Principal rival republicano de Trump enfrenta crise por chacina de negros e furacão na Flórida
Emergência natural e crime de ódio motivado por raça interromperam campanha presidencial de Ron DeSantis e expôs vulnerabilidades na gestão estadual do pré-candidato
Principal rival de Donald Trump nas Primárias do Partido Republicano, Ron DeSantis enfrenta a maior crise em seu estado natal desde que anunciou sua pré-candidatura à Presidência dos EUA. DeSantis, que faz campanha apesar de ainda ocupar o governo da Flórida, precisou cancelar agendas nacionais após uma chacina motivada por racismo e a confirmação de que o furacão Idália ganhou intensidade e atingirá o estado nas próximas horas.
A crise dupla representa o teste mais sério à liderança de DeSantis desde que começou a concorrer à presidência, em maio. Embora frequentemente cite seu histórico como governador como sua maior vantagem sobre seus rivais, tanto o ataque armado quanto a emergência climática podem destacar ainda mais as críticas que os opositores fizeram à administração da Flórida.
Quando o Legislativo da Flórida aprovou uma lei, em abril, permitindo que o governador não renunciasse ao cargo para fazer campanha à Presidência, questionamentos sobre possíveis incompatibilidades com a função de chefe do Executivo foram ignorados por aliados de DeSantis — mas agora voltam à mesa. Pressionado, DeSantis afirmou, no centro de emergências montado em Tallahassee na segunda-feira, que o "foco total" estava no estado — embora tenha enviado sua esposa, Casey DeSantis, para representá-lo em um compromisso eleitoral na Carolina do Sul.
O candidato-governador fazia campanha em Iowa, no sábado, quando um homem branco matou três pessoas negras a tiros, em uma loja em Jacksonville. DeSantis retornou ao estado após o crime, mas foi vaiado quando apareceu em uma vigília pelas vítimas, no domingo, por parte de uma comunidade negra que se opõe a ele por uma série de questões relacionadas à raça durante seu mandato, incluindo a forma como a história afro-americana é ensinada em escolas.
Depois que a multidão em Jacksonville vaiou DeSantis quando ele tentou falar, uma vereadora interveio e pediu às pessoas que o ouvissem. Ele foi vaiado novamente quando terminou. Na segunda-feira, o governador anunciou que destinaria US$ 1 milhão (R$ 4,8 milhões) por meio da Volunteer Florida Foundation para reforçar a segurança do campus da Edward Waters University, a universidade historicamente negra perto da loja Dollar General que o atirador atacou. Ele também disse que a fundação doaria US$ 100 mil (R$ 486 mil) às famílias das vítimas.
As medidas foram criticadas por opositores. A deputada estadual democrata Angie Nixon, que representa Jacksonville, chamou a chacina de “um lembrete gritante das consequências perigosas do racismo desenfreado” e criticou DeSantis por “gestos vazios” e “golpes publicitários”.
— Nossas instituições historicamente negras enfrentaram uma batalha difícil durante décadas, e convido DeSantis a analisar solicitações de orçamento não atendidas e vetos a itens individuais para começar a fornecer o financiamento de que precisam há anos. É terrível que seja necessário um assassinato para ele cavar seus cofres transbordantes em busca de apoio — disse ela.
Furacão e vulnerabilidades
Além da pauta racial, a aproximação do furacão Idália também pressiona DeSantis ao expor vulnerabilidades da administração estadual — embora, tradicionalmente, os fenômenos naturais na Flórida costumem oferecer uma oportunidade para os governadores demonstrarem a sua força e liderança.
Em parte devido às condições meteorológicas extremas, os proprietários de casas na Florida viram os custos de seguros de propriedade aumentar mais do que os de qualquer outro estado desde 2015, com algumas grandes seguradoras abandonando o mercado local. DeSantis chegou a convocar uma sessão legislativa especial para tratar do seguro de propriedade no ano passado, mas alertou que consertar o mercado conturbado levaria tempo.
A questão alimenta críticas de rivais do próprio partido. No mês passado, Trump pediu ao governador que abandonasse a campanha e “voltasse para casa e cuidasse dos seguros”.
Outras incoerências são apontadas sobre DeSantis. Apesar de criticar o presidente Joe Biden por sua resposta aos incêndios florestais que devastaram a ilha de Maui, no Havaí, o próprio governador é acusado de não ter visitado Fort Lauderdale, que tem forte tendência democrata, depois de enchentes devastadoras.
No ano passado, quando o furacão Ian matou 150 pessoas na Flórida, tornando-se o furacão mais mortal do estado em décadas, levantaram-se questões sobre o porquê de as autoridades locais não terem emitido ordens de evacuação com antecedência.
Momento inoportuno
As crises chegam em um momento indesejável para DeSantis, que precisou se afastar da campanha presidencial em um momento em que ela parecia se estabilizar após uma série de demissões dentro de sua equipe.
O desempenho no primeiro debate primário republicano na semana passada, em Milwaukee, ao qual Trump não compareceu, também foi considerado positivo. A campanha de DeSantis disse que arrecadou mais de US$ 1 milhão no dia seguinte, e uma pesquisa instantânea entre eleitores republicanos realizada pelo Washington Post, FiveThirtyEight e Ipsos o declarou o vencedor.
Um porta-voz da campanha de DeSantis disse que a resposta do governador à chacina e ao furacão Idália demonstrou “a forte liderança em tempos de crise que os americanos podem esperar do presidente DeSantis”.
"Diante da tragédia em Jacksonville e do grande furacão iminente, Ron DeSantis está focado em liderar o seu estado nestes momentos desafiadores" disse Bryan Griffin, secretário de imprensa da campanha, num comunicado. “Ele está agora no comando da resposta ao furacão na Flórida e está trabalhando com autoridades locais em todo o estado para fazer tudo o que for necessário para garantir que a Flórida esteja totalmente preparada.”