Todo-poderoso do J-pop era um predador sexual, revela investigação
Kitagawa praticou abuso sexual de jovens que esperavam fazer carreira no pop japonês
Johnny Kitagawa, fundador de uma agência que dirigiu as carreiras de estrelas do pop japonês desde o início dos anos 1960, agrediu sexualmente jovens novatos da cena musical japonesa durante décadas, de acordo com testemunhos de vítimas colhidos por investigadores, cujo relatório foi publicado nesta terça-feira (29).
A agência Johnny and Associates, que desde sua fundação no início dos anos 1960 por Kitagawa dominou a indústria do entretenimento no Japão, tem a seu crédito o surgimento de bandas famosas como SMAP, TOKIO e Arashi, imensamente populares em toda a Ásia.
Kitagawa faleceu em 2019, aos 87 anos. Durante décadas, foi alvo de rumores sobre abuso sexual de jovens que esperavam fazer carreira no pop japonês.
A agência contratou uma comissão composta por um advogado, um psiquiatra e um psicólogo para investigar as denúncias de abuso sexual. Também recomendou que a atual presidente, Julie Fujishima, sobrinha de Kitagawa, renunciasse ao cargo, pois ela estava ciente das acusações há muito tempo, mas "não fez nenhuma investigação".
O relatório da comissão cita descrições precisas de abuso sexual recolhidas durante entrevistas com 41 supostas vítimas de agressão e testemunhos de funcionários da agência. Segundo a investigação, as agressões sexuais contra jovens talentos podem remontar à década de 1950, antes mesmo da fundação da agência.
A polêmica surgiu após a transmissão, em 2023, de um documentário na emissora de televisão pública britânica, a BBC. Muitas vítimas descreveram os atos sexuais, aos quais foram submetidas, e os traumas psicológicos decorrentes das agressões, incluindo a impressão de se sentirem "manchadas".
As denúncias de abuso apareceram na imprensa japonesa em 1999, e Kitagawa iniciou, com sucesso, um processo por difamação. O veredito foi parcialmente anulado após recurso, e ele nunca foi acusado.
"A substituição da atual presidente é indispensável para que a agência se reforme e recomece do zero”, estimou o painel de investigadores.