Entrevista

No Recife com peça teatral, Vera Fischer fala sobre chegar aos 71 anos: "Fico cada vez melhor"

Atriz apresenta o espetáculo "Quando Eu For Mãe Quero Amar Desse Jeito" no Teatro do Parque

Vera Fischer - Carlos Costa/Divulgação

Já faz um tempo que o público não vê o rosto de Vera Fischer em um trabalho inédito na televisão. Isso não quer dizer, no entanto, que a eterna Helena de "Laços de Família" esteja parada. Aos 71 anos e longe das novelas desde 2018, a atriz esbanja vitalidade nos palcos em “Quando Eu For Mãe Quero Amar Desse Jeito”.

Com a peça teatral, que estreou em fevereiro de 2022, Vera tem percorrido o Brasil em apresentações sempre com casa cheia. Agora, é a vez dos espectadores pernambucanos matarem a saudade de ver a atriz em cena. O espetáculo cumpre temporada de hoje a domingo, no Teatro do Parque.

Dirigida por Tadeu Aguiar e escrita por Eduardo Bakr, a bem-humorada montagem traz Vera no papel da aristocrática Dulce Carmona, uma mãe controladora e elitista. Ao descobrir que seu único filho, Lauro (Rafael Sardão), vai se casar com uma mulher que ela não conhece (Marta Paret), a septuagenária declara guerra à futura nora. 
 

“A relação de Dona Carmona com o filho é tão surreal e doentia que o resultado é uma comédia. Acho que isso resume bem o que acontece no palco. Estamos encenando um relacionamento distorcido e muito tóxico. É uma peça divertida, muito ácida e que faz pensar sobre como estabelecemos nossas relações de afeto”, explica a atriz, em entrevista à Folha de Pernambuco

Na trama, a principal preocupação da socialite defendida por Vera é manter a imagem de sua família. Sua maior obsessão é dar ao filho um futuro condizente com a classe social a qual eles pertencem. Para que isso ocorra, ela não se furta de atormentar a todos. “Construí uma personagem cruel e que não se abala com regras sociais ou de comportamento. Ela é venenosa, desleal e bem transtornada. Estou amando fazer essa cobra”, brinca.

Comemorando 55 anos de carreira, Vera conta que não parou de trabalhar nem mesmo durante a pandemia de Covid-19. “Tudo é palco. Aprendi que ele existe também em outros ambientes, inclusive no virtual. Quanto a estar fisicamente nos teatros lotados, tem sido maravilhoso”, celebra. 

Eleita Miss Brasil em 1969, a atriz e ex-modelo ficou marcada no imaginário brasileiro como um “sex symbol”. Até hoje, as publicações que ela faz nas redes sociais rendem inúmeros elogios a sua beleza. No entanto, a diva afirma que nunca permitiu que as cobranças estéticas se tornassem um fardo. “Faço o que quero. Quem disse que eu tenho que estar sempre bela? Os que acham que eu preciso estar produzida o tempo todo, vão se decepcionar, pois eu continuo indo ao mercado de camiseta, short e chiquinha no cabelo”, defende.

Sem tabus na hora de falar sobre a idade, Vera manda um recado para quem subestima sua vivacidade. “É preciso falar sobre etarismo e combater a estupidez de alguns. Os tempos mudaram e essa gente ultrapassada tem que ser silenciada. Tempo é garantia de evolução e eu fico cada vez melhor enquanto ele passa”, diz.

Para a artista catarinense, envelhecer é inevitável, mas ela segue cuidando da saúde e tendo uma vida produtiva. “O tempo passa e ponto. Não sou assombrada por ele. O etarismo sempre esteve e está por aí, escancarado nas bocas dos antiquados, na vida dos cafonas. E ele é muito mais cruel com as mulheres. Uma das inúmeras vantagens de chegar aos 71 é não ter mais idade para aguentar gente que insiste em ser relógio estragado parado no tempo”, dispara.

Confira a entrevista com Vera Fischer:

Como mãe, você consegue compreender em alguma medida as atitudes da Dulce? 
A relação de Dona Carmona com o filho é tão surreal e doentia que o resultado é uma comédia. Acho que isso resume bem o que acontece no palco. Estamos encenando um relacionamento distorcido e muito tóxico. É uma peça divertida, muito ácida e que faz pensar sobre como estabelecemos nossas relações de afeto. Construí uma personagem cruel e que não se abala com regras sociais ou de comportamento. Ela é venenosa, desleal e bem transtornada. Estou amando fazer essa cobra.

É possível identificar muitas Dulces na nossa sociedade? O quanto você acha que a peça se conecta com a realidade brasileira?
Veneno e loucura são sempre um bom insumo. Exemplos na vida para a construção da personagem não estão faltando atualmente.

O que o retorno aos palcos trouxe para você, não somente do ponto de vista profissional, mas também pessoalmente?
Não parei de trabalhar nem durante a pandemia. Tudo é palco! Aprendi que ele existe também em outros ambientes, inclusive no virtual. Quanto a estar fisicamente nos teatros lotados, tem sido maravilhoso!

Qual é a sua relação com Pernambuco? Quais lembranças guarda do estado?
Eu amo Pernambuco! Platéia calorosa e presente. Estou ansiosa pra estar com vocês.

Você pretende aproveitar o período no Recife para curtir um pouco da cidade? Quais são os seus planos?
Queria muito ter tempo para ficar e aproveitar mas estamos no meio da turnê e com a agenda lotada. Vou voltar em outro momento pra descansar e aproveitar.

Você foi e continua sendo um símbolo de beleza para os brasileiros. Lidar com isso já representou um fardo para você?
Eu não permito que as cobranças sejam um fardo. Faço o que quero! Quem disse que eu tenho que estar sempre bela? Os que acham que eu preciso estar produzida o tempo todo, vão se decepcionar pois eu continuo indo ao mercado de camiseta e short e chiquinha no cabelo.

Os fãs, com certeza, sentem a sua falta nas novelas. Você também sente saudades de fazer televisão? O que faria você aceitar voltar à telinha?
Uma ótima personagem e uma ótima proposta.

Enfrentando o etarismo da nossa sociedade, você costuma falar sobre sua idade sem receios. Quais são as vantagens de chegar aos 71 anos?
Todas as vantagens mas e muitas dificuldades também. É preciso falar sobre etarismo e combater a estupidez de alguns. Os tempos mudaram e essa gente ultrapassada tem que ser silenciada. Tempo é garantia de evolução e eu fico cada vez melhor enquanto ele passa. Cuido da minha saúde e acho muito importante! Envelhecer é inevitável. Eu trabalho muito, tenho uma vida produtiva, uma carreira de sucesso e muita coisa pra fazer ainda. O tempo passa e ponto! Não sou assombrada por ele. O etarismo sempre esteve e está por aí, escancarado nas bocas dos antiquados, na vida dos cafonas. E ele é muito mais cruel com as mulheres. Mas sabe de uma coisa... também tá por aí uma nova geração, que cresceu ouvindo que preconceito é burrice. Que usa as redes sociais, que denuncia, que sabe que pode e deve escolher o caminho que quiser. Uma das inúmeras vantagens de chegar aos 71 é não ter mais idade pra aguentar gente que insiste em ser relógio estragado parado no tempo.