante porque o mundo está mudando. A geopolítica começa a mudar e a gente ganha consciência que os países em desenvolvimento precisam se organizar. Queremos garantias que seremos tratados em igualdade de condições", escreveu o presidente em uma publicação nas redes sociais após o anúncio dos novos sócios do Brics.

Acordos fechados e promessas de investimento

A ampliação do Brics e o anúncio de que o bloco vai estudar a fundo o uso de moedas locais nas negociações entre países-parceiros não foram os únicos resultados práticos da visita presidencial. Uma série de acordos de cooperação, com possíveis impactos econômicos foram assinados em Angola e em São Tomé e Príncipe. Em Luanda, o governo brasileiro fechou 25 acordos de cooperação para desenvolvimento agrícola, além de atos de cooperação em áreas como saúde, educação, empreendedorismo e comércio exterior.

Em São Tomé, durante a XIV Cúpula dos Chefes de Estado e de Governo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), Lula disse que o Brasil vai se engajar na ampliação e no aprofundamento de atividades nas áreas de segurança alimentar, saúde, meio ambiente e igualdade de gênero. Paralelamente à reunião, Brasil e São Tomé e Príncipe assinaram dois acordos de cooperação: um em investimentos e outro entre o Instituto Rio Branco e o governo do país africano para formação, treinamento e capacitação diplomática.