Martins, "Interessante e Obsceno" para além de uma (simples) escuta
Segundo disco do cantor e compositor pernambucano está disponível nas plataformas digitais
O quão interessante e obsceno pode ser o amor? Seja compartilhado entre duas peles, entre muitos aconchegos ou consigo mesmo, desde que tomado por levezas (necessárias) e intensidades (arrebatadoras). O quão?
A resposta, o cantor e compositor Martins, 33, traz no decorrer das 12 faixas que compõem o seu segundo disco, que não por acaso é "Interessante e Obsceno" (Deck) - lançado recentemente nas plataformas digitais de música, sob a estampa de uma capa que o exalta em nudez, de corpo e de alma.
E como bem disse Zélia Duncan em texto de apresentação do álbum, o artista pernambucano "É o espelho dos seus olhares para o que faz, de como a música parece lhe servir e, dessa maneira, chega até nós".
E de fato, chegou, mesclado por uma já conhecida voz, engenhosamente adocicada em meio a uma produção irrefutável de Rafael Ramos e algumas valiosas parcerias.
Um despudorado "só vem"
Por falar em sons e brados, "Tua Voz" abre o disco. Música aliás que veio como primeiro single, em julho, como 'start' estratégico em letra e melodia que forçosamente direcionam a um 'repeat'. Uma vez que, para além da escuta, é de bom tom sentir e querer "amor no beijo, desejo mais sincero", porque menos do que isso…
Até que na sequência vem o "fogo em demasia e a lenha para queimar" com um despudorado chamado "só vem". Martins tem "lábios de sorrir" ou "sorriso dentro da voz", como atestou Zélia.
"Não Duvido", portanto, faixa assinada em parceria com a unanimidade chamada Juliano Holanda, é provocativa e suingada, e em tom de um samba-rock leva quase a uma queda livre de arroubo, até que vem o amortecer da delicadeza de "Tá Tudo Bem", composição de Igor de Carvalho e Juliano agraciada em voz de Martins, que funciona (e bem) como alento, em consenso com letra que atesta sobre estar feliz, refeito e sob entendimento de que o tempo passa - e cura, talvez.
O tanto quanto amena, "Deixe" - faixa que vem em completude instrumental de baixo, percussão, trompete, flauta e viola, entre outros - é também parceria com Juliano Holanda, e figura quase como uma oração cantarolada para um início de dia ou um reforçar para seu decorrer, com o desejo de que "tudo que há num corpo se revele, para que a vida cicatrize todo trauma e "(...) a mão do tempo aos poucos lhe modele".
Versão para música de Jorge Aragão
E ainda na vibe do canto que encanta, a faixa-título, "Interessante e Obsceno", uma das muitas autorais de Martins, ressoa como mensageira sobre o 'não esperar do amor o que nos faz pequenos'.
Já em "Eu e Você Sempre", Martins assina em voz e violão versão personalizada para longe do samba de Jorge Aragão, com Alberto Continentino no baixo - este, aliás, estampa o decorrer de quase todas as faixas do disco, no comando do instrumento, inclusive na seguinte "Tem Problema Não", que tempera uma relação de amor entre São Paulo e Recife, Avenida Paulista e Praça do Arsenal, entre o próprio autor e…
"Deixa Rolar" e "Arrepia", esta última ainda com Juliano Holanda, é sequência que incita o balancê do corpo, não sem estimular também em letra que 'quando encosta a boca arrepia os pelos', sob o batuque de Kainã do Jêje, dono da percussão em quase todo o álbum, que segue tomado pela sutileza de "Nu", composição de Martins e Juliano, dueto que volta e se soma a Marcello Rangel e PC Silva na derradeira e quase um "Reverbo", "Voltar Pra Si". Antes, contudo, "Céu da Boca" esbanja um Martins novamente tão interessante quanto obsceno, desejoso por um amor em nudez, "Quando tudo foge do normal".
O quão interessante e obsceno, afinal, pode ser o amor? O de Martins - e de quem o desfruta como compositor - pode ser de todas as maneiras.
Serviço
"Interessante e Obsceno" (Deck), disco de Martins
Disponível nas plataformas digitais