JUSTIÇA

Caso Padre Airton Freire: acusação vai pedir revogação da prisão domiciliar do religioso

Segundo acusação, a saúde de Freire permite prisão preventiva

Padre Airton Freire - Divulgação

A assistência de acusação do Padre Airton Freire, de 67 anos, afirmou, na manhã desta segunda-feira (28), que vai pedir a revogação da prisão domiciliar do religioso, que foi concedida na última quinta (24).

O advogado Rafael Nunes, que assumiu a acusação recentemente, se pronunciou pela primeira vez, durante coletiva de imprensa. Ele alega que Freire tem condições de passar pela prisão preventiva, mesmo ante os problemas de saúde que vem enfrentando.

A decisão foi concedida pelo Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE), ao analisar um pedido de habeas corpus dos advogados do padre. Na visão de Rafael Nunes, a expedição não foi acertada e nem existe motivação para isso.

Rafael Nunes (primeiro, da esquerda para a direita), assistente de acusação do caso Padre Aírton Freire | Foto: Arthur Mota/Folha de Pernambuco

"Tenho a certeza de que o juiz não iria decretar uma prisão preventiva se não existisse elementos para isso. Então, quero deixar claro que não se trata de uma acusação isolada. O padre não está solto, o padre está preso. Está preso em um lugar errado. A justiça reconheceu o direito de uma prisão domiciliar. Na nossa visão, não acertou, o Judiciário errou e errou feio. Ele [o padre] tem total condições de estar preso", ressaltou.

Desde que começou o imbróglio dos processos, o padre Airton passou por procedimentos cirúrgicos, como a troca da válvula aórtica, na qual teve complicações, no último dia 14. Ele também passou pela implantação de um marca-passo, no dia 20.

De acordo com o representante da acusação, após ter passado por essas cirurgias, o religioso poderia ter voltado à prisão preventiva após as operações.

"Ele teve a oportunidade de fazer uma cirurgia, fez a cirurgia e já poderia ir diretamente ao presídio, e o sistema prisional tem que ter total condição de ter o seu setor ambulatorial, as enfermarias. Se for necessário socorrer, devido a uma piora, socorre. Ele se operou e depois foi para um verdadeiro hotel cinco estrelas, que é a casa dele", pontuou.

Ainda segundo a acusação, quatro inquéritos e dois processos contra o padre estão em andamento. Seis pessoas acusam Freire de crimes sexuais. Os mais conhecidos são os da stylist Sílvia Tavares de Souza e de um homem de 38 anos, que não teve o nome divulgado. Ele ainda trabalha na Fundação Terra, que era comandada pelo padre Airton, mas está afastado por questões psicológicas. Esse homem também trabalhou num abrigo de idosos e depois tirou férias de um motoqueiro da instituição.

De acordo com o escritório de Rafael, Sílvia conheceu o religioso em 2020, no Pátio de Santa Cruz, na área central do Recife, em um evento conduzido pelo padre. Ela precisava de apoio espiritual por estar enfrentando uma luta contra um coágulo no cérebro. Depois dessa ocasião, ela o procurou em uma fazenda, em Arcoverde, no Sertão, onde funciona o retiro espiritual da Fundação Terra.

Sempre bem recebida pelo padre, segundo Rafael Nunes, ela o chamava carinhosamente de Meu Padrinho. Ele, de Minha Princesa. Em abril do ano seguinte, ela "alcançou o milagre da cura do coágulo", e continuou frequentando a Fundação Terra com amigos e o marido.

Advogado desabafa sobre o homem desconhecido
O processo contra o padre Airton Freire corre em segredo de justiça. Ao ser questionado sobre mais informações sobre o homem que teria sido vítima dele, Nunes desabafa.

"Eu pontuaria, sem problema nenhum, o que ele me falou. Eu vou relevar para vocês [jornalistas], eu não consegui dormir. No dia que ele me contou a violência que sofreu, da forma que aconteceu, é uma coisa terrível. A questão dele ainda está em fase de investigação", explicou.

Sílvia teria cometido homicídios?
A defesa do Padre Aírton Freire acusou, na semana passada, Sílvia Tavares de ter apagado mensagens comprometedoras enviadas a uma amiga, nas quais haveria confissões de que ela teria feito em relação a cinco homicídios. Rafael Nunes diz que esta é uma forma de descredibilizar a palavra das possíveis vítimas do caso.

"Isso não faz qualquer sentido. Sílvia teve coragem de fazer a denúncia e estão querendo inverter os papéis. Estão querendo colocar a Sílvia num lugar que ela não deve ocupar. Ela é a vítima. Vocês acreditam nessa questão de homicídio? Será que a Sílvia estaria solta? Será mesmo que, se isso tivesse algum sentido, ela não estaria presa? Claro que sim. Isso é uma tentativa de deixá-la fraca, de descredibilizá-la e desencorajar outras vítimas", disse.

O assistente diz que Sílvia usou um direito chamado de Animus Jocandi, que é um termo jurídico para quando uma pessoa utiliza um termos ofensivos, mas com tom de brincadeira, quando falou sobre os homicídios.

"Às vezes, a gente brinca. Isso não tem contexto nenhum com o caso do padre. Nem inquérito foi instaurado. Não faz qualquer sentido. Isso é uma tentativa de desencorajar e desestabilizar Sílvia, que fez a denúncia", acredita.

Um telefone especial foi disponibilizado para quem tiver algo a denunciar acerca do caso do padre Airton Freire, que é o (81) 9. 9488-7082.

Relembre o caso
O Padre Airton Freire foi denunciado, em maio deste ano, pela personal stylist Sílvia Tavares. Ela veio a público dizer que havia sido estuprada pelo motorista do religioso, Jailson Leonardo da Sílva, de 46 anos, a mando do próprio padre que, de acordo com ela, se masturbada vendo a prática abusiva. O crime teria acontecido em agosto do ano passado, eu uma área da Fundação Terra.

Em junho, o religioso deixou o comando da Fundação Terra, que foi fundada por ele, dando lugar à médica Ana Flávia Bretas de Vasconcellos, que tomou posse no dia 15 desde mês.

No último dia 7, foi noticiado que, além do padre, o motorista Jailson Leonardo da Silva e o responsável pelas gravações da Fundação Terra, Landelino Rodrigues da Costa Filho, tornaram-se réus na Justiça pela prática de crimes sexuais
 

O que diz a defesa do padre Aírton Freire?
O escritório que faz a defeza do padre Aírton Freire foi procurado pela reportagem e disse que não vai comentar sobre o assunto.